postado em 08/03/2010 08:02
A relação entre exercícios físicos e saúde está mais que comprovada. A primeira bibliografia que se tem notícia sobre o tema foi escrita por Hipócrates entre os anos 377 e 460 a.C. Só muito tempo depois, entretanto, cientistas se atentaram para uma área batizada de epidemiologia da atividade física, no fim da década de 1940. De lá para cá, muitos estudos tentam compreender os fatores que incentivam a prática de exercícios entre a população. Uma pesquisa recém-concluída da Universidade de São Paulo (USP) mostra que as chances de um indivíduo ser ativo fisicamente no âmbito do lazer são proporcionais ao seu nível de escolaridade.Homens com 8 a 11 anos de estudo, por exemplo, têm três vezes mais chances de usufruir de uma atividade como diversão ; e não como obrigação doméstica ou prática inerente ao seu trabalho ; em relação a quem passou tempo inferior a três anos nos bancos escolares. No caso das mulheres, essa proporção sobe para quatro vezes a mais de oportunidades. O levantamento da USP acompanhou, com aplicação de questionários validados internacionalmente, 890 moradores adultos do bairro Ermelino Matarazzo, na Zona Leste da capital paulista, durante seis meses. O perfil da comunidade, especialmente no que diz respeito à escolaridade, não se distancia muito da média brasileira.
O trabalho classificou a população ativa em quatro domínios: no lazer, nas tarefas domésticas, no trabalho e durante a locomoção. Do total de entrevistados, 44,8% fazem mais atividades físicas durante os afazeres domésticos, 17,1% enquanto trabalham, 37,6% ao se deslocarem e apenas 16% como lazer. Para a autora da pesquisa, Evelyn Fabiana Costa, os dados são importantes porque consideram a prática de exercícios em variados contextos. ;Como podemos dizer que um carteiro, que caminha o dia inteiro, não é ativo, só porque ele não frequenta uma academia?;, questiona a mestre em nutrição na área de saúde pública. Ela destaca, porém, a relevância dos exercícios no âmbito do lazer.
;Do ponto de vista de prevenção fisiológica, não há diferença entre a atividade física praticada por alguém que limpa a casa ou que corre no parque. A liberação de hormônios é a mesma. Mas se ampliarmos a visão de saúde, incluindo a parte mental, não há dúvida de que a prática no lazer e também na locomoção são mais saudáveis, pelo fato de estimular a convivência, diminuir tensões;, destaca a pesquisadora. Raimundo Pereira, de 26 anos, por exemplo, pedala praticamente o dia inteiro fazendo anúncios para uma igreja em um carrinho. ;Ando a Estrutural toda. Agora já me acostumei. As pernas estão duras, nem preciso ir para a academia;, brinca Raimundo.
Segundo Evelyn, a baixa frequência de atividades físicas no lazer só será melhorada com duas estratégias de políticas públicas. ;Primeiro é preciso equipar esses espaços com infraestrutura adequada. Depois, temos de pensar em fórmulas de estimular a locomoção, como aluguel de bicicletas, por exemplo;, destaca. A professora da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília Marisete Peralta acrescenta ainda outro item: ;Disponibilizar profissionais também se faz necessário. Se você coloca um professor de plantão no parque, quantas pessoas ele não poderia orientar?;, indaga.
Ouça a entrevista com Evelyn Fabiana, autora da pesquisa da USP: