Luciane Evans, Estado de Minas
postado em 05/02/2010 16:37
Negociações já adiantadas entre clínicas particulares de todo o país e laboratórios multinacionais trazem alívio para os grupos que ficarão fora da campanha pública de vacinação contra a gripe suína, promovida pelo Ministério da Saúde a partir de 8 de março e que deve imunizar 62 milhões de brasileiros ; cerca de um terço da população. A rede privada também poderá vacinar qualquer pessoa contra o vírus influenza A (H1N1), independentemente de pertencer aos grupos considerados prioritários pelas autoridades sanitárias federais. As doses serão negociadas diretamente entre as clínicas e os produtores, sem nenhuma interferência do governo. Instituições que quiserem promover a imunização contra a doença, que já matou 14 mil pessoas no mundo, 1,7 mil delas no Brasil, terão que importar a vacina dos dois únicos laboratórios que receberam registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercializar no Brasil: Glaxo Smith Kline (GSK) e Sanofis-Pasteur.
Em Minas Gerais, as vacinas devem entrar no calendário de entidades como o Serviço Social do Comércio (Sesc), embora ainda não haja data para o início da imunização. ;Estamos em fase de negociação. O Sesc é tradicional nesse tipo de alternativa para a imunização e certamente não ficaríamos de fora de uma campanha como essa. Ainda não sabemos como serão distribuídas as vacinas e muito menos o preço, mas não deve ser tão mais alto do que o da gripe sazonal, que no ano passado custou cerca de R$ 30;, explica o diretor da área de Saúde do Sesc em Minas Gerais, Antônio Carvalho Campos.
Nada menos que 128 milhões de brasileiros estão fora do calendário de vacinação definido pelo Ministério da Saúde, que beneficiará os jovens entre 20 e 29 anos, crianças de 6 meses a 2 anos, trabalhadores da área da saúde, grupos indígenas, doentes crônicos e gestantes. Porém, mesmo com o reforço representado pela rede particular de saúde, a vacinação não deve ser universal. ;Não haverá doses para todos;, alerta o presidente da Sociedade Mineira de Pediatria, Paulo Poggiali.
Mesmo assim, para os pais, preocupados com o filhos maiores de 2 anos e menores de 20 anos, a notícia surgiu como um alívio. Henrique, de 10, e Bernardo, de 9, filhos do funcionário público Adriano Najar, de 49, não estão na lista dos grupos prioritários para a vacinação pública, o que vinha causando apreensão. ;É uma gripe que já matou milhares de pessoas, não é brincadeira. Lembro que, no auge da epidemia, os meninos andavam com gel na mochila e sempre estavam atentos;, afirma Adriano, satisfeito com a possibilidade de proteger os dois.
;Se tudo der certo, eles serão vacinados. Mas, e quem não tem dinheiro e também não está entre os que terão prioridade?;, questiona. A servidora estadual Marília Aparecida Santos Pereira, de 51, conta que, além de imunizar o filho, de 17 anos, também quer receber a dose. ;Sabemos que a garantia não é de 100%, mas vale mais do que ficar evitando ônibus e lugares cheios;, compara.
Triagem
Porém, a recomendação do Ministério da Saúde é de que as clínicas particulares que forem aderir à vacinação contra a gripe suína dêem prioridade à imunização de pessoas que estão nos grupos definidos como de risco. ;É preciso assegurar que haja condição de atender a toda essa demanda. A proteção é interessante e, entrando na rede particular, está dando direito a outros de se imunizar. Mas certamente as doses não serão suficientes para todos. Uma criança com menos de 2 anos é prioridade, porque com qualquer resfriado ela pode desenvolver complicações crônicas. E essa é a estratégia do ministério;, comenta o pediatra Paulo Poggiali, acrescentando que os pais que buscarem a imunização dos filhos maiores devem receber orientação adequada.
;Um adolescente, por exemplo, deve se vacinar, porque é muito receptivo ao vírus, uma vez que frequenta ambientes com diversas pessoas.; De acordo com ele, ainda que a Sociedade Brasileira de Pediatria não tenha emitido nenhuma nota oficial recomendando médicos a orientar pais sobre a vacinação na rede particular, a Sociedade Mineira de Pediatria endossa a estratégia de prioridade do Ministério da Saúde.
Calendário
As doses que serão compradas pelas clínicas particulares não têm qualquer relação com as adquiridas pelo Ministério da Saúde para imunizar os 62 milhões de brasileiros de grupos considerados de risco (veja calendário no quadro). Ao todo, o governo brasileiro comprou 83 milhões de doses, com gastos de R$ 1 bilhão. Dessas, 13 milhões de doses ficarão como reserva técnica para eventual necessidade de ampliação do grupo a ser imunizado na campanha pública.
A estimativa é de que 6 milhões de doses sejam perdidas no momento da manipulação da vacina. Além disso, o país vai doar 1 milhão de doses para nações mais pobres.