Brasil

Caneta que enxerga

Professor da Universidade Federal de Pernambuco desenvolve artefato com ponta em forma de pirâmide que ajuda os deficientes visuais a produzirem desenhos em alto relevo

Thatiana Pimentel
postado em 20/12/2009 08:27
Qual a importância de um desenho na sua vida? Dessas figuras simples mesmo, das que a gente faz com lápis e papel? Se você pensar rapidamente, a resposta será: quase nenhuma. Porém, as imagens que estão por aí, ao nosso redor, são grandes estímulos para a criatividade e a imaginação. Foi reconhecendo a importância dos desenhos que nos cercam que o professor Francisco José de Lima, que é deficiente visual e atua no curso de pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), desenvolveu uma caneta para desenho em relevo que permite aos deficientes visuais produzirem as próprias figuras. De baixo custo e capaz de produzir alto relevo de excelente qualidade em papéis encontrados no mercado, a caneta tem uso fácil. Basta pressioná-la contra o papel sobre uma prancheta de borracha (preferencialmente EVA), e o cego pode produzir desenhos, mapas ou gráficos, acompanhando com uma mão a imagem que faz com a outra. Recomendada como material didático e lúdico, a caneta deve auxiliar profissionais de educação especial no ensino de geometria, geografia, estatística, ou na ilustração de livros infantis para portadores de limitação visual. A caneta permite ainda que crianças, jovens e adultos cegos consigam conhecer e explorar o mundo dos desenhos bidimensionais (tendo acesso a representações de prédios, igrejas, figuras de animais ou quaisquer objetos que antes não podiam manusear). "O desenho em alto relevo é crucial para que as pessoas com deficiência acompanhem o que estão criando", explicou Lima. Segundo ele, a caneta consegue tal resultado por causa de sua ponta em forma de pirâmide "Passei mais de dez anos pesquisando o material e o formato. Tive que descobrir o ângulo certo das quinas da ponta da caneta para que não rasgasse o papel", comentou. Alfabeto Ainda de acordo com o pesquisador, com certo treino, a caneta para desenho em alto relevo permitirá aos cegos aprender o alfabeto, possibilitando-lhes receber ou deixar recados para pessoas que não sabem ler o braile. "Meu objetivo, agora, é automatizar a caneta, colocar um pequeno motor que permita a ponta trabalhar sem o esforço de quem estiver manuseando-a. Não faço nem questão de patente", disse. Lima avalia que a caneta, caso produzida em larga escala, seja comercializada por R$ 15, num modelo simples, e até R$ 50, com motor.

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