Jornal Correio Braziliense

Brasil

Execução sumária é filmada em BH

Câmeras de vídeo instaladas em salão de beleza por cabeleireira, para se proteger de constantes ameaças do ex-marido, registra seu assassinato a tiros pelo companheiro

Em 48 segundos, o borracheiro Fábio Willian Silva Soares, de 30 anos, invadiu o salão de beleza da ex-mulher, Maria Islaine de Morais, de 31, e a matou com oito tiros, quatro no peito, três nas costas e um na cabeça. O crime foi às 8h40 de ontem, no Bairro Santa Mônica, Região de Venda Nova, em Belo Horizonte. Uma funcionária e duas clientes fugiram assustadas. Toda a ação foi filmada por duas câmeras instaladas pela vítima no local, justamente por medo do ex-companheiro, que a ameaçava de morte há um ano. Revoltados, parentes da vítima entregaram à polícia cópias de oito boletins de ocorrência registrados por ela contra o borracheiro. Em abril do ano passado, segundo o Fórum Lafayette, Fábio foi enquadrado na Lei Maria da Penha. ;Havia, inclusive, uma ordem judicial para ele não se aproximar de Islaine;, disse um cunhado da vítima. [SAIBAMAIS]As imagens do momento do crime são chocantes e mostram desde a chegada do suspeito, que estaciona o carro na rua e discute com a ex-mulher no portão. Ela volta para o salão e continua escovando os cabelos de uma cliente. Ele vai ao carro, busca a arma, entra no salão, saca a arma, empurra a manicure e acerta o primeiro tiro no peito da cabeleireira. Espantada, ela põe a mão sobre o ferimento e cai em seguida. O borracheiro se aproxima dela e dá mais sete tiros de pistola 9mm. O suspeito fugiu numa picape Strada. Fábio e Islaine viveram juntos por cinco anos na casa dos pais dele, onde funciona a borracharia do suspeito, a 50m do salão. Quando se separaram, há um ano, moravam num apartamento no Bairro Candelária. Além de não aceitar o fim do relacionamento e ter um ciúme doentio da ex-mulher, segundo testemunhas, outro motivo do crime seria a partilha dos bens do casal. POSSESSIVO A manicure Ana Cláudia Xavier, de 18, conta que o borracheiro agiu friamente. ;Você está fazendo brincadeira da minha cara. De hoje você não passa;, teria dito o borracheiro, ao dar o primeiro tiro, segundo a testemunha. As ameaças, segundo ela, começaram minutos antes na rua, quando Fábio estacionou o carro. Há quatro meses, o borracheiro teria jogado uma bomba no portão do salão, que está amassado até hoje. ;Com medo dele, ela instalou alarme com sensores e câmeras de TV no salão, pois ela morava nos fundos. Fábio dizia que se Islaine ficasse com outro homem, mataria os dois. Só que ela não estava com ninguém;, disse a manicure. Antes, segundo ela, o salão ficava ao lado da borracharia, mas a cabeleireira foi expulsa do imóvel pela família do suspeito, depois da separação do casal. Duas irmãs da vítima reclamam da falta de apoio da polícia e da Justiça para proteger Islaine das ameaças. ;Ele era muito possessivo. Por diversas vezes, chamei minha irmã para morar comigo no Bairro Caiçara, mas ela era teimosa, não queria se afastar dos seus clientes e acreditava que o relacionamento deles fosse ficar tranquilo;, disse Ronilda de Morais, de 39. Segundo ela, a Justiça já havia proibido o borracheiro de se aproximar da ex-mulher. CINEMA As imagens mostram que, mesmo diante de uma arma, Islaine demonstra tranquilidade. ;Quando ele saca a arma, ela tem uma reação atípica. Não se intimida, como se não acreditasse que ele iria atirar;, observou o perito Anísio Hermsdorff, do Instituto de Criminalística. Ronilda tem a mesma opinião. ;Ela achou que ele não iria atirar, depois de tantas ameaças com armas que ela havia sofrido. Quando ela saía na rua, era perseguida por ele, que batia com o carro na traseira do veículo dela;, disse a irmã. Segundo ela, a cabeleireira adquiriu a câmera para registrar as barbaridades que vinha sofrendo. Uma dona de casa de 52 anos, que mora ao lado do salão, conta que recolhia o lixo de casa quando escutou os tiros. ;Achei que estivessem arrebentando o portão do salão, pois sempre fazia isso. Quando saí, a mulher já estava morta;, conta. Segundo ela, a cabeleireira sempre registrava queixa na polícia, mas ninguém tomava providências. O pai e uma irmã do borracheiro não falaram sobre o crime. O delegado da Homicídios Venda Nova, Álvaro Homero, disse que o crime foi uma execução sumária. Ele interrogou ontem testemunhas e disse que as imagens gravadas serão periciadas. ;Os policiais estão atrás do suspeito;, disse.