Lucas Figueiredo
postado em 06/12/2009 10:21
Minas Gerais não dispunha de voos diretos para países da Europa, da América Central e para os Estados Unidos até o começo do ano passado. Hoje, a partir de Confins, é possível viajar sem conexões para Lisboa, Paris, Miami e Panamá, além de Buenos Aires. Não há dúvida de que a mudança trouxe conforto para os passageiros, mas não foi só isso. Ela atraiu também as organizações criminosas internacionais ; especialmente nigerianas ;, que incluíram Belo Horizonte na rota que liga os países produtores de cocaína, como a Colômbia, aos países consumidores, como Portugal, Espanha e Estados Unidos.
[SAIBAMAIS]O fenômeno já foi identificado pela Polícia Federal (PF). Nos últimos 18 meses, agentes fizeram pelo menos 14 flagrantes de apreensão de cocaína no aeroporto de Confins. Os casos apresentam características semelhantes, como a origem da droga, proveniente da Colômbia, e o uso de ;mulas; (pessoas que transportam a droga, escondida no corpo ou na bagagem). Além disso, o voo mais usado pelos criminosos é o Belo Horizonte-Lisboa, da TAP, inaugurado no começo do ano passado.
;Com o aperto na fiscalização no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, os traficantes começaram a procurar outras saídas para a droga enviada para a Europa;, afirma o delegado João Geraldo de Almeida, chefe da Divisão de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal em Minas Gerais. Segundo Almeida, com o aumento na oferta de voos internacionais, Belo Horizonte se tornou uma alternativa. ;Confins é hoje um dos muitos pontos no Brasil de saída de droga;, diz o delegado.
Passageiros
Enquanto em São Paulo o cerco se fechava, em Belo Horizonte aumentava o volume de passageiros e a oferta de voos internacionais, condições ideais para os traficantes. Se em 2004 Confins registrou 388 mil passageiros, no ano passado, o movimento foi de 5,2 milhões de passageiros ; um aumento de 1.240%. Hoje, há voos de Confins para a Europa todos os dias da semana. No ano passado, foram inaugurados voos diretos para Lisboa, Paris, Miami e Panamá. Os passageiros passam pelo processo de imigração e despacham as malas em Confins. Na maioria das vezes, o avião faz uma escala em São Paulo, no Rio de Janeiro ou em Brasília, mas o passageiro não sai da aeronave.
Com uma estrutura policial e fiscal muito menor que a de aeroportos de São Paulo e do Rio de Janeiro, Confins passou a ser uma boa alternativa para os traficantes internacionais. De 2008 para cá, estrangeiros com passaporte de Serra Leoa, Mali, Romênia, Polônia, Espanha, Bulgária, Alemanha e Bélgica foram presos em flagrante com cloridrato de cocaína (a droga pura, pronta para uso, mas ainda passível de mistura para aumentar o volume). ;Trata-se de um esquema grande. A ocultação da droga é perfeita;, afirma o delegado João Geraldo de Almeida. Na Europa, cada quilo de cloridrato de cocaína vale cerca de 40 mil euros (R$ 108 mil).