Pedro Rocha Franco
postado em 02/01/2010 07:01
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, lamentou o episódio de Angra dos Reis (RJ) e alertou que a tragédia estava anunciada. Ex-secretário de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, o ambientalista afirmou que a ocupação das encostas na região é antiga e que a resistência em mudar o quadro urbanístico ajuda a piorar o problema. "Nossa briga sempre incluiu uma política que modificasse essa ocupação desordenada. A gente derrubava tanto casas populares como mansões clandestinas que ocupavam encostas, mas ainda é difícil mudar a realidade", disse ele em entrevista ao Correio, por telefone, no início da tarde de ontem. "As pessoas desrespeitam a natureza, mas um dia ela se vinga", afirmou.
O secretário de Defesa Pública de Angra dos Reis, José Carlos Lucas, negou que a pousada estivesse em área de risco e disse que só um geólogo pode explicar a causa da tragédia. "Esse acidente foi um incidente. A pousada tem permissão do governo para funcionar naquela área. O problema é que choveu durante três dias no município e poderia causar danos em outros locais que não fossem encosta, por exemplo."
Os deslizamentos de terra ocorridos na madrugada de sexta-feira em Angra causaram ao menos 30 mortes, segundo balanço das equipes de resgate, que mantêm as buscas na região. O total de mortes no Rio de Janeiro desde a última quarta-feira, 30, já chega a 53 no estado.
De férias em Iratu, no litoral da Bahia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou ao vice-governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e lamentou o ocorrido. Durante cerca de 15 minutos de conversa, Lula ofereceu apoio irrestrito no resgate e busca de vítimas do deslizamento no litoral fluminense. A ajuda do governo federal partirá do Ministério da Integração Nacional e da Marinha. Ontem, o presidente telefonou ao ministro da Integração, Geddel Vieira, para fazer o pedido. Geddel suspendeu as férias para prestar ajuda e aguarda levantamento para repassar os recursos às áreas atingidas.
"Se fala muito em investimentos públicos em variados setores, mas quando se trata da questão das encostas, que também é um problema permanente em outros estados, não há novidades. É um momento de lamentar, mas também de se começar a investir para que essas regiões não passem mais por esse desastre", endossa o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ).
Tristeza
O susto com o soterramento no litoral sul do Rio de Janeiro deixou familiares de mineiros ansiosos até a chegada de notícias dos parentes que passavam o feriado no estado fluminense. No Bairro Ouro Preto, na Pampulha, em Belo Horizonte, a família de Sônia e Geraldo Faraci, proprietários da Pousada Sankay, destroçada com as chuvas, esperava por informações da estudante Yumi Imanishi Faraci, filha do casal. No final da noite, chegou a confirmação de que Yumi havia morrido no desastre.
Estudante de arquitetura e urbanismo da PUC Minas, a jovem é violonista e passava as férias com os pais em Angra. Lá, aproveitava para apresentar-se em festivais de música e de arte japonesa promovidos pelo pai, que era vice-presidente da Associação das Pousadas da Enseada do Bananal. Há 15 anos, o casal Sônia e Geraldo Faraci saiu da capital mineira para construir um hotel de luxo na Enseada do Bananal, e pouco a pouco a transformou num dos principais e mais charmosos pontos da ilha, destino de muitos mineiros.
As mortes em Angra também sensibilizaram artistas famosos que escolheram a região para passar a festa de fim de ano. Pela internet, muitos deles relataram que o clima de forte chuva predominava no dia 31. O casal global Luciano Huck e Angélica postou frases antes da virada do ano: "Hoje vamos colocar nossa melhor roupa de mergulho branca". Ontem, o apresentador escreveu uma mensagem de solidariedade à população da região onde ocorreu o deslizamento.