;Vi a morte de perto. Desse mosquito, quero distância.; O desabafo é de quem acabou de passar pela mais perigosa forma de dengue: a hemorrágica. Ana Rodrigues, de 52 anos, ficou 12 dias internada em estado grave e na quinta-feira, ao ter alta, voltou para casa com medo de passar pelo pesadelo de novo. E ela tem motivos para temer. Já são 1.057 suspeitas de contaminação na capital e 208 casos confirmados, sendo 95 na Região de Venda Nova (45,6% do total). Os novos dados, divulgados quinta-feira pela secretária municipal adjunta de Saúde, Susana Rates, farão com que a prefeitura reforce as equipes de mobilização e prevenção na área. ;O cenário está perigoso. Se a população não ajudar, não vamos conseguir combater a doença;, alerta Susana.
Janeiro ainda não terminou e Belo Horizonte já tem 46 pacientes internados. Destes, 23 estão ou tiveram a dengue clássica e 13, a hemorrágica. O último balanço divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, referente ao início da semana, apontava 65 casos confirmados e 582 suspeitas de contaminação. Em menos de três dias o número de casos confirmados quase triplicou.
;A gente pensa que um inseto tão pequeno não pode nos fazer tanto mal, mas a realidade é outra. Já tive outros problemas de saúde, mas só nesse tive medo de morrer;, conta Ana, que mora em Santa Luzia, na Grande BH, mas se tratou na capital. A cidade de Ana, de acordo com o Levantamento Rápido do Índice de Infestação para Aedes aegypti (Liraa) de 2010, divulgado na quarta-feira pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), tem, a cada 100 imóveis, dois infectados pelo inseto.
Ana é um retrato do desafio da capital: receber e tratar os pacientes vindos da região metropolitana. De acordo com a SES, das 25 cidades mineiras em estado de alerta, nove são da Grande BH. ;Se o quadro da dengue for como foi o ano passado, 20 leitos são suficientes. No entanto, para os enfermos que chegam da RMBH são necessários 40. Por isso, estamos nos reunindo com representantes desses municípios para reforçar o combate ao mosquito nessa regiões;, afirma a secretária.
Retaguarda
O Hospital São Francisco, no Bairro da Graça, na Região Nordeste, é, desde o dia 19, a retaguarda para os casos de dengue na capital. O hospital, que ano passado esteve prestes a fechar as portas, vem se recuperando e já conta com 40 leitos, ocupados de forma progressiva. ;Como ainda não há tantas pessoas para internação, os leitos estão sendo usados pela clínica médica, pois eles não podem ficar ociosos;, afirma Susana Rates.
Segundo ela, na segunda quinzena de fevereiro serão ativados 20 leitos de unidade de reposição volêmica, para pacientes que vão precisar se hidratar. ;Esses enfermos ficam na unidade de 12 a no máximo 24 horas. A grande vantagem é que, no ano passado, esse setor ficava em Venda Nova e a internação, na Santa Casa. No São Francisco esses dois setores estarão em um só lugar;, compara, acrescentando que no próximo mês serão ativados 12 leitos de CTI.