postado em 02/03/2010 08:30
A transformação de momentos de lazer e convívio com amigos em uma experiência aterrorizante abalou quem estava no Parque Farroupilha, em Porto Alegre, na tarde de domingo. Frequentadores que testemunharam uma área-símbolo da cidade se transformar em praça de guerra relatam instantes de pânico e revelam o temor de retornar ao local. A estudante de Ensino Médio Ohara Reis, 17 anos, que ia todos os fins de semana para encontrar parentes e amigos, é taxativa: ;Não pretendo voltar nunca mais, nem que me paguem;.Ohara estava a poucos metros do local onde ocorreram os disparos. Tomava chimarrão com duas amigas perto do chafariz, por volta das 16h30, quando foi sobressaltada pela chegada de um grupo de aproximadamente 50 adolescentes que batia palmas e cantava. Uma de suas amigas, Camila Braga, 20 anos, conta que os integrantes estavam bem vestidos e usavam bonés e tênis com aparência de novos. ;Eles cantavam ;é hoje, é hoje;. Andavam bem organizados, em cinco fileiras, como se fosse em um desfile militar. Eram quase crianças. Os mais velhos deviam ter 16 ou 17 anos;, conta Camila.
Depois da chegada espalhafatosa, o grupo se instalou junto do chafariz do parque e não fez mais alarde. As amigas se tranquilizaram. Elas não viram nenhum outro grupo se aproximar. Meia hora depois, escutaram cinco tiros. O pânico se instalou. Ohara lembra dos gritos de ;corre, corre; e ;deita no chão;. Ela saiu em disparada, pensando que se tratava de um arrastão. ;A única coisa que consegui fazer foi correr. Fui para trás de uma árvore. Eu me senti muito mal, quase desmaiei. Fiquei em pânico e não conseguia achar a saída do parque, por causa do nervosismo. Eu estava desesperada.;
Camila conta que na hora da fuga olhou para trás e notou que os integrantes do grupo de adolescentes também se dispersavam, misturando-se aos demais frequentadores do parque. O local estava lotado naquele momento, com muitas famílias e crianças. Dezenas de pessoas jogavam-se ao chão, outras corriam. ;Era muita gente desesperada, crianças chorando, mãe correndo com carrinho de bebê. Achei que estavam atrás de nós para assaltar. Foi assustador;, conta Camila, que também não pretende retornar mais ao parque.
Embora não seja uma solução capaz de deter a ação de gangues, a Guarda Municipal deverá aumentar seu efetivo em 50% em junho. Cem novos agentes serão selecionados para entrar em ação provavelmente em junho, somando-se aos cerca de 200 guardas em atividade.