postado em 22/01/2010 08:38
São Paulo ; Foi-se o tempo em que era charmoso chamar São Paulo de ;terra da garoa;. Mesmo quando a chuva que cai sobre a cidade é leve, os estragos são grandes. A água que desaba sobre as partes nobres desce em correntezas para a periferia, causando alagamentos e enchentes. Quando as pancadas são maiores nos bairros mais pobres, as casas desabam por falta de sustentação ou acabam engolidas por deslizamentos de terra.
A casa do aposentado Roberto de Fazio, 77 anos, alagava mesmo quando a chuva era fraca. Os vizinhos contam que era comum vê-lo com uma balde despejando na rua a água que se acumulava em todos os cômodos. Ele morava sozinho na Pompeia, na Zona Oeste da capital. Ontem, durante a madrugada, chegou a pedir ajuda para a moradora ao lado. ;Ele bateu na minha porta às 3h da madrugada dizendo que uma viga do teto havia caído e encharcado a cozinha. Mas meu marido não estava em casa e ele voltou para dormir;, conta Maria Celeste Vieira, 55 anos.
Pela manhã, Celeste viu que o teto inteiro da casa de Roberto não resistiu ao peso e à força da água. Ele morreu sob os escombros, comovendo toda a vizinhança. ;A gente sempre acha que essas tragédias ocasionadas pelas chuvas afetam só as regiões em que tem deslizamento de terra;, diz a professora Maria José Sarmento, 45 anos. Foi ela quem chamou o Corpo de Bombeiros para retirar o corpo de Roberto da casa sem telhado.
O Corpo de Bombeiros registrou ontem quatro desabamentos na Grande São Paulo. Três deles na Zona Oeste, nos bairros de Pompeia, Vila Jaguara e Parque São Domingos. O quarto desabamento ocorreu na região do Guarapiranga, na Zona Sul. O sargento Lívio Pedrosa deu a seguinte dica para prever que a casa vai desabar durante ou logo depois de um temporal: ;A casa que está em área de deslizamento ou próxima de morros não desaba da noite para o dia. O primeiro sinal é um desnível nas portas e janelas, além de estalos constantes. Se ao fechar uma porta ou janela, ela não se encaixar na parede, o ideal é sair logo de casa porque há sérios riscos de desabamento;.
Foi com essas dicas que um grupo da Defesa Civil de São Paulo tentava ontem convencer moradores a abandonar suas residências no bairro do Grajaú, no município de Ribeirão Pires, Grande ABC. Uma casa desabou, matando três pessoas. ;Eles mostraram que as paredes estão tortas e que nenhuma das janelas fecha por causa do desnível. Mas eu não tenho para onde ir;, argumenta a vendedora Diores Muniz, 38 anos.
Em alguns pontos de São Paulo, chuvas e enchentes já são tão corriqueiras que a população se acostumou com a rotina de pés molhados. No Jardim Romano, na Zona Leste, desde que os rios Tietê e Pinheiros transbordaram, os moradores convivem com ruas alagadas. A prefeitura bem que tentou ;secar; o bairro com bombas hidráulicas, mas as constantes chuvas renovam a água que toma conta de pelo menos 70% do bairro. ;Muita gente já se mudou. Mas quem não tem para onde ir é obrigado a ficar;, diz o contador Elias Soares da Luz, 29 anos.
Marginais
A chuva que caiu sobre a capital afetou os transportes públicos. Todos os trens do metrô trafegaram em baixa velocidade, congestionando as estações. Os trens que ligam a capital às cidades do interior também foram afetados. Duas linhas ficaram paradas porque em determinados pontos dos trilhos havia enchentes. No centro da cidade, túneis e avenidas ficaram alagados, levando o trânsito a ter lentidão superior a 100km. As marginais Pinheiros e Tietê ficaram totalmente paradas nas primeiras horas da manhã por causa do excesso de águas nos dois sentidos.
[SAIBAMAIS]Para o prefeito Gilberto Kassab, os alagamentos não têm relação com a falta de investimento em saneamento básico nas áreas periféricas. Segundo ele, a culpa é da natureza e do crescimento desordenado, já que ;o excesso de áreas impermeáveis gerou os transtornos; após o temporal da madrugada. ;O problema dos alagamentos foi o crescimento desordenado da cidade, que impermeabilizou o solo;, justificou. <-- --> <--
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