Glória Tupinambás
postado em 31/01/2010 09:53
O burburinho ao fundo da sala de aula, a fofoca sempre feita pelas costas e a risada maldosa no canto da boca ganham dimensões cibernéticas quando chegam às redes sociais e aos sites de relacionamento da internet. A agressão, o preconceito e as humilhações que antes ficavam restritos a um pequeno grupo de pessoas agora fogem ao controle até das autoridades e ganham o mundo sob a forma do cyberbullying. Se ainda não ganhou tradução em português, o termo bullying - derivante de "bully", que quer dizer valentão - tem significado forte para os jovens que sofrem a intimidação dos colegas e até de professores.
[SAIBAMAIS]O assunto é tão sério que se tornou alvo de estatística do IBGE. Três em cada 10 estudantes brasileiros, matriculados no último ano do ensino fundamental, relatam ter sido vítimas dessa humilhação. E Brasília é a capital com o maior índice de casos (35,6%). O segundo lugar é ocupado por Minas Gerais.
Na internet, o fenômeno faz novas vítimas a cada dia e já responde por uma avalanche de processos na Justiça contra empresas virtuais e provedores de sites, como o Orkut, de propriedade da Google Brasil, que abriga cerca de 90% dos conteúdos criminosos investigados recentemente pelo Grupo de Combate a Crimes Cibernéticos do Ministério Público Federal (MPF).
"Pela internet, o potencial de disseminar atos ilícitos é infinitamente maior e ainda há o requinte do anonimato propiciado pela tecnologia", alerta a coordenadora da Promotoria de Combate aos Crimes Cibernéticos do Ministério Público, Vanessa Fusco Nogueira Simões, especialista em cyberbullying. Ela diz que os jovens são mais suscetíveis ao bullying porque estão em fase de afirmação.
Rodrigo (nome fictício), 8 anos, conhece bem os traumas desse tipo de agressão. Em agosto do ano passado, colegas de sala mancharam a reputação do garoto ao criar um falso perfil num site de relacionamentos. "Eles tiraram uma foto minha pelo celular e colocaram meu nome, minha idade e a escola em que estudo na página. Não gosto nem de lembrar o que falaram de mim. Disseram que sou 'mulherzinha' e outras coisas horríveis", contou Rodrigo, ainda muito abalado. Os pais do menino, aluno de um colégio particular de Belo Horizonte, estão movendo uma ação contra a empresa virtual.
Em Brasília, a servidora pública Estela (nome fictício), 31 anos, foi vítima de bullying duas vezes na adolescência. O episódio mais traumático ocorreu quando ela tinha 11 anos. "Um dia comentei que o trabalho do nosso grupo estava uma titica. A palavra virou meu apelido, e se espalhou por toda a escola. Sempre que eu entrava na sala de aula, meus colegas entoavam um coro sussurrando "titica-titica-titica". Na época, ela não conseguiu contar o que se passava nem para os pais. "Quem sofre com o bullying não conta. A confiança que temos nas pessoas é abalada. Se até nossos amigos fazem isso, em quem confiar?", questiona.