Brasil

Estudo que país precisa investir R$ 41 bilhões até 2015, se não quiser ter problemas de distribuição de água

postado em 10/12/2009 08:15
A Agência Nacional de Águas (ANA) apresentou ontem um mapeamento de 2.965 municípios para compor um atlas sobre o abastecimento no país. O resultado mostra que o Brasil terá graves problemas se nenhum investimento for realizado no sistema de produção hídrica até 2015. Do total de cidades analisadas, 64% delas, ou seja, 1.896, têm dificuldades em atender as suas populações. Para evitar um colapso no fornecimento e garantir o atendimento de todas elas até 2025, o órgão estima um gasto de R$ 18,2 bilhões nos próximos seis anos. O gargalo, segundo o estudo, está nas regiões metropolitanas que detêm alta densidade populacional e são grandes polos de desenvolvimento como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Das 430 cidades que se enquadram nesse perfil, 66% delas precisam de R$ 12 bilhões para ampliar seus sistemas de captação de água e utilizar novos mananciais. É nas regiões metropolitanas que estão 70% do Produto Interno Bruto (soma das riquezas geradas pelo país). Lá também vivem 60% da população brasileira, ou aproximadamente 94 milhões de habitantes. O Distrito Federal também se enquadra no perfil (leia reportagem na página 15). Além da capital federal, o estudo demonstrou que o inchaço de grandes centros urbanos, como Curitiba, Goiânia e Fortaleza, vem causando uma pressão sobre os recursos hídricos locais, com a necessidade de se buscar novas fontes de abastecimento em locais cada vez mais distantes e com investimentos maiores. Nas regiões metropolitanas de São Paulo, Baixada Santista, Campinas, além da região metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo, os técnicos da ANA constataram comprometimento da qualidade da água vindas dos mananciais e a falta de tratamento adequado na captação de água em bacias prioritárias como a do Alto Tietê e a de Paraíba do Sul. Juntas, essas cidades carecem de 46% de investimentos que mudem essa realidade. Tratamento A segunda maior preocupação do estudo vem do semiárido nordestino, historicamente conhecido pela escassez de água. Das 1.892 cidades analisadas, 73% correm risco de ficarem desabastecidas se nenhuma política de atendimento for feita até 2015. Do valor total que o governo tem de implementar para atender todas as regiões apontadas no estudo, metade - R$ 9 bilhões - deve ser depositada nesta região para o atendimento de 39 milhões de pessoas. A situação mais grave é em Pernambuco e na Bahia, onde a grande escassez de recursos hídricos e o elevado número de municípios exigem 51% de recursos a mais do que já é aplicado para evitar um apagão no abastecimento. "O nosso estudo mostra que as demandas já estão muito próximas da oferta. Já estamos em sobrecarga em vários sistemas, em vários mananciais. Não é fácil criar uma situação de abastecimento tão rápido. É preciso ter estudos técnicos e medidas rápidas para atender as necessidades", argumenta o presidente da ANA, José Machado. Na Região Sul, os pesquisadores identificaram uma situação menos preocupante, mas que também inspira cuidados. Dos 789 municípios pesquisados, 338 necessitam de investimentos -um montante de R$ 3,43 bilhões dos R$ 18 bilhões pedidos. O estudo é parcial e demorou dois anos para ser finalizado. A análise das outras regiões (Sudeste, Centro-Oeste e Norte) começa a ser feita a partir do ano que vem. Segundo o professor do departamento de engenharia civil e ambiental da Universidade de Brasília Sérgio Koide, os números apresentados não são exagerados. "A avaliação está dentro da realidade se levarmos em conta que no governo Fernando Henrique se esperava privatizar o setor responsável pelo abastecimento e saneamento no país. Como isso não ocorreu, vimos os governos empurrando com a barriga e investindo pouco para não ver o sistema entrar num colapso", ressaltou. A falta de tratamento de esgoto adequado também é outra preocupação apontada no estudo da ANA. Para que as cidades não comprometam a qualidade da água que abastece a população nas regiões pesquisadas, o governo federal terá que desembolsar R$ 23 bilhões. Mais uma vez as regiões metropolitanas são as que devem contemplar maior parte desse montante para tratamento e coleta de esgotos - um aporte de R$ 15,7 bilhões. No Nordeste, a melhoria no sistema de saneamento básico deve atingir, cerca de 800 municípios pobres, com objetivo de ajudar na recuperação da qualidade da água de rios e açudes utilizados como mananciais de abastecimento.

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