postado em 05/02/2010 16:47
Antonio Ricardo especial para o Diário de Natal
Dormindo em cima de um papelão e improvisando uma pequena mala como travesseiro. Foi dessa maneira que a reportagem do Diário de Natal encontrou o turista alemão Klaus Gutschmidt, 50 anos, na manhã de ontem (4/2), no segundo piso do Aeroporto Internacional Augusto Severo, que fica no município de Parnamirim, na Grande Natal. Com dificulades para falar português, ele está desde o mês de dezembro no Brasil, quando veio para a casa de uma natalense que conheceu pela internet. Após um desentendimento, o estrangeiro ficou sem lugar para se hospedar e acabou sendo assaltado. Abrigado no aeroporto há cerca de seis semanas, Klaus está recebendo auxílio de funcionários do local.
Como a comunicação é complicada (ele fala e entende apenas algumas palavras em português), a funcionária de uma das lojas do aeroporto, Vanilda Pereira Aguiar, contou um pouco de como estão sendo os dias do europeu em Natal. Ela, juntamente com outras pessoas que trabalham no Augusto Severo, estão ajudando o alemão na medida do possível.Segundo Vanilda, a presença de Klaus foi percebeida há cerca de um mês, enquanto ele ficava perambulando o saguão. "Ele chegou aqui em uma ambulância da Samu e parecia que estava com medo. Tivemos o primeiro contato com ele em um domingo e perguntamos se ele estava com fome. Ele nos disse que sim e que a última vez que tinha comido teria sido na quarta-feira", explica.
A funcionária relatou que conseguiu, junto ao aeroporto, a permissão para que o turista pudesse tomar banho no banheiro do estacionamento. "Uma colega também levou ele para tomar banho na casa dela e deu algumas mudas de roupa, sabonete, escova. Ele chegou a ficar dez dias sem fazer uma higiene básica". Dos pertences que trouxe para o Brasil, Klaus tem apenas uma calça jeans, uma camisa preta, dois cartões de bancos e o passaporte, que está em poder da Polícia Federal. Ele foi atendido no posto médico que fica no interior do Augusto Severo e medicado, já que apresentava inchação e feridas nos pés. Os remédios foram comprados por Vanilda Aguiar.
Por meio de gestos e algumas palavras que entende, Gutschimdt revelou que já entrou em contato com a família pela internet, através de uma lan house que fica dentro do aeroporto. Segundo ele, a mãe está ciente da situação que ele vive no Brasil, mas não pode ajudar, já que é doente e não tem condições financeiras. Klaus também entrou em contato com a empresa de energia solar na qual trabalha, em uma cidade pequena da Alemanha, que não teria depositado o dinheiro referente às férias. "De acordo com o que ele me disse, a empresa ficou de depositar, mas até agora nada", acrescentou Vanilda. Quando perguntado sobre qual seria o seu maior desejo, ele respondeu misturando os sotaques. "Voltar a trabalhar".
Visto
De acordo com o Chefe do Núcleo de Fiscalização de Tráfego Internacional do aeroporto, Rildo Albuquerque, Klaus Gutschmidt, por enquanto, não corre o risco de ser deportado do país. Segundo ele, no passaporte do alemão consta um visto de permanência no Brasil com validade de três meses, que expira apenas no dia 15 de março. "Apenas depois desse prazo é que pode-se abrir um processo para deportação". Ele também disse que não há indícios de que o europeu tenha algum problema com a polícia. "A entrada de estrangeiros é regulada. Temos um sistema integrado internacional que identifica criminosos. Se ele tivesse algum problema, não teria desembarcado no Brasil", explica.
A assessoria de imprensa da Infraero, empresa que administra os aeroportos brasileiros, afirmou que não há problemas na permanência do alemão nas dependências do Augusto Severo. Segundo a assessoria, a área é pública e desde que ele não cause incômodos, pode permanecer abrigado no saguão.