postado em 21/02/2010 11:31
Com mais de 800 casos confirmados de dengue em Belo Horizonte, a população começa a lotar as unidades de pronto-atendimento (UPAs) nas regiões mais afetadas pelo mosquito Aedes aegypti. Pacientes com diagnóstico positivo e dezenas de pessoas com suspeita de terem contraído a doença procuraram, na manhã de sábado, as UPAs em Venda Nova e no Bairro Primeiro de Maio, na Região Norte da capital. As unidades, que costumam receber volume expressivo de pacientes nos fins de semana, uma vez que os postos de saúde não abrem, ficaram ainda mais cheias. A superlotação fez com que muitos contaminados pelo vírus tivessem que aguardar horas para ser atendidos.Na UPA Primeiro de Maio, Creuzeni Rodrigues Medeiros, de 24 anos, e Maria de Fátima Angeli, de 52, aguardaram quase quatro horas. ;Fiz o exame ontem, que confirmou que estou com dengue. Como é a segunda vez que contraio a doença, é preciso cuidado especial. Disseram-me, no posto de saúde, que, se mostrasse este cartão, seria atendida sem passar pelas filas, mas, até agora, nada;, disse Creuzeni, mostrando o papel com recomendações para pacientes e parentes com dengue. O mesmo ocorreu com Maria de Fátima, que chegou à unidade por volta das 8h e, até as 11h, não havia sido atendida. ;Disseram que a prioridade são os pacientes internados e os casos graves. Parece que quem está com dengue não é emergência, não é grave;, reclamou.
A doméstica Eunice Rodrigues Lima, de 56, e o filho Gildásio Cardoso Sousa Júnior, de 15, também aguardavam atendimento. Os dois tiveram a confirmação, por meio de exame de sangue, de que estão com a doença. Gildásio, além das dores no corpo e tontura, estava com os braços e a barriga salpicados de manchas vermelhas. ;Ele começou com os sintomas no domingo, ficou internado anteontem e foi liberado. Hoje, estamos aqui para fazer o controle;, relatou a mãe, temendo o agravamento do quadro de saúde do filho.
Outra reclamação de usuários em relação ao atendimento aos casos de dengue é a demora em diagnosticar a doença. É o caso de Thalita Daniele Libório Martins, de 20, que aguardava para fazer o exame. ;Vim ontem, mas não fui atendida porque não tinha médico. Hoje, cheguei às 9h e ainda não me atenderam;, reclamou, por volta das 11h. A moça queixava-se de dores na cabeça, nos olhos e ânsia de vômito. Na UPA Venda Nova, o estudante Pedro Henrique Oliveira Soares, de 17, também reclamou da demora no diagnóstico da doença. ;Domingo, vim à UPA de Venda Nova e eles disseram que eu tinha uma virose. Fui a uma médica conhecida da família, que me recomendou ir ao centro de saúde. Foi quando fiz o exame de sangue, que detectou alteração nas minhas plaquetas;, disse, referindo-se a um dos sintomas da dengue, doença que se caracteriza pela diminuição da circulação de plaquetas (plaquetopenia) e o aumento da concentração do sangue (hemoconcentração).
Aumento de casos
Debilitados, muitos pacientes aguardavam algum tipo de atendimento. ;Parece que está confirmado que é dengue;, afirmou William Douglas Pereira Biano, de 18. Deitado no colo da namorada, o jovem queixava-se de dores de cabeça e no corpo, bem como febre alta. Na unidade, outros pacientes aguardavam para fazer a prova do laço e o exame de sangue. Bastante abatido, o operador de escavadeira Maurício Luiz Menezes de Souza, de 25, era um dos que esperavam. A mãe de Maurício, Maria Marta Menezes de Souza, de 45, desconfiou que o filho pudessed estar contaminado por causa de um caso confirmado na vizinhança. ;Não deixo água parada em casa para que o mosquito não prolifere, mas moro próximo a uma mata;, contou.
A grande procura nas UPAs ratifica o crescimento neste mês, com 89% do número de pessoas com suspeita de contaminação em relação ao mesmo período de 2009. A preocupação é ainda maior devido ao retorno do tipo 1 da dengue, que, depois de 10 anos sem ser o sorotipo prevalente, voltou, com o risco iminente de epidemias. Os responsáveis pelas UPAs não atenderam à reportagem.