Brasil

Adolescentes da região costeira de Paraty cobram escolas e transporte escolar

postado em 13/12/2009 12:39
Rafaela de Souza Nascimento e Célia dos Santos Conceição, ambas de 13 anos, se dividem entre as brincadeiras à beira da praia, afazeres domésticos e pequenos bicos como babá, quase todos os dias. A rotina delas só é diferente às terça-feiras, quando têm aulas durante duas horas, na varanda de um pequeno bar, onde aprendem lições da 5; série do ensino fundamental.

[SAIBAMAIS]As adolescentes moram na comunidade Pouso da Cajaíba, na região costeira de Paraty, sul fluminense, e estão há dois anos sem estudar. Isso porque na comunidade, acessível somente por barco, a escola só atende de 1; a 4; série. Sem dinheiro para viver na cidade, a única saída delas foi convencer a professora da escola, que voluntariamente ensina um grupo de quatro meninas, em uma das mesas do pequeno bar.

De acordo com o Conselho Tutelar de Paraty, as meninas integram um grupo de cerca de 60 jovens que estão sem estudar na comunidade. Como são muitas as crianças sem escola, ;não tem como ela [professora] dar aulas para todo mundo;, acrescenta Célia.

O presidente da associação de moradores da praia, Francisco Sobrinho, conta que todos os anos cobra do município a integralidade do ensino na comunidade, conforme determina a Constituição Federal. O pescador sonha com uma escola modelo que valorize a tradição caiçara - própria da região - e ensine formas de melhorar o turismo. No entanto, diz que o transporte escolar, até Paraty, inclusive para o ensino médio, ajudaria enquanto a escola não tem previsão de ser ampliada.

;Temos soluções. Queremos uma escola, o ideal, devido ao grande número de alunos do Pouso da Cajaíba e de outras praias próximas. Mas até a escola ficar pronta, a prefeitura pode oferecer transporte escolar, capacitar um adulto com um nível de instrução melhor para dar aulas ou, pelo menos, pagar a professora para ensinar todo mundo;, sugere.

Para Francisco, é frustrante ouvir das meninas que a perspectiva de vida delas é ;ajudar os futuros maridos com as redes de arrasto;. Na opinião dele, as atividades tradicionais devem ser uma opção, não o único destino da garotada. ;Com os grandes barcos, o peixe está acabando. O que será delas então?;, questiona. ;O turismo está desordenado, traz drogas, lixo e prostituição. Queremos educação para viver aqui, mas viver melhor;, afirma.

De acordo com o Conselho Tutelar de Paraty, além do Pouso da Cajaíba, adolescentes estão fora da escola em mais seis comunidades costeiras, onde o acesso é também feito por meio de barcos. Em alguns vilarejos é possível chegar à pé, após caminhadas entre duas e dez horas, como é o caso da Praia do Sono, onde um condomínio de luxo ainda dificulta o acesso dos moradores caiçaras.

A secretaria de Educação de Paraty informou que a obrigação de instalar as escolas de 5; a 9; seria passou para o governo estadual.

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