São Paulo - Um bloco animado por 20 ritmistas mirins da escola de samba Vai Vai percorreu as ruas do centro de São Paulo, na manhã desta quarta-feira (10/2), com o intuito de chamar a atenção para a exploração sexual de crianças e adolescentes.
A campanha foi organizada pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social em parceria com a Comissão Municipal de Enfrentamento à Violência, Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (CMESCA). Os integrantes distribuíram à população folhetos, adesivos, abanadores e viseiras pedindo o fim da exploração sexual de crianças.
Segundo uma das organizadoras do Bloco na Rua pelo Fim da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a coordenadora do CMESCA, Eliane Schutt, a exploração sexual de crianças e adolescentes tende a aumentar no período do carnaval por conta da maior circulação de pessoas e dinheiro.
;Crianças e adolescentes são pessoas e desenvolvimento e para que tenham um desenvolvimento físico e emocional adequado precisam de condições e se sentir protegidos. Uma situação de abuso e exploração sexual vai na contra-mão disso. Eles perdem a capacidade de confiar no adulto e no ser humano. E precisam dessa referência para seu desenvolvimento normal.;
Eliane ressaltou que a violência sexual ainda é de certa forma invisível à sociedade porque a sexualidade é um tabu e envolve questões morais e familiares. ;Muitas vezes quando se fala de exploração sexual isso é feito de forma camuflada e tende a ser escondida porque é crime passível de pena. Por envolver a família, a sociedade acaba não querendo olhar para o fato de que as crianças são, sim, alvo de violência sexual.;
Ela disse ainda que a violência sexual contra crianças e adolescentes ocorre nas mais diversas camadas sociais. ;Abuso sexual não é privilégio de crianças pobres. Acontece na classe média, alta. Mas muitas vezes tem o apelo do dinheiro, com crianças que oferecem seu corpo em troca de um agrado, de um presente. Nesses casos, as crianças que estão em condição familiar financeiramente mais vulnerável acabam sendo mais facilmente abordadas assediadas e caem na rede de exploração.;
O ator Marcos Frota que apoiou e participou do bloco destacou que o Brasil se prepara para ocupar uma posição de liderança no mundo e que não deve "levar a mancha da exploração sexual na bandeira".
;Isso retrata um pouco de imundície social, ignorância, terceiro mundismo no qual não podemos mais ficar. Se chocam as enchentes em São Paulo, choca muito mais uma questão como essa. Mostra um pouco da atitude, do caráter de um povo. Temos que acabar definitivamente com essa história.;
Na opinião de Frota, a questão ainda é de certa forma invisível à sociedade porque tudo que é relacionado ao sexo é tratado de maneira tímida no Brasil. ;Esse assunto é muito delicado e as famílias envolvidas preferem guardar sua dor a expô-la à sociedade. Só que os números são assustadores e as atitudes cada vez mais violentas. Então não pode ficar guardando isso para a banca de terapia. Tem que ir às ruas e mobilizar, constranger, comunicar a sociedade.;
Para a secretária de Assistência e Desenvolvimento Social do município, Alda Marco Antônio, a exploração sexual é um crime que, muitas vezes, não é percebido nem pela mãe da criança que está sendo explorada. ;Muitas crianças morrem de ataques sexuais de adultos. As que sobrevivem muitas vezes ficam aterrorizadas e não conseguem falar."
Ela recomenda que as pessoas adultas observem as crianças e, caso percebam que ela está mais calada ou retraída que o normal ou que apresenta manchas pelo corpo, procurem conversar e identificar se a criança não está sofrendo maus tratos.