Mirella D'Elia
postado em 05/12/2009 08:45
Marabá - Marcado por episódios sangrentos no campo, como o massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, e o assassinato da missionária Dorothy Stang, em 2005, o Pará tenta desvincular sua imagem da violência e da impunidade. Batalha difÃcil de ser vencida. O segundo maior estado do Brasil contabilizou, nas últimas duas décadas, 595 mortes no campo, o equivalente a 39,1% do total de vÃtimas de assassinatos em zonas rurais do paÃs entre 1985 e 2008. E só julgou 15 (3,8%) dos 391 processos de homicÃdio registrados no perÃodo.
Um dos maiores focos de tensão do estado, Marabá, a 485km de Belém, recebeu ontem um reforço do Poder Judiciário para tentar atenuar os conflitos. Pelo menos no que diz respeito à s ocupações irregulares de terra, que impulsionam os embates entre grileiros e assentados - colaborando para acirrar o risco de mais mortes. A região, que engloba 23 municÃpios e cinco áreas agrÃcolas, foi a escolhida para o lançamento do mutirão fundiário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
"Estamos no olho do furacão. Eu quis que o mutirão começasse aqui por causa desse forte simbolismo", diz o presidente do CNJ, Gilmar Mendes, que também preside o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele viajou até o Pará para lançar o mutirão.
"Queremos diminuir os conflitos e, com essas ações, garantir segurança jurÃdica aos assentados", diz o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hachbart. De acordo com o Incra, há 67,1 mil famÃlias morando em 483 assentamentos no Sul e no Sudeste do Pará. Só este ano, 534 famÃlias foram assentadas.
Audiências
Nos próximos dias, 17 fazendas de Marabá receberão a visita de integrantes do conselho e do Judiciário local para promover audiências de conciliação entre as partes. Em todas essas áreas, já existem decisões judiciais ordenando a saÃda dos ocupantes. Em apenas sete fazendas, há 575 famÃlias cadastradas, mas estima-se que o total passe de 1.000 só nessa região. Em alguns casos, como o da Fazenda São João do Araguaia, a 50km de Marabá, a ocupação dura quatro anos. A expectativa é que, agora, o impasse chegue ao fim.
"Vamos tentar sentar à mesa e buscar uma solução", afirma a juÃza agrária de Marabá, Claudia Favacho Moura. Ela admite, no entanto, que a tarefa não é fácil. "Um conflito agrário não pode ser visto da mesma forma que um conflito urbano. A Justiça precisa ter paciência", declara a magistrada. Claudia está à frente da primeira vara agrária do paÃs, criada em 2002, e que, hoje, tem 232 processos em tramitação.
O CNJ, responsável pelo controle externo do Judiciário, diz que esse é um ultimato à s famÃlias para que saiam dos locais antes da entrada da polÃcia. "É a primeira vez que o Judiciário se propõe a sair do gabinete e ir até o local do conflito. Pode ser que leve uma semana, duas, ou pode ser até que não consigamos resolver tudo e seja preciso usar a força policial", diz o juiz auxiliar da presidência do CNJ, Marcelo Berthe, coordenador do mutirão fundiário.
# A repórter viajou a convite do Conselho Nacional de Justiça
Ouça entrevistas com o presidente do Incra, Rolf Hackbart, e com a juÃza agrária de Marabá, Claudia Favacho Moura