Rio de Janeiro ; A identificação da menina estuprada e assassinada no domingo (14) de carnaval nas imediações do Museu de Arte Moderna, no Parque do Flamengo, pelo pai, o pedreiro Rafael Claudino da Silva, de 34 anos, deflagrou um processo bem conhecido pela pedagoga Tiana Sento-Sé, coordenadora do Instituto Brasileiro de Inovações em Saúde Social (Ibiss): a responsabilização da mãe da vítima, Sílvia Maria de Souza Gomes.
;É preciso tomar cuidado quando se vai buscar o culpado. O Conselho Tutelar precisa ser acionado e a polícia tem de encontrar a pessoa que cometeu o crime, e não responsabilizar a mãe;, disse nesta quarta-feira (17) a pedagoga, também integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Aparentemente conformado com a tragédia, Rafael, que é separado de Silvia Maria, apontou a irresponsabilidade da ex-mulher como causa da morte da filha: ;Uma mãe não pode largar uma filha pequena no carnaval;. Mas, para Tiana Sento-Sé, a questão não pode se resumir a isso.
;Para quem mora num cortiço ou num prédio invadido no centro do Rio, como a família deste caso, o playground das crianças é a rua, o espaço de brincar são aquelas ruas centrais. Eu mesma moro perto da Lapa, estive lá todas as noites no carnaval e não vi nada de anormal;, disse.
A pedagoga defende que se aborde o contexto do episódio, antes de se apontar o dedo para Sílvia Maria, que, por sinal, vendia latas de bebidas na calçada quando a menina desapareceu. A irmã mais velha, de 13 anos, foi quem chamou o pai, morador de Niterói. Segundo ele, a adolescente está muito abalada e passou as últimas noites com os vizinhos no prédio, invadido como vários outros do INSS abandonados no centro da cidade.
;Em que condições esta mãe vive com as filhas, sozinha, sem emprego, sem condições de pagar escola ou babá? Há uma tendência em se responsabilizar a mãe sem muita preocupação. Há tempos uma criança caiu da janela de um prédio na mesma Lapa e disseram logo que a mãe a tinha largado sozinha em casa. Ninguém se pergunta como a mulher vai trabalhar, cuidar das crianças, da casa, da educação e da saúde.;
Rafael Claudino da Silva reconheceu o corpo da filha na segunda-feira (15) e registrou a ocorrência na 9; Delegacia de Polícia, no Catete. No dia seguinte, tratou da liberação do corpo no Instituto Médico Legal e prestará depoimento à polícia nesta quinta-feira (18). Para a pedagoga, há uma tendência nesse tipo de crime de responsabilizar a mãe pelo fato.
;Na mesma proporção da sociedade, a polícia também é machista e tende a considerar a mãe culpada. Em 2008, participei de um congresso mundial sobre exploração sexual de crianças e adolescentes e verifiquei que é uma tendência em toda parte, não uma exclusividade do Brasil ou dos países menos desenvolvidos. O abuso se dá entre parentes, amigos próximos, vizinhos, em todas as classes sociais. O que importa aqui é reconhecer quem cometeu o crime, julgar e punir.;