Brasil

Cientistas investem em novas frentes e em tecnologia para combater o câncer

postado em 28/02/2010 09:57
Por trás das pipetas, microscópios e computadores, cientistas tentam decifrar genes, testam substâncias, fazem cálculos. Combinam diferentes áreas do conhecimento. Passam anos estudando novas estratégias na árdua luta contra um inimigo que esconde sob o nome câncer um leque de mais de 100 doenças. Um vilão que avança. Mas que encontra um exército de pesquisadores dispostos a driblá-lo. São soldados da saúde espalhados por todo o mundo.

As pesquisas se espalham por várias frentes nas universidades locais. Uns estudam uma forma de desenvolver uma vacina eficaz e mais barata que as já existentes para ajudar na prevenção do câncer de colo de útero, atacando o papilomavírus humano (HPV). Outros utilizam conhecimentos matemáticos e físicos para aumentar a precisão com que tumores mamários e intracranianos são medidos. E, atentos ao que surge de novo na área, há ainda médicos pernambucanos utilizando técnicas e equipamentos importados para auxiliar no tratamento de cânceres ou de lesões potencialmente malignas. Conectam Pernambuco a outros países do mundo. Não à toa.

De tempos em tempos, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulga estimativas de novos casos para os anos seguintes. A previsão era de 466.730 em 2008. Aumentou para 489.270 em 2010. Se o cálculo estiver correto, quase meio milhão de brasileiros apresentarão algum tipo de câncer neste ano. A doença avança. Mas a ciência dá passos para tornar o nome câncer menos assustador.

A estratégia é a mesma consolidada pelas empresas farmacêuticas internacionais. O que a gente fez foi utilizar um outro modelo para fugir das patentes;
Antonio Carlos de Freitas, líder do Grupo de Estudos Moleculares Aplicados a PapilomavirosesEquipe do professor Antonio Carlos de Freitas trabalha no laboratório para desenvolver uma vacina preventiva e outra terapêutica contra o papilomavírus humano. Acima, médicos utilizam a técnica a laser para a retirada de lesões: tecnologia a serviço da saúde



O número
R$ 1,14 mil
Quem recorre a clínicas particulares para se vacinar contra o papilomavírus humano (HPV) desembolsa sempre acima de R$ 1 mil por três doses


Uso do laser nas lesões

Aos 26 anos, Cláudio Fernando Leitão descobriu que tem uma lesão na língua potencialmente maligna chamada de leucoplasia. A lesão cobria grande extensão de sua língua (cerca de 3cm) e Cláudio procurou ajuda. Está fazendo tratamento gratuitamente no Serviço de Estomatologia da Universidade Federal de Pernambuco. A arma usada na terapia é um equipamento esloveno que emite dois tipos de laser, o Erbium: Yag e o Neodymium: Yag. É uma alternativa ao tratamento cirúrgico.

Tecnologia e combate ao câncer é um casamento que está dando certo. Uma prova é o trabalho encabeçado pelo mestrando Sidney Marlon Lopes de Lima e pelo professor Sérgio Campello Oliveira. Juntos, eles estão desenvolvendo um sistema digital que tem o objetivo de medir com o máximo de precisão as dimensões de tumores mamários e intracranianos, a partir de imagens coletadas por exames convencionais, como a ultrassonografia. A ideia é criar um método portátil que informe o comprimento e os diâmetros máximo e médio do tumor. Atualmente, a medição de nódulos mamários visualizados em exames de ultrassom, por exemplo, sofre grande interferência humana. É um profissional de saúde quem demarca as extremidades a serem medidas, na tela do monitor. Trabalho que, nesse novo sistema, é feito automaticamente. (JC)


O problema das vacinas

As vacinas contra o papilomavírus humano (HPV) chegaram ao mercado nacional acompanhadas de enorme expectativa e grande frustração. Apesar de ajudar a proteger contra até quatro tipos de HPV relacionados a verrugas genitais e ao câncer de colo de útero, o preço do produto é bem salgado. Quem recorre a clínicas particulares para se vacinar desembolsa de R$ 1.035 a R$ 1.140 por três doses. Caro para muita gente e para o governo também.

Segundo o Ministério da Saúde, hoje são gastos R$ 750 milhões por ano para custear todo o Programa Nacional de Imunização. Só para vacinar meninas de 11 e 12 anos com um dos dois imunizantes importados, o que protege contra quatro tipos de HPV, seria necessário R$ 1,857 bilhão. Baratear e permitir a inclusão desse tipo de vacina em programas públicos de saúde é um dos objetivos de um grupo de pesquisa que está desenvolvendo dois imunizantes ;pernambucanos;.

A equipe, que atua no Laboratório de Estudos Moleculares e Terapia Experimental (Lemte) do Departamento de Genética da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com apoio do Laboratório de Imuno Patologia Keiso Asami, está desenvolvendo uma vacina preventiva e uma terapêutica. A chave para a redução do custo está na utilização de uma levedura chamada Pichia pastoris, associada ao que os cientistas chamam de vetor de expressão. Inteiramente made in Brazil, esse vetor foi desenvolvido pela Universidade de Brasília e serve de veículo de transporte. Ele carrega para a levedura um gene que contém a informação que ela necessita para produzir a proteína que será utilizada na vacina.

As perspectivas em relação ao imunizante preventivo são extremamente positivas. ;A estratégia é a mesma consolidada pelas empresas farmacêuticas internacionais (que comercializam as vacinas já existentes no mercado). O que a gente fez foi utilizar um outro modelo para fugir das patentes já caracterizadas e evitar a cobrança de royalties;, afirmou o responsável pelo Lemte e líder do Grupo de Estudos Moleculares Aplicados a Papilomaviroses, Antonio Carlos de Freitas. (JC)


SAINDO DE UMA FRIA

No Hospital do Câncer de Pernambuco (HCP), a técnica de congelamento é a mais nova aliada. Aplicada em pacientes com tumores ósseos, ela consiste na retirada do tumor, seu congelamento em nitrogênio líquido e, em seguida, reimplantação. A baixa temperatura, segundo o cirurgião Marcelo Souza, é capaz de matar células cancerígenas. Com isso, não é preciso retirar um pedaço de outro osso ou usar peças artificiais para preencher o espaço antes ocupado pelo tumor. E as chances de rejeição desaparecem, já que as células reimplantadas são do próprio paciente. A técnica é indicada para pessoas com tumor primário (que se originou no próprio osso) e metastático, desde que seja de natureza blástica (formadora de osso) e haja expectativa de sobrevida longa. Segundo o médico, o método é seguro e as chances de recaída são remotas. (JC)

Leia mais sobre os avanços no combate ao câncer na Revista do Correio

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