Brasil

Casos de assassinatos de mulheres pelos maridos ou ex-companheiros assustam o país

Luiza Seixas
postado em 20/02/2010 10:36
Um casal que se amava, jurou respeito e fidelidade eternos, desmanchou-se em incontáveis declarações pode, evidentemente, encerrar essa história num divórcio. Os casos são inúmeros e se tornaram absolutamente comuns na nossa sociedade. Mas quando a trajetória desse mesmo casal acaba em violência e tragédia? Há uma explicação lógica?

O país assiste, atônito, a um número cada vez maior de maridos que matam as esposas por motivos fúteis, como ciúmes ou separação. Só em 2010, dois desses episódios tiveram o pior desfecho possível. Na semana passada, na cidade de Tenente Portela (RS), um homem inconformado com o fim do relacionamento matou a ex-mulher com dois tiros e, em seguida, se matou. Na quinta-feira, em Águas Claras, a mesma situação, com assassinato seguido de suicídio.

De acordo com o psicólogo Rodrigo Torres, vice-presidente do Conselho Nacional de Psicologia, seção Minas Gerais, não é possível localizar um tipo de pessoa específica propensa a esse tipo de ato. Ou seja, não há grupo de risco. Porém ; ele ressalta ;, o fato de maridos que se sentem largados ou traídos e acabarem cometendo violência pode ser explicado por meio do aspecto cultural e social. ;A mulher ainda é vista como propriedade. Então, o homem tem a mentalidade de que, se ela é um objeto particular, pode fazer o que quiser, inclusive matar.;

Para o psicólogo, muitas vezes as pessoas que cometem esses crimes são consideradas normais, a ponto de a família ou o parceiro jamais desconfiar de tal capacidade. ;Esse tipo de acontecimento é como se a pessoa tivesse um curto-circuito no momento da dor e não conseguisse lidar com o sentimento;, afirma.

Muito provavelmente o que ocorreu em outubro de 2008, quando a estudante Eloá Pimentel, 15 anos, ficou refém do ex-namorado em um apartamento em Santo André (SP). Tomado pelo ciúme, Lindemberg Alves, 22 anos, a manteve presa e matou a jovem. ;Nunca pensei que ele fosse capaz disso. Ele era, sim, agressivo e possessivo, mas não de chegar a esse ponto;, declarou a mãe de Eloá, Ana Pimentel, à época.

Diante de qualquer situação de violência, a vítima não deve nunca deixar de apresentar queixa. ;No caso de Belo Horizonte, em que o borracheiro Fábio Willian Soares, 30 anos, por não aceitar a separação, entrou no salão de beleza onde trabalhava a ex-mulher, Maria Islaine de Morais, e disparou sete tiros contra ela, várias queixas foram feitas, uma pena que tenha tido um final trágico;, afirma Torres. ;Mas esse caminho da denúncia deve ser trilhado sempre;, completa.

Para o psicólogo Luiz Henrique Aguiar, mestre em psicologia clínica, há um ponto em comum entre esses homens: obsessão pelo controle do comportamento da companheira, que começa pela proibição de trabalhar, passa pelo pedido para se afastar das amigas e evolui para um controle extremo chegando à violência. ;É como se fosse um ciclo. E quando a mulher tenta se separar, o marido não aceita, pois acredita que se ela deixar de ser dele, não vai ser de mais ninguém.;

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