Alana Rizzo, Edson Luiz e Samantha Sallum O Ministério da Justiça anunciou ontem a criação de um grupo dentro do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronaci) para enfrentar a disseminação do crack no país. Além disso, a Polícia Federal promete instalar postos especiais nos estados próximos a fronteiras. Os primeiros serão no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso do Sul e no Acre. ;Vamos fazer um colóquio nacional, juntando a Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas), especialistas e universidades para debater a questão do crack;, afirmou o ministro da Justiça em exercício, Luiz Paulo Barreto. [SAIBAMAIS]Segundo Barreto, em todas as discussões realizadas pelo ministério no país, o grande problema apresentado por prefeitos e a comunidade é o crack. ;O Correio mostrou que a situação é grave e que, infelizmente, a droga está indo para o interior do país;, afirmou o ministro em exercício. ;Temos que ir pelo lado da prevenção, juntando as outras áreas, como a saúde e educação. Essa droga é mais perigosa do que a cocaína, vicia mais rápido e está no dia a dia. Além disso, é preciso ter a repressão. Por isso, vamos instalar postos na fronteira e tentar conter o avanço interno do crack e das quadrilhas;, disse Barreto. O alerta é nacional. A pedra da morte aumentou índices de criminalidade, pontos de prostituição e a circulação de armas. Especialistas apontam a droga como o maior desafio para a segurança pública. Desde ontem, o Correio mostra, a partir de uma série de reportagens especiais, como o crack invadiu o interior e se tornou uma praga no país, deixando rastro de morte de norte a sul. Localizada no sertão do Ceará, a 380km de Fortaleza, Iguatu orgulha-se do selo que recebeu no ano passado do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) pelas melhorias na qualidade de vida de crianças e de adolescentes. A placa ;Município aprovado; na entrada da cidade dá boas vindas aos visitantes e esconde o lado obscuro da cidade de 98 mil habitantes. Quem convive diariamente com o problema se assusta, como o delegado civil Agenor Freitas, que passou 11 anos longe do município, e há sete meses assumiu o cargo. ;O avanço da droga é uma coisa sem precedentes;, diz, ressaltando que o baixo custo do vício é o que mais influencia na disseminação: ;É um mercado lucrativo;. No início do ano, a pedra pequena, segundo o delegado, custava R$ 3 e a grande, R$ 7. Hoje, a menor é R$ 5 e a maior, R$ 10. ;O crack é a doença do mundo;, sentencia. O problema se repete em outras cidades do interior cearense, como Crato, Juazeiro e Sobral. No Espírito Santo, o crack está sendo tratado como uma epidemia por ter se alastrado rapidamente nos últimos dois anos. ;Como em todo o Brasil, a situação aqui está complicada;, afirma o secretário de Segurança Pública do estado, Rodney Rocha Miranda. Delegado federal, Miranda foi um dos integrantes de uma força-tarefa que combateu o crime organizado no Espírito Santo, mas está encontrando dificuldades para combater a droga, que se alastra a cada dia. ;Estamos aumentando as apreensões, mas o consumo de crack aumenta cada vez mais;, ressalta. O problema maior, segundo Rodney, é com os municípios do interior, apesar de a grande concentração de casos estar instalada na Região Metropolitana de Vitória. ;Hoje, quando vou conversar com lideranças comunitárias, o crack está entre os assuntos pautados pelas associações;, diz o secretário, confirmando o que ocorre em quase todo o país: a droga chegou aliada à violência. ;Cerca de 70% dos casos de morte têm a ação do crack;, observa Rodney. Em Mato Grosso, um dos estados identificados pela Polícia Federal como integrante da rota do tráfico de drogas, a pasta base da cocaína ainda é a droga de maior circulação. Mas no interior, em Vila Rica, o crack ganha espaço. Próximo ao Pará e a Tocantins, o município já registra grandes apreensões. ;Estamos fazendo um trabalho de identificar compradores e prender os traficantes;, afirma o delegado, que cobra monitoramento mais intenso da PF nas fronteiras. Em Tocantins, as cidades de Porto Nacional, Araguaína e Gurupi são atualmente as mais afetadas pelo avanço da droga. As investigações apontam que o crack já chega elaborado no estado.
O que o governo precisa fazer para frear o avanço da droga?
Reginaldo de Souza, 56 anos, garimpeiro ;Moro em Foz do Iguaçu e percebo que o grande problema é a falta de fiscalização nas fronteiras. Por lá, passam drogas, armas e faltam policiais para acompanhar toda a movimentação em torno do que é ilícito. O governo sabe que as fronteiras são o corredor das drogas, mas parece que não está interessado em resolver; Wesley Bruno, 22 anos, vendedor ;Falta maior repressão para quem compra e para quem vende a droga, com policiamento ostensivo nas áreas que são o foco do tráfico como nas periferias. O dia em que as leis forem mais rígidas, as pessoas vão pensar duas vezes antes de traficar. Os hospitais devem ter um espaço para atender os usuários de drogas; Conceição da Silva, 37 anos, cozinheira ;Na minha opinião, falta criar projetos voltados para a juventude, como mais cursos profissionalizantes, mais condições de empregos, lazer e esportes. A família também deve ter um apoio adequado do governo com acompanhamento de equipes sociais que identifiquem alguma condição; Júlia Nunes de Matos, 22 anos, professora ;Acho que o governo tem que investir em informação. Sou professora de português e percebo que as escolas públicas ainda não estão preparadas para abordar temas como o do crack. O caso poderia ser resolvido com palestras e formação de educadores para que abordem o tema de uma forma que levante o interesse dos alunos;