Brasil

Inércia da reitoria teria atrasado obra

Professores afirmam que faltou dinheiro para reforma dos laboratórios. Reitoria fica em silêncio

postado em 23/11/2009 09:11

O reitor da Universidade Federal de Pelotas, Antônio Cezar Borges, silenciou sobre as denúncias e os fatos apresentados pelo Correio, todos eles registrados em fotos, vídeos, gravações de reuniões e depoimentos de professores e de alunos. O reitor também silenciou quando o blog amigosdepelotas.com veiculou as primeiras denúncias sobre irregularidades nos laboratórios, em abril deste ano. Mas as reuniões e os ofícios internos da Ufpel revelam a posição dos professores sobre a atuação da reitoria. Eles afirmam que faltam vontade política e dinheiro para as obras. Informam que os problemas são antigos, mas não são enfrentados por causa da inércia da administração da universidade. No laboratório de biologia, restos de produtos químicos são jogados na piaNo ofício 41, de 2 de setembro, encaminhado aos coordenadores de curso, os diretores, chefes de departamentos e coordenadores relatam a gravidade da situação: ;A partir da denúncia (dos alunos), a reitoria mostrou-se prontamente disposta a resolver a situação, exigindo mudanças em um curto intervalo de tempo. No entanto, desde a interdição dos laboratórios, não se percebe mais o mesmo ímpeto por parte do nosso órgão maior da administração da universidade para a concretização das obras;. [SAIBAMAIS] A reforma dos laboratórios interditados já dura cinco mesesEles informam as decisões que tomaram: ;As aulas teóricas de todas as disciplinas serão ministradas normalmente durante as três primeiras semanas do semestre em curso. A partir daí, porém, visto que a quantidade de aulas práticas perdidas pelos alunos seria suficiente para prejudicar a sua formação, todas as disciplinas ofertadas com alguma carga horária de aulas práticas serão canceladas e reorganizadas apenas quando os laboratórios tiverem condições de funcionamento;. Em ofício encaminhado ao reitor, os professores atingidos pelas interdições avisam que seria ;improdutivo ministrar as suas disciplinas sem o viés da prática;. Eles dizem, porém: ;É importante salientar que os cursos de química serão avaliados neste ano pelo MEC, e que o não oferecimento das disciplinas regulares no período de avaliação certamente influirá negativamente no resultado do processo, o que não só prejudicaria os avaliados, mas toda a instituição. Solicitam-se, assim, medidas urgentes;. ;Tudo conversa; Em outra reunião, o diretor do Instituto de Química e Geociências, Sérgio Nascimento, relatou por que houve atraso nas obras. Um funcionário teria sido cedido pela reitoria, ;com a mágica de comprar o que eu pedisse;. ;Muito bonito eu achei aquilo. Primeira tentativa eu fiz ontem. ;Sérgio, faz três orçamentos para mim; (disse o funcionário). Então, era tudo conversa, não está liberado dinheiro nenhum. Vai passar pelo caminho que sempre passou. Não tenho muita expectativa;, resumiu o diretor. Segundo relato das reuniões, os mesmos problemas nos laboratórios geraram crises com os alunos em 2001, 2003 e 2006. Cezar Borges assumiu pela primeira vez a reitoria da Ufpel em 2003. Em 2006, os estudantes estavam furiosos. Um deles queria denunciar tudo à RBS/TV e ao Ministério Público. Mas o curso de Química estava em vias de ser reconhecido. Houve uma negociação com os alunos e tudo foi abafado. Foi elaborado um processo para resolver os problemas, o que não ocorreu em três anos. Uma comissão do Ministério da Educação esteve na Ufpel e acabou liberando o curso. A denúncia ao Ministério Público, em abril deste ano, foi feita pelo coordenador-geral do Diretório Acadêmico de Química, Alex Molina. Ele afirma que o motivo da interdição dos laboratórios ;é a incompetência da reitoria em realizar as obras. Não tem um projeto aprovado, não tem um orçamento fixo e não tem o acompanhamento de um engenheiro;. Memória - nepotismo O reitor Antônio Cezar Borges foi reconduzido ao cargo apesar de decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) que apontou irregularidades na sua administração. A Ufpel contratou fundações de apoio para desenvolver atividades de caráter permanente da universidade, além de empregar parentes de dirigentes ou servidores da instituição. Para evitar a aplicação de multa, o reitor demitiu todas as pessoas contratadas de forma irregular. A Fundação Simon Bolivar admitiu pessoal para serviços de portaria, limpeza, manutenção predial, pessoal de laboratório, jardinagem, bioterismo e registro acadêmico, implicando 280 contratados, 50 professores e 150 estagiários sem remuneração. A fundação foi contratada com dispensa de licitação pelo valor de R$ 6,1 milhões, até julho de 2008. Após cinco aditamentos, o valor passou para R$ 9,3 milhões, correspondente a um acréscimo de 53,5%. Diretor nega perda do semestre O diretor do Instituto de Química e Geociências da Ufpel, Sérgio Nascimento, disse que não estava se referindo aos laboratórios de Química quando falou que poderia ajudar a ;interditar tudo;, mostrando ele mesmo as irregularidades. ;Eu não me referi ao Instituto de Química. Eu me referi à nossa cidade. O que eu quis dizer? Que, quando se quer olhar, em qualquer local se encontra alguma coisa. Basta ver o que foi encontrado num dos laboratórios que foi interditado. Dentro de uma capela apareceu cocô de pombo. Isso aí era um buraco de um motor. Qualquer funcionário que visse aquilo não precisava levar à vigilância e mostrar. Por que não limpou? Quando se quer direcionar e mostrar só o que é ruim, em todo lugar existe.; O Correio enviou à reitoria da Ufpel, na última quinta-feira, todas as informações obtidas com professores e alunos, incluindo a gravação dos trechos das reuniões e os ofícios internos. A assessoria de Comunicação Social da universidade afirmou que não houve tempo para responder porque o reitor esteve envolvido em cerimônias e reuniões na sexta-feira. Disse que as respostas seriam enviadas hoje. Foram solicitadas entrevistas com o reitor e os professores citados nas gravações. Nascimento afirma que praticamente 90% das obras dos laboratórios estão prontas: ;Falta entregar algumas coisas que foram compradas e não chegaram, como chuveiros especiais;. Ele sustenta que não há risco de perda do semestre. ;Risco de perder o semestre não há, porque estamos casualmente encaminhando uma solicitação de uma nova visita da vigilância, agora esta semana. Dentro daquilo que foi solicitado, em termos de infraestrutura, praticamente 90% está atendido. O que se espera é que haja uma liberação.; Demora Questionado sobre o atraso das obras, que se arrastam há cinco meses, apresentou suas explicações: ;Se existe alguma demora, não é por falta de iniciativa, é porque o que foi feito ali demorou para fazer;. Ele relatou os serviços executados. ;Os laboratórios estão em ótimas condições. Foram trocados pisos, bancadas, toda a rede elétrica foi modificada, os exaustores. Foram trocadas as frentes de capelas por vidros especiais, que não explodem, as paredes foram rebocadas, foi colocado piso anti-derrapante.; Acrescentou que a perda não é tão significativa porque houve um atraso no início do segundo semestre, por causa da gripe suína. ;O reinício do semestre foi praticamente há um mês ou 40 dias. As perdas foram no fim do semestre passado, um pouco, porque faltavam três, quatro aulas. E pegou o início do semestre.; Nas gravações feitas por alunos, ele comenta sobre uma fileira de árvores próxima ao Instituto de Química que morreu porque foram jogados produtos tóxicos no esgoto. Ele disse que isso aconteceu há 20 anos, e que os dejetos agora são recolhidos. ;São recolhidos todos os dejetos de aulas práticas. O que nós temos é uma dificuldade do destino desse material. Realmente, havia dificuldade na coleta e no destino. Agora tem uma firma contratada pela universidade que recolhe. Eu tinha material armazenado de bastante tempo, fechado e identificado. Agora, o instituto conta com recolhimento regular, semanal. Agora, qual é o destino que a firma dá? Eu não sei;.

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