Brasil

Congregação divulgará cartas escritas por Dorothy para exigir justiça no campo

postado em 08/02/2010 17:24
O quinto ano da morte da missionária norte-americana Dorothy Stang será lembrado com a divulgação de várias cartas escritas por ela e de documentos que portava quando foi morta a tiros no município paraense de Anapu. Segundo freiras da Congregação de Notre Dame, da qual Dorothy fazia parte, o objetivo é cobrar o julgamento de um dos acusados de mandante do crime, ocorrido em 12 de fevereiro de 2005. Elas querem também chamar a atenção das autoridades para os conflitos de terra que ainda ocorrem no Pará e para supostas fraudes em documentos para obtenção de financiamento públicos.

;O que estamos tentando fazer, com os poucos recursos e o pouquíssimo conhecimento que temos, é trazer isso [as cartas da irmã Dorothy] a público e esperar que as autoridades se preocupem, façam uma investigação bem melhor e esclarecedora;, disse à Agência Brasil a irmã Rebeca Spires. ;O combate à impunidade é nossa meta, nosso ideal, nosso esforço;, completou Rebeca, que trabalhou mais de 30 anos com Dorothy.

Segundo a religiosa, em seu trabalho pelos pobres, irmã Dorothy documentava todas as ações que fazia. Enviava cartas a representantes de vários órgãos na região, como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), muitas vezes escritas de próprio punho, para tentar fazer valer a lei e também evitar a destruição da floresta.

;A Dorothy não tinha a mesma meta que nós, de desvendar e quebrar esse crime organizado. A meta dela era colocar aqueles lavradores na terra, assim como o governo havia prometido em documento. Não só promessas, mas colocá-los lá em paz;, argumentou Rebeca.

;Ela denunciava cada infração. E eram muitas. Com aquela constante perturbação, ela conseguiu a aplicação de multas e indiciamentos [a fazendeiros e grileiros];, disse Rebeca. Para ela, esse teria sido o motivo da morte de Dorothy Stang. ;Estamos convencidos de que isso que provocou a morte dela. Não era só o lote de terra. Era porque ela estava atrapalhando essa série de crimes que eles cometeram. E a gente foi descobrindo, estudando a documentação que ela nos deixou;, acrescentou.

Em uma das cartas, escrita em 19 de fevereiro de 2004, Dorothy denuncia às ;autoridades de segurança pública;, que famílias do Lote 16, na Gleba Bacajá, em Anapu, estavam sendo ameaçadas por um madeireiro e por ;homens armados;.

Segundo a carta, na ocasião, o fazendeiro estaria também ameaçando trabalhadores de uma firma contratada pelo Incra para fazer a demarcação dos projetos de desenvolvimento social (PDS) criados por Dorothy. ;Ele já ameaçou os agrimensores dessa firma contratada pelo Incra para tirar os perímetros oficiais do PDS. Esses homens da firma saíram da mata para não morrer;, diz a carta.

Irmã Rebeca disse que problemas semelhantes ainda ocorrem na região, muitos deles, segundo ela, com apoio de políticos. ;Olha, é bastante complicado, por aquilo que as nossas irmãs que moram lá contam. Os pistoleiros rondam a área, ainda ocorre desmatamento. O povo tomou iniciativa de parar caminhões de madeira, o Ibama apareceu depois, porque o povo chamou. Mas uma ação eficaz para deter a grilagem e a exploração ilegal da madeira não está acontecendo por parte oficial;, afirmou.

Ela informou que, como o dia 12, data da morte de Dorothy, coincidirá com o período de carnaval, as manifestações em homenagem à missionária, serão realizadas ainda nesta semana, em Anapu e em Belém.

;Em Anapu, todos os anos, na data do aniversário, são realizadas manifestações o dia inteiro, até noite adentro. Aqui na capital, haverá manifestação em frente ao tribunal [de Justiça do Pará]. Haverá muitas manifestações.; Irmã Rebeca espera que isso provoque também as autoridades a fazer sua parte. ;Talvez não façam, porque a gente vai diretamente a eles, então a gente vai por fora também.;

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