Brasil

Família revela como mulher sobreviveu à fúria de maníaco na Grande BH

Estado de Minas
postado em 11/02/2010 10:49
Landercy Hemerson, Glória Tupinambás e Lucas Figueiredo

[SAIBAMAIS]

No mesmo dia em que foi confirmado que a ossada enterrada sem identificação em janeiro é da estudante de direito Natália Cristina de Almeida Paiva, de 27 anos, surge mais uma importante pista policial para a sucessão de assassinatos de mulheres na Grande BH: uma auxiliar de produção de 34 anos, que escapou com vida do ataque de um maníaco, foi localizada pelo Estado de Minas e pode levar à identificação do criminoso. Há a possibilidade de que sua história tenha ligação com o serial killer que já fez pelo menos três vítimas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e está sob investigação por outros dois homicídios. A mulher, cujo nome será preservado pelo EM , escapou da morte graças a um descuido do estuprador, que acreditou que ela já estava sem vida. Além de violentá-la, o homem tentou enforcá-la com um cadarço de tênis e levou seu celular, assim como ocorreu com outras duas vítimas do assassino em série. Outro ponto em comum são semelhanças físicas da sobrevivente com as demais mulheres: todas morenas, magras e de cabelos longos e pretos.

A voz embargada, os movimentos dos braços limitados e uma profunda crise emocional são as fortes marcas que dificilmente vão ser esquecidas pela auxiliar de produção, atacada no começo de janeiro, em Sabará, na Grande Belo Horizonte. Na quarta-feira à noite, os sogros e um cunhado da vítima falaram com o EM, num desabafo contra a falta de atenção policial, 34 dias depois do ataque.

A sogra da auxiliar, a dona de casa A., de 57, prefere ser cautelosa ao fazer qualquer ligação entre os ataques. ;Minha nora foi violentada por uma pessoa que morava aqui no bairro há cerca de um ano. Ele tentou matá-la e quando soube que foi encontrada viva, por um milagre, foi embora com os pais e irmãos para Itaobim (Vale do Jequitinhonha), cidade de onde vieram para morar aqui;, afirmou.

A. disse que ainda guarda as roupas que a nora usava durante o crime, mas que nesse período de mais de um mês não foi procurada por ninguém da polícia. ;Já pensei em jogar as peças fora, mas pode ser que sirvam de prova. Apesar de todo o sofrimento, minha nora recorda bem do rapaz que a atacou e não tem dúvidas em apontá-lo. Se ele, que deve ter menos de 25 anos, está envolvido em outros casos, é a polícia que deve apurar;. O suspeito apontado pelos parentes é moreno, cabelos bem curtos, de baixa estatura, porém, forte. A família da mulher preferiu não revelar o nome do ex-vizinho.

O drama da auxiliar de produção começou na manhã de 7 de janeiro, por volta das 6h. Um dia antes de sair de férias, ela foi trabalhar bem cedo, passou próximo ao local em que o sogro trabalha e pouco à frente, teve seu percurso desviado. No começo da noite, quando a filha da vítima, uma menina de 8 anos, se deparou com uma colega de trabalho da mãe retornando sozinha, foi que percebeu que havia algo errado. ;Minha neta perguntou pela mãe e a amiga disse que ela não tinha ido trabalhar. Naquela noite, iniciamos uma busca por vários locais, que varou toda madrugada;, recordou a dona de casa.

Descaso

Para A., o maior descaso da polícia foi o fato de que, no dia do sumiço, à tarde, uma pessoa denunciou que havia uma mulher morta num matagal próximo. ;À noite, ligamos informando seu desaparecimento, mas a polícia não tomou qualquer providência. No dia seguinte, foi que um vizinho nos alertou de que policiais haviam estado no local, no dia 7, mas não acharam nada. Daí, eu, meu marido, filhos e vizinhos concentramos as buscas numa mata que fica na área;.

O aposentado J., de 67, sogro da vítima, foi quem a encontrou por volta das 10h, do dia 8. ;Ela estava como veio ao mundo e logo coloquei minha camisa sobre seu corpo. Com os olhos arregalados, ela mal conseguia respirar e pensamos que não ia sobreviver. Em seu pescoço, havia uma marca do cadarço usado para tentar matá-la. A levamos imediatamente para um hospital, enquanto outros parentes recolhiam suas roupas que ficaram espalhadas à distância;, contou o aposentado.

A sogra diz que a nora não lembra dos detalhes da agressão, mas apenas de que tentou fugir do criminoso. ;Ela deve ter desmaiado e ele pensou que estava morta. Foi uma grande covardia, já que ele a arrastou pelos cabelos e a jogou de um barranco. O couro cabeludo dela chegou a dar uma ferida que precisou de cirurgia. Os braços não se movimentavam e apenas agora ela consegue mexer um pouco com o direito. Depois de mais de 24 horas do sumiço, esperávamos o pior. Mas um milagre permitiu que ela pudesse escapar para voltar para sua filha, que sofreu muito com tudo isso;.

A auxiliar de produção é casada há nove anos com R., de 27. O casal mora em um imóvel próximo de seus parentes, a alguns quarteirões de onde foi o ataque. O cunhado dela reclama que, mesmo depois da agressão, não há policiamento na área. ;Gostaria que houvesse um maior interesse, pois um crime como esse pode esconder muitos outros. Não creio que esse rapaz tenha agredido apenas minha cunhada;. A vítima está em casa e quer isolamento total. Não quis falar com o EM, nem quer ver amigos e parentes.

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