Brasil

Prender serial killer "é uma questão de dias", diz delegado

Estado de Minas, Pedro Ferreira
postado em 24/02/2010 16:57
O chefe do Departamento de Investigações (DI), delegado Edson Moreira, garantiu na terça-feira (23) à Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas e aos parentes das vítimas do maníaco, que age há um ano no Bairro Industrial, em Contagem, na Grande BH, que ;é uma questão de dias; a prisão do suspeito de estuprar e estrangular pelo menos três mulheres. No entanto, não esclareceu o andamento das investigações. ;Só peço aos deputados e aos parentes das vítimas que tenham mais um pouco de paciência, que vou apresentar o suspeito;, disse o delegado.

Segundo o chefe do DI, a Polícia Civil tomou conhecimento da existência do serial killer em novembro depois que exames de DNA comprovaram que o esperma encontrado em três mulheres era do mesmo homem. Disse que não divulgou a informação para não deixar a população em pânico. ;Começamos a trabalhar em sigilo, também para podermos chegar a ele, mas o maníaco parou de agir quando sentiu a nossa presença;, disse Moreira, que participou da audiência pública na Assembleia.

O delegado reconheceu falhas nas investigações do sumiço, em outubro, da estudante de direito Natália Cristina de Almeida Paiva, de 27, cujo corpo foi achado 22 dias depois, numa mata de Ribeirão das Neves. A vítima ficou por três meses como desconhecida no Instituto Médico Legal (IML) e foi sepultada como indigente. ;Houve falha de comunicação entre o IML e a Delegacia de Homicídios de Ribeirão das Neves com a gente;, disse o chefe do DI. As vítimas confirmadas como sendo do maníaco foram a empresária Ana Carolina Assunção, de 27, a comerciante Maria Helena Lopes Aguilar, de 48, e a contadora Edna Cordeiro de Oliveira Freitas, de 35. ;Tudo indica que Natália também foi vítima do serial killer;, afirmou o delegado, que investiga uma quinta morte que também pode ser atribuída ao maníaco.

A comissão ouviu também depoimentos dos parentes das vítimas. O primo de Edna, o petroleiro Geraldo Nelson dos Santos, de 54, disse que ela poderia estar viva se a PM tivesse agido com rapidez. Somente depois de duas horas de insistência, segundo ele, a PM divulgou pelo rádio o número da placa do carro da contadora. O veículo foi multado por um radar quatro horas depois, por excesso de velocidade, na Via Expressa, entre Contagem e Betim. Com a voz embarcada pelo choro, a mãe de Edna, a vendedora Glória Cordeiro, de 54, disse que não deseja a nenhuma mãe a dor que a consome.

Parentes

Edilene Maria de Paiva, tia de Natália, disse que o sofrimento da sua família poderia ter sido amenizado se o corpo de Natália tivesse sido identificado quando foi achado. A Delegacia de Desaparecidos tinha a descrição das roupas de Natália e o IML chegou a fotografar as vestes antes do sepultamento. ;Todos os dias procuramos os hospitais, a polícia e o IML. O corpo chegou ao instituto como sexo indeterminado, mas depois foi confirmado que era de mulher e eles não atualizaram a informação no sistema;, disse a tia.

A mãe da empresária Ana Carolina, a psicóloga Euzana Menezes, de 52, voltou a pedir mais empenho da polícia nas investigações e reclamou do descaso das autoridades competentes com as famílias. ;Ninguém nos ouve;, disse. Creuza Luzia de Matos, mãe da estudante Laila Ribeiro, de 17, estuprada e estrangulada em setembro de 2002 na Via Expressa, em Contagem, também marcou presença na audiência. ;Há sete anos, sofro por saber que os assassinos da minha filha não estão na cadeia, pois sumiu no IML uma lâmina com material genético;, disse Creuza.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, deputado Durval Ângelo (PT), lembrou que muitos dos assassinatos antigos não foram apurados e, segundo ele, podem estar ligados ao mesmo serial killer. ;Esse maníaco vai sair de cena mais uma vez e daqui a dois anos vamos ter outro crime bárbaro e ninguém no banco dos réus;, disse.

O assessor parlamentar da PM, coronel Alexandre Salles Cordeiro, disse que não há recomendação para a polícia agir apenas depois de 24 horas do sumiço de alguém. Recebemos 18 mil chamadas por dia e pode ter havido falha no caso dessas vítimas;, disse. No ano passado, segundo o coronel, a PM recebeu 7.034 telefonemas denunciando sumiço de pessoas.

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