postado em 06/01/2010 07:02
Cerca de 320 detentos fizeram ontem a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nas seis unidades penitenciárias do Distrito Federal. No Brasil, foram quase 12 mil, entre eles, Fernandinho Beira-Mar, que fez o teste em Campo Grande (MS). Hoje, os internos realizam a segunda parte do exame. Para os candidatos, que participaram do Enem em dezembro, um bom desempenho pode significar uma vaga ou uma bolsa para uma universidade. No caso dos detentos, a realidade é bem diferente: a nota alta não é necessariamente o ingresso em uma nova etapa de estudos. Nem de vida.
"Se eles forem aprovados em algum vestibular, nós passamos o desempenho para o juiz, que vai decidir o que fazer", explica um dos chefes do núcleo de ensino, Railson Silva Guilhon. A Justiça pode conceder autorização para que o detento frequente o curso ou transferi-lo para o regime semiaberto antes de ter cumprido o tempo mínimo da pena. Mas não há nenhuma garantia.
Edmilson Onório de Souza, 35 anos, por exemplo, foi aprovado em um vestibular que uma instituição particular realizou dentro do presídio, e ganharia uma bolsa para fazer o curso, mas como faltava muito tempo da pena para cumprir, perdeu a vaga. "No ano passado, eu fiz o Enem também, só que não fui muito bem na parte objetiva. Mas não desisti, estou tentando de novo este ano", conta. Hoje, Edmilson cumpre pena no regime semiaberto e espera poder cursar direito.
Apesar dessa falta de perspectiva, a adesão dos presos ao exame é alta. "O Enem aqui é a bola da vez. Eles sempre querem fazer", conta Guilhon. Uma das motivações é a possibilidade de conseguir o certificado de conclusão do ensino médio, sem ter cursado as três séries dessa etapa. Desde o ano passado, os detentos de Brasília têm um incentivo a mais para participar da prova: o exemplo de um dos internos que está cursando faculdade a distância. Glaucimar Ferreira Santos, 31, realizou o Enem em 2008 e desde o segundo semestre de 2009 está estudando administração. "Minha irmã grava as aulas presenciais e traz para mim durante a visita."
A aplicação do Enem em Brasília ocorreu com tranquilidade. Mas, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, cerca de 200 internos não fizeram o exame por falta de provas ou de examinadores.