Brasil

Stedile, líder do MST: "A ocupação de terra não soma aliados"

A invasão de terra está deixando de ser o carro-chefe do MST, segundo o integrante da coordenação nacional do movimento

Carlos Wagner
postado em 27/01/2010 10:04
[SAIBAMAIS]O economista João Pedro Stedile, 56 anos, é quem dita a linha política seguida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ontem, em Porto Alegre, onde participa do Fórum Social Mundial, ele falou que o MST passa por um ;momento de reflexão;. A invasão de terra está deixando de ser, segundo ele, o carro-chefe por não fazer mais aliados políticos. O novo caminho passaria pela aliança com os trabalhadores urbanos. A mudança de foco não é pacífica. Há um debate forte entre os militantes, que já levou a confrontos ideológicos, principalmente no Rio Grande do Sul. A seguir, trechos da entrevista concedida ontem a ZH: Zero Hora ; O que mudou no MST? João Pedro Stedile ; Não foi o movimento que mudou. Foi a luta pela terra. Nos anos 70 e 80, uma parcela da burguesia nos apoiava porque apostava em um modelo de desenvolvimento industrial que precisava de mercado interno para vender os seus produtos. Cito como prova desse apoio o plano de reforma agrária de Sarney (José Sarney, presidente do Brasil entre 1985 a 1990), que pretendia assentar 1,4 milhão de famílias. Isso mudou com a implantação do modelo neoliberal que consolidou o agronegócio, que depende do capital financeiro e das empresas transnacionais. ZH ; Qual a reflexão desse momento na política interna do MST? Stedile ; Estamos em um momento de reflexão, pensando em um novo modelo para seguir. Nos anos 70 e 80, bastava ocupar terras e se conseguia apoios que resultavam em pressão política. Hoje, a ocupação de terra não soma aliados. Portanto, não interessa mais. Estamos buscando novas alternativas para fazer aliados. E a que está se mostrando mais compatível é a aliança com trabalhadores da cidade. ZH ; Como fazer alianças se o movimento enfrenta uma onda de antipatia na opinião pública? Stedile ; É manipulação da mídia. Temos o apoio do povão do interior. Antipatia é de classe. Antes falavam mal do Lula. ZH ; Mas o presidente Lula mudou. É possível que a necessidade de aliança leve o MST a repensar estratégias de luta, hoje consideradas antipáticas pela população, como o fechamento de estradas? Stedile ; Tudo está sendo repensado com a finalidade de dar prioridade às alianças políticas, para somar forças na luta contra o inimigo atual: o modelo de desenvolvimento. ZH ; No ano passado houve o episódio da invasão do prédio do Incra. Na ocasião, a Polícia Federal apurou o desaparecimento de vários equipamentos, como notebooks. Também houve depredação do prédio. O que aconteceu? Stedile ; A explicação mais razoável que ouvi até agora é que fomos vítimas de infiltração em nossas fileiras de pessoas que praticaram o roubo e a depredação com objetivo de prejudicar a imagem do movimento. Essas pessoas também implantaram um caderno (um diário que relata reuniões e estratégias da organização achado por ZH no estacionamento do Incra) que acabou saindo em uma reportagem. ZH ; Vocês localizaram os infiltrados? Stedile ; Ainda não. Essa é uma das escassas vezes em que há infiltração com esta finalidade no Rio Grande do Sul. É comum em outros Estados. ZH ; Na semana passada, a Polícia Federal prendeu em Herval assentados envolvidos com furto de gado. Também houve infiltração? Stedile ; Não foi um problema de infiltração. São assentados que têm laços familiares com ladrõezinhos da cidade e acabam se envolvendo. ZH ; Há uma década o movimento vem incluindo em suas fileiras pessoas de vilas urbanas. Que influência eles têm hoje no MST? Stedile ; Esse pessoal representa uns 15% do contingente dos sem-terra aqui. Ainda é cedo para fazer uma avaliação. ZH ; Qual a importância da eleição presidencial na arquitetura de alianças que está sendo gestada pelo movimento? Stedile ; Não terá influência, porque não irá mudar o modelo. Vai ser apenas uma polarização entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). ZH ; Qual candidato o movimento apoia? Stedile ; Somos contra o Serra.

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