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Mortes também em Minas

Três idosos ficaram soterrados em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, depois que casa foi atingida por cerca de 400 toneladas de terra de uma encosta. Um motorista, que acompanhou as buscas dos integrantes do Corpo de Bombeiros, perdeu os pais e a sogra no desastre

postado em 02/01/2010 08:19
O ano começou de forma trágica para uma família do Bairro Cesário Alvim, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, onde choveu forte na madrugada da virada do ano. Cerca de quatro horas depois da festa de réveillon, metade de uma casa da Rua Rosalina Praxedes de Albuquerque, onde moravam cinco pessoas, veio abaixo. A residência foi atingida por cerca de 400 toneladas de terra que deslizaram de uma encosta. Um casal que dormia em um dos cômodos da moradia - que permaneceu intacto - conseguiu escapar. Outras três pessoas não tiveram a mesma sorte. Ficaram soterradas sob lama e escombros. O corpo de Ruth Gonçalves de Oliveira, de 67 anos, foi retirado cerca de duas horas depois do acidente. Já os corpos do casal Gelito Sabatineli Andrade, de 78 anos, e de Cecília Gallo Andrade, de 75, foram localizados somente às 16h30. Marido e mulher dormiam no primeiro pavimento da casa, e ficaram presos sob duas lajes. A operação de buscas mobilizou 10 homens do Corpo de Bombeiros. A maior quantidade da terra que atingiu a casa cedeu de um terreno baldio da parte mais alta do bairro. Segundo moradores, o local era usado de maneira irregular como depósito de lixo e entulho. A área teria sido, inclusive, invadida recentemente, o que levou o proprietário a construir, há três meses, um muro para evitar novas invasões. As buscas foram acompanhadas durante todo o tempo pelo motorista Trajano Andrade Neto e a esposa, que sobreviveram ao deslizamento. Trajano perdeu os pais e a sogra no desabamento. Emocionado, o casal buscava apoio em amigos e parentes. "O único consolo é que eles estavam felizes. Espero que não tenham sofrido", disse a professora Maria Aparecida Danelon Andrade, nora de Gelito e Cecília. Ela, o marido, João Vicente Gallo, e três filhas adolescentes, como fazem em todos os anos, passaram o réveillon com a família na casa que desabou. Depois de acompanhar a queima de fogos, eles deixaram a residência por volta das 2h. "Estávamos tranquilos. Não nos preocupamos com a chuva porque não havia risco aparente", disse a professora. Dona Cecília teria pedido para que as netas dormissem na casa, mas, como todos iriam se reencontrar no almoço do primeiro dia no ano, as adolescentes decidiram seguir com os pais. "A confraternização seria na minha casa", lamentou Maria Aparecida. O município vizinho de Matias Barbosa também foi castigado com a cheia do Rio Paraibuna. Vinte e cinco casas foram alagadas no Bairro Nossa Senhora da Penha. Os desabrigados foram levados para uma escola municipal. O número 177 Número de ocorrências registradas em Juiz de Fora pela Defesa Civil Tristeza e desalento Potencializados pelas fortes chuvas que castigam o estado do Rio de Janeiro, os deslizamentos de terra já causaram a morte de 50 pessoas na região desde a noite de quarta-feira. Somente ontem, além dos 30 óbitos provocados pela tragédia em Angra dos Reis, nove pessoas estavam em casas soterradas no Morro do Carioca, localizado no centro da capital fluminense. O número de vítimas pode subir à medida que as esquipes de resgate avancem em seus trabalhos. Enquanto uns contabilizam prejuízos, outros sepultam parentes e amigos. Cinco integrantes de uma família de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro, foram enterrados ontem depois de serem vítimas de um desabamento de encosta no dia 30. Naquela madrugada, grande volume de terra de um morro atingiu a casa onde dormiam o casal Elisa Maria da Silva, 38 anos, e Wladimir Ramos, 42 anos, o filho de 2 anos, João Pedro Marinho, e outras duas filhas do primeiro casamento de Elisa. O alto índice pluviométrico também afetou o estado de São Paulo. Na área rural do município de Cunha, a 231 quilômetros da capital, cinco pessoas da mesma família perderam a vida por conta de um deslizamento de terra. Uma pessoa que também estaria no imóvel está desaparecida e uma mulher foi socorrida com vida. Ainda em São Paulo, cerca de 20% (aproximadamente duas mil pessoas) da população da cidade de São Luiz do Paraitinga, localizada a 182 quilômetros da capital, ficou desabrigada. O nível do rio Paraitinga, que corta o município, subiu 3,5 metros. O centro histórico ficou debaixo d'água, o que obrigou a Defesa Civil e o Corpo dos Bombeiros a usar botes para transportar as pessoas que não puderam sair de suas casas. Desaparecidos Em Guararema, na grande São Paulo, os bombeiros tentam localizar cinco pessoas desaparecidas após um deslizamento de terra ocorrido na tarde de ontem. Em Guaratinguetá, a 187 quilômetros da capital, a Defesa Civil estima que aproximadamente 150 famílias estejam desabrigadas desde a última quarta-feira. O aumento do nível do rio Paraíba do Sul em quatro metros obrigou os moradores a deixarem as casas. Outras 60 famílias foram retiradas de suas residências em virtude do risco eminente de deslizamento das encostas. O número 5 Integrantes de uma família mortos em deslizamento de terra em Cunha (SP) Prédio Ameaçado em Belo Horizonte Depois de passar a virada do ano na casa de parentes, moradores do Residencial Grajaú, localizado no Bairro Alto Barroca, na Região Oeste de Belo Horizonte, atingido por um deslizamento de terra na tarde de quinta-feira, voltaram ontem ao edifício para buscar pertences. Cerca de 150 pessoas tiveram que sair às pressas do prédio, interditado pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) porque há suspeita de que sua estrutura esteja ameaçada. Na quinta-feira pela manhã, houve um deslizamento de terra de um terreno vizinho, que atingiu parte do muro do imóvel. No Luxemburgo, parte de um terreno interditou uma rua. Ontem à tarde, os moradores do Residencial Grajaú se reuniram com um engenheiro da Comdec. "A gente quer saber qual a real situação. Foi tudo muito rápido e temos muitas dúvidas", disse uma moradora. Uma comissão será formada para acompanhar os trabalhos dos peritos da Defesa Civil. Além das avarias, as 40 famílias deixaram o edifício de 10 andares da Rua Canaã porque uma casa de três pavimentos, da rua que fica atrás do prédio, a Armindo Chaves, ameaça cair sobre o residencial. A casa e um outro imóvel também foram interditados. "Vi pela janela quando o barranco desceu junto com o bambuzal. Chamei minha mulher e corremos para a rua", disse o fotógrafo Marcelo Gonçalves, de 42 anos, morador do segundo andar. A assistente social Joseane Lemos, de 47, que mora no quinto andar, teve que passar o réveillon na casa de parentes. "Vamos contratar um engenheiro especializado para avaliar a movimentação de terra", afirmou. O coordenador da Comdec, Elmar Lacerda, explicou que houve a necessidade de interditar o prédio por causa do risco de novos deslizamentos de terra. "Os moradores sabiam do risco e plantaram bambu, achando que isso poderia evitar o deslizamento", disse. Equipe da Comdec está em alerta no local para avaliar se o barranco voltou a ceder. Luxemburgo No Bairro Luxemburgo, na Zona Sul da capital, um barranco cedeu e a terra interditou a Rua Henrique Sales. Moradores de dois prédios temem que novos deslizamentos ocorram. O barranco, de quase 10m de altura, fica entre as ruas Anibal Gontijo e Donato da Fonseca. Além do risco de a terra atingir os prédios, vários barracos na Rua Doutor Sette Câmara, que fica acima, também podem desabar se o terreno vir a ceder mais.

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