postado em 03/12/2009 19:59
Rio de Janeiro - Depois de ouvir nesta quinta (3), durante mais de cinco horas, em audiência pública na Assembleia Legislativa da Bahia, parentes de menores desaparecidos, a presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Crianças e Adolescentes Desaparecidos, deputada Bel Mesquita (PMDB-PA), voltou a insistir na criação de um cadastro nacional e na definição de políticas públicas para enfrentar o problema.;Apesar de tantas pessoas imbuídas na busca de soluções, não temos uma política de garantia às crianças e adolescentes. Por isso, as famílias não encontram apoio nas instâncias oficiais;, disse a deputada, ao defender a instituição do Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos pela sociedade, e não no âmbito do governo. O projeto de lei criando o cadastro aguarda sanção presidencial.
Em sintonia com as preocupações da presidente e dos membros da CPI, que já seguiram para outra audiência pública, amanhã (4), em Natal, a criadora do Movimento Nacional de Busca e Apoio a Pessoas Desaparecidas Simone Pinho, Josenilda Ribeiro Lima, também falou na audiência em Salvador: ;É preciso dizer que não temos nenhum apoio de governo na nossa ação. Esta CPI é boa e já vem até atrasada, mas ela deveria tratar também do desaparecimento de adultos, e não só de crianças e adolescentes;, afirmou.
A filha de Josenilda, Simone Lima Pinho, de 26 anos, saiu de Salvador em junho de 2000 para as festas juninas nos Lençóis Maranhenses e não voltou. Na busca de pistas, ela apelou à polícia de Salvador, que não pôde fazer nada e a encaminhou a Lençóis, onde policiais maranhenses tampouco tomaram providências, sob o pretexto de que Simone era maior de idade.
;[Os policiais] me trataram com o maior descaso, e aí eu vi que tinha que lutar sozinha;, lembrou. Em setembro de 2002, Josenilda criou o movimento que tem o nome da filha e começou a reunir pessoas em situação semelhante à sua: ;Hoje temos 2.862 desaparecimentos cadastrados e, destes, 620 desaparecidos foram localizados, vivos ou mortos;.
Em abril de 2005, por uma reportagem na televisão, Josenilda soube da prisão, no Pará, de José Vicente Matias, o ;Corumbá;, assassino confesso de seis mulheres, três delas estrangeiras. Ele dizia ter feito um pacto com o diabo e que teria de matar sete mulheres, e pelo que disse na tevê, ela resolveu ir ao seu encontro.
;Lá, a polícia copiou uma foto da minha filha pela internet e ele confirmou que tinha matado ela com duas pedradas, bebido o sangue e comido os miolos;. Mas o horror de Josenilda se prolongou por mais oito meses, até conseguir que a polícia levasse o assassino ao local onde a ossada de Simone foi encontrada, numa cova rasa no mato.
A trágica história de Josenilda Ribeiro Lima é vista como exceção no rol dos desaparecimentos, já que Simone foi vítima de um insano, mas de toda forma se insere no contexto da luta pela criação do cadastro e da conscientização da polícia em todos os níveis sobre a gravidade do problema, segundo parlamentares da CPI.
;A formação dessa consciência é necessária para que possamos combater de fato o desaparecimento. Para se ter uma ideia, a maior parte dos desaparecimentos é de crianças, das quais 85% são encontradas. Destas, cerca de 70% fugiram por causa de conflitos familiares, o que indica a urgência de uma política voltada de fato para a origem do problema;, concluiu a presidente da CPI.