Brasil

Repentista torna-se um ofício com direito a aposentadoria e demais benefícios

Artistas comemoram a regulamentação, mas dizem que ainda há muito a ser feito

postado em 19/01/2010 08:34

Foi por conta de versos impressos em dois folhetos de papel que Francisco Assis ; ou Chico Assis, como ele se apresenta ; decidiu aprender a ler. Para entender o que diziam o repente Tua ausência, de Severino Feitosa, e o famoso Uirapuru da saudade, de Chico Galvão, resolveu, aos 8 anos, frequentar as aulas. ;Foi a cantoria que me alafabetizou;, orgulha-se. Trinta e cinco anos depois, aos 43, Chico terminou a faculdade de artes. Agora, aos 47 anos, o homem que se apaixonou pelos versos cantados ainda menino e acabou dedicando toda a vida a eles, comemora uma nova conquista. Lei publicada no Diário Oficial da União (DOU) no último dia 14 regulamentou a profissão que ele escolheu: repentista.

A norma foi aprovada pelo Congresso Nacional em novembro de 2009. Na ocasião, dezenas de repentistas comemoraram o feito nas galerias do Senado. Agora, com a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a publicação do DOU, o texto fecha o circuito burocrático e passa a valer na prática. Com isso, os repentistas têm a jornada de trabalho regulamentada, o repente incluído na lista de profissões da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), e direito à aposentadoria e aos mesmos benefícios dos demais trabalhadores brasileiros.

Hoje presidente da Associação dos Cantadores Repentistas e Escritores Populares do DF e Entorno (Acrespo), Chico de Assis, que nasceu na pequena cidade de Alexandria no Rio Grande do Norte, reconhece o avanço promovido pela sanção da lei, mas diz que ainda há muito o que fazer para legitimar o exercício do repente. ;Ter a profissão regulamentada é essencial, mas agora vamos em busca de direitos previdenciários e trabalhistas. Teremos que fortalecer a nossa categoria, fazer sindicatos e promover a qualificação dos repentistas;, explicou. Na lista de reivindicações está, por exemplo, o direito de receber aposentadoria por invalidez no caso de perda da voz, instrumento de trabalho de quem vive da cantoria e do repente.

Chico Assis também defende o resgate das tradições, como a cantoria de pé de parede, onde os artistas se apresentam em uma sala, sentados em banquinhos, diante de uma plateia que escolhe assuntos diversos para nortear os versos. A regulamentação também é comemorada por jovens que se apaixonaram pelo repente, como João Santana, 30 anos, brasiliense que se dedica à cantoria há uma década. ;Comecei ouvindo os discos da minha mãe e acabei apresentando-me em festivais da Casa do Cantador. Desde então, não parei mais;, contou João, que também é engenheiro florestal.

Chico Assis (D), ao lado do colega João Santana:

Trechos

São muitos anos de luta em prol dessa profissão/
E após esses desafios, a regulamentação/
Da arte a prova da mesma progressiva ascensão...

Repente de Chico Assis

Hoje as violas estão nas TVs e nos jornais/
Como arte e profissão e mecanismos legais/
Que ofertam dignidade aos seus profissionais...

Repente de João Santana

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