postado em 04/03/2010 09:22
A explicação dada pelo homem (1) flagrado com as respostas do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), aplicado no último domingo, escritas a lápis no Código Penal ; material permitido durante a prova ; não convenceu Edson Cosac Bortalai. Segundo o presidente da Comissão de Estágio e Exame de Ordem da OAB-SP, é ;absurda; a versão apresentada pelo candidato. ;Ele falou que nem sabia que aquelas anotações eram exatamente as respostas da prova, que ele teria pegado um Código Penal qualquer na biblioteca da faculdade onde estudou para fazer o exame. Isso não faz o menor sentido. Ou seja, ele deu tanta sorte que alguém escreveu, um Papai Noel talvez, exatamente tudo o que ele precisava saber para fazer o teste;, ironiza Bortalai. A conversa com o suspeito ocorreu na segunda-feira, de acordo com o integrante da OAB-SP.A Polícia Federal encaminhou ontem expediente para a instauração de um inquérito. O Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), alvo de várias denúncias de irregularidades em processos seletivos passados (veja memória), solicitou à reitoria da Universidade de Brasília (UnB), órgão ao qual é ligado, a abertura de uma sindicância interna. A despeito das explicações apresentadas pelo homem flagrado com as respostas da prova, Bortalai explica que a decisão da OAB federal, no próximo domingo, sobre o futuro do teste, terá como base o trabalho da PF nesta semana e o retorno das demais seccionais da entidade. ;Estamos nos comunicando para detectar se houve problemas semelhantes em outros estados. Vamos aguardar um retorno da Polícia Federal também. Nesse contexto, o que esse rapaz nos disse não tem muito peso, ele será ouvido pelos investigadores. Baseados em todas as informações, decidiremos;, afirma Bortalai.
Decisão
A decisão pode ser o cancelamento apenas em Osasco, onde mora o homem que supostamente estava colando, em toda São Paulo, ou no país inteiro. Como o candidato fazia a prova de direito penal, é possível que só para essa área o teste tenha de ser repetido. Enquanto a OAB não decide o que fazer, Danilo Ambrozio, recém-formado em direito, sente-se prejudicado. O garoto de 24 anos não vê a hora de ter sua habilitação para começar a trabalhar. ;Estudei dois meses para a prova, me preparei e acho que fui bem. Não gostaria que o teste fosse cancelado. Isso causa um transtorno muito grande para a gente, que precisa da carteira para procurar as oportunidades de trabalho;, afirma Danilo.
Dezoito mil candidatos participaram da segunda e última etapa do exame da OAB, no domingo passado. Eles fizeram uma peça jurídica, uma espécie de redação, e mais cinco questões práticas de uma área do direito previamente escolhida, ainda no momento da inscrição. No total, são sete opções. O vazamento ocorreu na primeira vez que a OAB aplicou o teste unificado, ou seja, em todo o país, ao mesmo tempo. Para missão tão delicada, escolheu o Cespe. Antes, a seccional de cada estado cuidava da aplicação da prova que garante o direito de exercer a profissão.
1 - Suspeito
Sem a identidade revelada pela OAB, o rapaz que supostamente foi retirado da sala por estar colando é um adulto, casado, e já formado há alguns anos. Não foi a primeira vez que ele tentou passar na prova, que garante o direito de exercer a profissão de advogado no Brasil. Ele teria lamentado, para integrantes da entidade em São Paulo, que depois desse episódio, em que se diz inocente, dificilmente conseguirá ter idoneidade para conseguir a tão almejada carteirinha.
MEMÓRIA
Os rolos do Cespe
Considerado uma das empresas organizadoras de concurso mais sérias e respeitadas do país, o Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), ligado à Universidade de Brasília (UnB), teve a imagem arranhada pela primeira vez em 2005, quando a Polícia Civil do Distrito Federal começou a desarticular um esquema de fraudes apelidado de Máfia dos Concursos. Hélio Garcia Ortiz, cabeça da negociata, e mais 29 pessoas foram denunciadas à Justiça Federal por estelionato, falsidade ideológica e fraude em licitações. Elas vendiam gabaritos a candidatos de seleções públicas.
A polícia chegou a prender 103 pessoas durante a aplicação da prova para agente penitenciário do Ministério da Justiça. As investigações do caso revelaram que um dos concursos fraudados foi o do Tribunal de Justiça do DF aplicado em 2003 pelo Cespe. Servidores que confessaram ter comprado o gabarito foram afastados.
Em 2008, outra denúncia abalou o Cespe. Dessa vez, tratava-se de desvio de recursos. A então diretora da empresa, Romilda Macarini, foi denunciada pela Operação Câmpus Limpo, realizada pela Polícia Federal, e acabou destituída da função por improbidade administrativa, não podendo ocupar mais cargos públicos. Irregularidades em contratos, licitações, despesas e atos administrativos foram descobertos nas investigações.