Brasil

Uruguaia fica frente a frente com policial do Dops que a sequestrou na época da ditadura

Lucas Figueiredo
postado em 05/02/2010 08:38
Trinta e dois anos depois de ser sequestrada em Porto Alegre numa operação clandestina das ditaduras militares do Brasil e do Uruguai, a socióloga uruguaia Lílian Celiberti pôde, pela primeira vez, apontar na Justiça brasileira um de seus raptores: o ex-policial do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) do Rio Grande do Sul João Augusto da Rosa (codinome Irno). Celiberti e Irno estiveram ontem cara a cara na sala de audiência da 18; Vara Cível da capital gaúcha. ;A juíza perguntou se eu conhecia o policial. Olhei bastante para a cara dele e disse que sim;, afirmou a socióloga ao Correio. ;Eu disse na audiência que ele (Irno) foi um dos homens que me mantiveram presa em meu apartamento vários dias em 1978 e que depois me levou, juntamente com meus filhos, para Chuí, onde fui entregue a militares uruguaios;, disse Celiberti. Irno move uma ação contra o jornalista Luiz Cláudio Cunha, que no ano passado publicou o livro Operação Condor: o sequestro dos uruguaios, que conta o episódio. Cunha arrolou Celiberti como testemunha de defesa, o que fez com que ela e o sequestrador se encontrassem pela primeira vez. A socióloga, que não tinha sido ouvida antes pela Justiça brasileira, considerou um avanço a audiência de ontem. ;A democracia que permite a este policial entrar com uma ação contra um jornalista por um fato insignificante é a conquista de quem não se calou;, analisou Celiberti. Em novembro de 1978, a então estudante Lílian Celiberti, seu companheiro, Universindo Díaz, e os dois filhos do casal, Francesca (3 anos) e Camilo (8), foram sequestrados em Porto Alegre numa ação da qual fizeram parte militares e policiais das ditaduras do Brasil e do Uruguai. Não fosse a intromissão de um repórter curioso, Cunha, essa seria mais uma ação misteriosa da Operação Condor (a parceria das ditaduras sulamericanas que visava caçar e matar inimigos em comum). Seguindo uma dica passada num telefonema anônimo, Cunha foi até a casa onde Celiberti era mantida sob cárcere privado, testemunhando assim o sequestro. O repórter chegou a ver alguns dos sequestradores, entre eles Irno. Depois do sequestro, Celiberti e Universindo foram levados ilegalmente para o Uruguai, onde ficaram cinco anos presos nas masmorras do general-ditador Gregorio Álvarez. Nesse período, Cunha denunciou o sequestro em mais de uma centena de reportagens. Em 1984, Celiberti e Universindo foram soltos. <--
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