Brasil

Moradores de área alagada em São Paulo reclamam providências

postado em 19/01/2010 10:50
São Paulo - A chuva fina que começou no fim da tarde dessa segunda-feira (18) em São Paulo deixou Maria Elza de Alcântara apreensiva. Ela diz que sempre que o céu escurece e os trovões começam, sente pânico e ao mesmo tempo revolta. "A gente tem um governo que parece que não está olhando para a qualidade de vida;. Quando chega o temporal, Maria Elza já está preparada para a volta das inundações. ;As coisas da gente já estão levantadas dentro de casa;. Maria é uma das moradoras do Jardim Romano, bairro da zona leste da capital paulista que está alagado desde o dia 8 de dezembro. Uma equipe da prefeitura bombeia água das ruas durante 24 horas, o que possibilita períodos de calçadas secas. Mesmo nesses momentos, o cheiro de esgoto permanece no ar. O odor vem da lama verde que cobre o asfalto e dos bueiros que nunca param de jorrar uma água escura e contaminada. Basta chover para que a enchente volte. Segundo a prefeitura, o nível do Rio Tietê está acima da região, que é uma área de várzea. O plano da administração municipal é desapropriar as casas para construir um parque que deverá ajudar a prevenir novas enchentes. Ao todo, 232 residências já foram demolidas. Os moradores, entretanto, hesitam em aceitar as duas opções oferecidas pelo governo: o auxílio-aluguel ou um apartamento da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Até agora, os agentes que trabalham na região cadastraram 3.206 famílias. Dessas, 955 optaram pelo aluguel social e 280 foram transferidas para conjuntos habitacionais em Itaquaquecetuba, município vizinho do bairro. Os moradores reclamam da localização das unidades oferecidas. ;Os prediozinhos que eles ofereceram lá em Itaquá [Itaquaquecetuba] ninguém quer porque é no meio do mato. A gente tem filho que estuda. A gente trabalha. Condução lá é mais cara;, afirmou Maria do Carmo da Luz enquanto retirava lama da frente da sua loja de doces. Os R$ 2 mil oferecidos como aluguel social para seis meses, incluídos R$ 200 a título de mudança, Maria do Carmo acha insuficientes. ;Anda por aqui e vê se você acha algum aluguel. Aqui não acha mais. E outra que R$ 300 de aluguel não dá;, diz. Permanecendo em suas casas, os moradores ficam expostos a doenças, além de ter os objetos pessoais destruídos pela invasão das águas. ;O meu irmão pegou leptospirose e passou uma semana ruim. Febre alta, pressão descontrolou;, conta José Edilson Oliveira. Ele relata ainda que sua mãe, que mora na casa ao lado, perdeu grande parte da mobília na enchente de dezembro. Mesmo assim, Edilson se recusa a deixar o local e questiona as justificativas do governo para que abandone a casa, onde vive há 17 anos. ;Se é área de risco, por que construíram o CEU [Centro Educacional Unificado] também?;, pergunta, referindo-se à escola do outro lado da rua. ;Para que construir esse monte de prédio?; aponta para o condomínio em frente. ;Quer dizer que é área de risco só para nós aqui? Se é área de risco é para todo mundo;, completa. De acordo com a prefeitura, o centro educacional ou o condomínio não serão removidos. O lado emocional também ajuda a prender as pessoas ao local. ;Começar tudo de novo não é fácil. Eu criei meus filhos aqui;, ressaltou Maria Elza. Para fornecer o mínimo de condições a essas pessoas que relutam em deixar suas residências, a prefeitura disponibiliza 30 caminhões e 180 homens. O objetivo é remover do bairro 30 toneladas de entulho por dia. Além disso, ficam de plantão equipes do Corpo de Bombeiros, da Guarda Civil Metropolitana e agentes de saúde.<-- .replace('

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