
A dor, a saudade e o clamor por justiça marcaram o velório e sepultamento do estudante de biomedicina Alcides do Nascimento Lins, de 22 anos, no cemitério de Santo Amaro, em Recife (PE). O jovem foi morto no fim da noite da última sexta-feira, dentro da residência, na Vila de Santa Luzia, no bairro da Torre. Familiares, vizinhos e amigos foram dar o último adeus a quem todos disseram ter sido um motivo de orgulho pessoal e profissional. O assassinato do rapaz ainda é envolvido em mistério.
Segundo dados preliminares do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a vítima teria sido morta por engano, já que os suspeitos estariam à procura de dois homens que se chamariam Tiago e Saúba, residentes na mesma comunidade. O delegado Isaías Novaes, da 2; Delegacia, foi designado pela Secretaria de Defesa Social para comandar as investigações.
Vestida com o jaleco e de posse de terços do filho, que fazia parte do grupo de jovens da Igreja da Torre, a dona de casa Maria Luíza Ferreira do Nascimento, 44 anos, quase não conteve a emoção no enterro. Abalada, passou mal algumas vezes. Sem condições emocionais, ela não conversou com a imprensa. Nenhum familiar presente quis comentar o homicídio.
O enterro contou com a presença do reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Amaro Lins, e da pró-reitora de assuntos acadêmicos, Ana Cabral. No dia do resultado do vestibular, na quinta-feira passada, o reitor havia telefonado para o estudante parabenizando-o por mais uma vitória: a aprovação da irmã na mesma instituição onde estudava. O professor universitário Adelson Araújo, que estava orientando o projeto de pesquisa e conclusão do curso do jovem, também foi dar o último adeus. ;Ele sempre foi um garoto aplicado, estudioso(1) e cordial. Desenvolvia uma pesquisa sobre um dos tipos de anemia. Na sexta-feira, tive uma reunião com ele, que preparava o relatório da pesquisa para apresentar à faculdade;, lembrou o professor. ;Acabaram com o sonho dele. Certamente, seria um professor, um acadêmico. Ele já fazia isso: passava o conhecimento que tinha. Teria um futuro muito bom.;
Amiga de faculdade, a jovem Sirlene Lucena também prestou sua homenagem. ;Cada um com o seu diploma, temos um pouquinho dele também em nós. Todos nós éramos iguais. E vou sempre me lembrar do sorriso dele, invariavelmente estampado;, disse. ;Estamos com a sensação de injustiça. De uma vida roubada. Nós nos sentimos impotentes. O que eles fizeram foi acabar com a vida de uma criatura que só queria ter uma vida melhor.; O estudante se formaria no ano que vem.
Um movimento de protesto contra a violência está sendo organizado entre amigos do universitário. A promotora de vendas Janaína Duarte, 29 anos, amiga de infância de Alcides, relembrou o apoio que ele dava para ela melhorar de vida. ;Sempre acompanhei a trajetória dele. Ele sempre me deu apoio e dizia que eu ia conseguir. Juca (como era chamado) é um jovem com um sorriso que ninguém vai ter;, destacou.
1 - Celebridade midiática
O estudante de biomedicina Alcides do Nascimento Lins ficou conhecido após ser aprovado em 1; lugar geral da rede pública de ensino no vestibular da UFPE, em 2006. A emoção no resultado, estampada nos rostos da mãe e do filho, foram mostradas pela TV Globo. O programa Fantástico e o Globo Repórter contaram a história de superação dessa família em 2007. <--
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--> Forças para recomeçar
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Marias Luízas existem em todas as esquinas. Mães que assumem as obrigações financeiras da casa, do cuidado com os filhos. Faxineiras, auxiliares de serviços gerais que batalham para alcançar um único objetivo: tirar os filhos de um destino traçado pela miséria socioeconômica, por uma realidade de muitos brasileiros. Maria Luíza Ferreira, a mãe de Alcides, venceu uma das batalhas: ver o filho mais velho aprovado com destaque no vestibular. O esforço valeu a pena. O diploma foi trocado pela tristeza de presenciar a morte dele. Maria, assim como tantas outras, procura forças para recomeçar a luta em nome das três outras filhas.
A estudante Ana Paula Nascimento, 20 anos, uma das irmãs do jovem, definiu Alcides do Nascimento com a palavra perseverança. Ela lembrou todo o esforço dele para ajudar a família ao longo de sua trajetória acadêmica, após ser aprovado no vestibular em 2006. ;Ele sempre pegava no pé para que a gente estudasse. Pagou tudo para mim, inclusive o cursinho. Agora, passei em farmácia;, disse. Na noite do homicídio, eles comemoravam a aprovação da irmã no vestibular da UFPE. Apesar das dificuldades financeiras, o estudante nunca deixou as irmãs trabalharem. Ele sustentava as três e a mãe com o dinheiro da bolsa de estudos que ganhava por desenvolver pesquisa acadêmica e também por meio de outros estágios. ;Ele era a esperança dessa família. E agora?;, questionou a mãe de um amigo do estudante, Gilvânia Maria da Silva, 45.
"Ele sempre foi um garoto aplicado, estudioso e cordial. Acabaram com o sonho dele. Certamente, seria um professor, um acadêmico. Ele já fazia isso: passava o conhecimento que tinha;
Adelson Araújo, professor universitário