Brasil

Agiota pode ter sido mais uma vítima de serial killer

Pedro Ferreira
postado em 02/03/2010 08:45
Marcos Trigueiro, ouvido pelo delegado Frederico Abelha, contou como abordava as vítimas, mas omitiu detalhes dos crimes bárbarosMais um crime ; nove até agora ; é atribuído a Marcos Antunes Trigueiro, de 31 anos, o maníaco que confessou o assassinato de cinco mulheres e de um taxista na Grande BH. Segundo o delegado Frederico Abelha, o acusado será investigado também pela morte de um agiota em Contagem, vítima de latrocínio (roubo seguido de morte), em 2004. O policial não revela o nome do homem assassinado nem detalhes de como ele morreu. Testemunhas do crime farão o reconhecimento formal do serial killer. Pesam ainda contra ele a morte de uma enteada de três meses e de um tio.

Na segunda-feira, Marcos Antunes, que está isolado numa cela do Ceresp São Cristóvão, na Região Noroeste de BH, foi mais uma vez apresentado à imprensa depois de prestar depoimento, mas se recusou a falar com jornalistas. Longe das câmeras, ele mandou um recado para a mãe, que mora em Brasília de Minas, no Norte do estado, e para a mulher, que também estava presa, dizendo que as ama e que vai morrer. Segundo a polícia, ele tem tendência suicida e está sendo vigiado.

O delegado Abelha, que comanda as investigações do estupro e do estrangulamento das cinco mulheres no ano passado, no Bairro Industrial, em Contagem, convocou a imprensa para contar detalhes do depoimento do acusado. À polícia Marcos Antunes admitiu apenas o assassinato das mulheres e de um taxista, em Betim, na Grande BH. Negou a morte da enteada e do tio. Ao delegado ele contou que, quando abordava as mulheres, simulava estar armado, com uma das mãos sob a camisa, e anunciava o assalto. Mas, para a polícia, ele mente. ;Acredito que ele usou uma arma de fogo ou pelo menos uma réplica;, disse Abelha.

A polícia investiga a informação de que o acusado retornou algumas vezes aos locais dos crimes para acompanhar o trabalho da perícia, mas ele nega. ;Disse que não se lembra disso, mas sem demonstrar certeza. Há uma pessoa em uma imagem de TV, no caso da Edna, que pode ser ele;, disse Abelha. O delegado viu a cena na internet, mas em baixa resolução. Vai, então, requisitar a gravação original da emissora e analisar fotografias feitas pelos peritos.

Celular

O maníaco negou no depoimento que escolhesse as vítimas, com base no perfil das mesmas ; morenas e de cabelos longos ;, e que o fizessem lembrar a mãe. ;Segundo ele, elas foram abordadas aleatoriamente e todas estavam em algum momento paradas, como no caso da Natália, acendendo um cigarro, e as outras falando ao celular. Ele diz que não tinha predileção por tipo físico;, contou Abelha.

Durante o depoimento, segundo o delegado, Marcos se mostrou frio, sempre de cabeça baixa. ;Quando pedíamos para reconhecer alguma foto nos autos, principalmente das vítimas executadas, ele tinha dificuldade. Tínhamos de insistir para que fixasse o olhar no inquérito e reconhecesse a cena do crime. Ele fica tenso ao ver o que fez.;

[SAIBAMAIS]Marcos confirmou ao delegado que levava os celulares das vítimas, mas não soube dizer o motivo. ;Ele contou que os levava porque tinha vontade e descartava os chips. Em casa, quando questionado pela mulher sobre os aparelhos, falava que os havia recebido como pagamento por algum serviço.; Ele queimou os telefones 15 dias antes de ser preso, quando soube que poderiam ser rastreados.

Noticiário
O acusado negou que acompanhasse o noticiário das investigações dos crimes, mas não convenceu. ;Segundo vizinhos, ele via TV o dia inteiro e a imprensa não falava de outra coisa;, revelou o delegado. Marcos disse que quando estava na igreja evangélica se sentia bem, muito centrado. Mas, quando se afastava, se sentia diferente e tinha vontade de praticar crimes, sem saber o motivo.

Marcos Antunes também contou que mandava as mulheres se vestir depois do estupro para ter o controle da situação, exceto no caso da empresária Ana Carolina, que foi estrangulada antes de se recompor totalmente, pois havia uma criança no carro e ele estava com pressa. ;As mulheres se vestiam acreditando que iam embora, se distraíam e ele as estrangulava.;

;Ele fala pouco da vida pessoal. Diz que chegou a fugir de casa por causa dos maus-tratos do pai, principalmente;, conta o delegado. Marcos tem algumas marcas de arranhões nas costas, que podem ser antigas ou de uma das vítimas. Ele disse que chegou a lutar com três das mulheres, que resistiram.

No sofá
A mulher de Marcos, Rose de Paula Câmara, de 27 anos, transferida segunda-feira da Penitenciária de Mulheres Estêvão Pinto para o Departamento de Investigações, onde foi ouvida e liberada, contou que, quando ele chegava tarde em casa, dormia no sofá, arredio, sem dizer por onde andara.

O delegado quis saber de Marcos se ele se arrependia dos crimes quando estava na igreja. ;Disse que não orava por elas, mas por todos.; Perguntou ainda se o acusado sonhava com as vítimas e ele continuou calado. ;Ele não tem arrependimento. Disse apenas que estava com medo de ser preso.;

Marcos também contou que Ana Carolina e Maria Helena atenderam os celulares quando eram levadas por ele e ordenou a elas que desligassem os aparelhos. ;Ficou claro no depoimento que as mulheres tinham a esperança de que estavam sendo vítimas apenas de assalto. Quando percebiam que a situação tinha tomado rumo pior, já não tinham como reagir;, acredita o delegado.

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