postado em 24/02/2010 07:00
São Paulo ; Um ano depois de receber um coração novo, Maria Augusta dos Anjos, 40 anos, comemora o renascimento graças a uma decisão difícil de uma família que chorava a dor da filha de 15 anos. A adolescente morta era Eloá Pimentel, que levou um tiro na cabeça do namorado, depois de ter feito a moça refém por três dias. A garota teve morte cerebral e a mãe, Ana Cristina Pimentel, autorizou, no momento mais difícil da vida, que todos os órgãos passíveis de doação fossem transplantados.
Uma pesquisa divulgada ontem pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) mostra que aumentaram no país os gestos como o de Ana Cristina. Em 2008, a taxa de doadores era 7,2 para cada 1 milhão de pessoas. No ano passado, esse índice saltou para um patamar histórico: 8,7 para cada 1 milhão. ;As pessoas estão ficando mais solidárias;, comemora o presidente da ABTO, Ben-Hur Ferraz Neto. No geral, o aumento no número de doadores subiu 25,8% em um ano.
Maria Augusta mora em Belém e conta ter mudado a visão que tinha do mundo depois que ganhou uma sobrevida graças a um coração novo. ;Por causa dos problemas de saúde, só podia caminhar. Neste ano, corri pela primeira vez. Não sei nem explicar a sensação de felicidade que tive;, relata.
Os problemas de Maria Augusta começaram ainda na infância. Ela sofria de problemas cardíacos desde criança por causa da fraca circulação sanguínea. As pontas dos dedos ficavam roxas. ;Hoje, subo as escadas do prédio em que moro sozinha. Mas falta realizar o sonho de nadar.;
Maria Augusta entrou na fila do transplante em 2006 e ganhou o órgão no fim de 2008. Atualmente, há 60 mil pacientes na fila de transplante e a maioria espera por um rim. Em todo o país, segundo a ABTO, há pelo menos 400 equipes médicas capacitadas para fazer transplantes de órgãos.
Brasília
Em todo o país, há 6,4 mil potenciais doadores de órgãos. No Distrito Federal, no ano passado, 169 ficaram aptos a passar seus órgãos para outra pessoa, por causa de morte encefálica ou acidente vascular cerebral (AVC). Desse total, 40 doações não foram concretizadas porque a família não autorizou. Outros 55 transplantes não ocorreram por contraindicação médica. No fim das contas, apenas 29 doações foram efetivadas no DF.
A pesquisa da ABTO aponta ainda que houve uma mudança no perfil das pessoas que cederam órgãos em todo o país. Antes, a maioria dos doadores (40%) tinha entre 18 e 40 anos. Hoje, a maior parte (41%) tem entre 41 e 60 anos. Mudou também o motivo que prevaleceu nas causas da morte cerebral dos doadores, com os traumatismos (41%) dando lugar ao AVC (48%).