;Denuncie. Eu sei que é constrangedor, mas não há constrangimento maior do que a da própria consciência;, disse fazendo menção ao fato de que quatro em cada cinco casos têm como autor o pai, o padrasto, o avó ou outro parente.
Jordy avalia, no entanto, que, muitas vezes, quem denuncia não recebe a devida proteção do Estado e muitos crimes ficam impunes. ;As pessoas que denunciam, especialmente as mulheres, superam a barreira de acusar seu companheiro, por muitas vezes rompem o círculo social imediato, mas o Estado se vira de costas. Não presta assistência, não oferece abrigo e nem fornece cesta básica;, reclama.
Na avaliação do deputado, a melhor maneira de prevenir o abuso sexual de crianças e adolescentes é por meio de diálogo e informação. ;Tenhamos consciência de que nossas crianças não estão protegidas. É preciso conversar com elas e dizer que não podem ser tocadas de determinadas formas;. O deputado alerta também para que as crianças sejam educadas para avisar quando forem abordadas, quando identificarem qualquer forma de assédio ou quando ouvirem alguma pergunta que considerarem estranha.
Para o deputado, há uma ;certa banalização; do abuso sexual em que muitos agressores alegam serem pedófilos, portadores, de fato, da doença que causa o desejo sexual por crianças e adolescentes. ;Há casos de sociopatia, mas há muita canalhice;. Segundo a lei, a pedofilia não reduz a pena para os criminosos.
O deputado diz não aceitar o argumento de que o abuso sexual ocorre porque já é um traço cultural da sociedade brasileira. ;Não há determinismo histórico. A cultura é feita pelos homens. São as pessoas que constroem a cultura.;
Nessa cultura perversa e machista, é comum o caso de parentes e até policiais aceitarem o abuso, denuncia Jordy. ;Há delegados cúmplices;, afirma o parlamentar. ;Eles têm uma visão deformada e dizem que as crianças e adolescentes são culpadas por se insinuar. Essa visão anistia o agressor e culpa a vítima.;
Hoje (25), a CPI apresentou seu relatório de atividades desenvolvidas por um ano. Foram investigados cerca de 150 casos. A comissão concluiu que, em cinco anos, ocorreram 100 mil casos de abuso sexual no Pará. O relatório foi lido, na Assembleia Legislativa do Pará, na presença de representantes do Ministério Público, da Justiça e do governo estadual.
Em Brasília, o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Pará, Fábio Figueiras, falou por telefone com a Agência Brasil. Segundo ele, a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), tem conhecimento do relatório da CPI. Figueiras disse que o governo tem programas em 16 municípios que articulam a rede de proteção de crianças e adolescentes, mantém ações de repressão direta e faz campanha publicitária para a conscientização da população sobre o tema.
Para o secretário, a internet está permitindo a melhor investigação de crimes. Em sua opinião, é difícil mudar de ;uma hora para outra o comportamento histórico; de abuso sexual. ;Tem que haver um compromisso geral;, disse.