Algumas dessas mulheres afirmam que foram perseguidas só por serem parentes de militantes de grupos ou facções que lutavam por contra o regime militar. Na sessão de hoje, a comissão foi presidida pela advogada Sueli Belatto, vice-presidente do colegiado, e tinha um júri composto apenas por mulheres.
"Os traumas sofridos especialmente pelas mulheres na época ficaram gravados na memória", disse a advogada Por isso, é importante e oportuna a reparação no Dia Internacional da Mulher, ressaltou. "Elas não imaginavam que iam ter essa oportunidade."
Ela afirmou que a Comissão da Anistia rejeita a menção da palavra "subversiva", que consta em documentos requeridos à Agência Brasileira de Inteligência (Abin), oriundos do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI). "Não é subversão lutar pela democracia", esclareceu a advogada, destacando o sofrimento das mulheres durante a ditadura. Ora era a esposa que via o marido sair preso e ficava sozinha cuidando dos filhos, sem ter como prover o sustento; ora era a mãe que passava pela angústia de não saber o paradeiro dos filhos ou do marido.
Sueli lembrou que muitas das mulheres que foram presas na época dos chamados anos de chumbo sofreram assédio e até estupro na prisão. "E há muito ainda a ser contado sobre o que aconteceu".
De manhã, a Comissão da Anistia julgou quatro requerimentos. Um deles foi o de Celeste Fon. Presa e torturada na época da ditadura, Celeste teve a situação agravada pelo fato de também terem sido alvo da repressão seu pai e um irmão. Ela trabalhava no Banespa e alega ter sofrido prejuízos de ordem funcional. Desenvolveu trabalho político ativo junto à Comissão de Familiares de Presos Políticos de São Paulo militando também na Campanha da Anistia.
Também teve o processo julgado hoje a educadora Vitória Lúcia Martins, do Rio de Janeiro, que foi perseguida durante 14 anos sob a acusação de pertencer ao movimento Ação Popular. Ela foi presa em 1969 e em 1975 .
O terceiro caso apreciado nesta manhã foi o de Maria Beatriz Albuquerque. Ela foi presa em 1968 e reclama da perseguição que sofreu durante 11 anos e que, segundo ela, afetou sua vida profissional. Foi asilada na Suécia e no Chile, onde foi presa após o golpe que destituiu o presidente Salvador Allende em 1973.
O quarto requerimento foi o de Maria da Glória Lung, que, na época do regime militar, era estudante de psicologia, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário. Ela alega que sofreu muitas pressões e ameaças e foi aconselhada a pedir exoneração para não ser demitida por justa causa.
Na sessão especial de hoje, após o resultado de cada apreciação, Sueli Belatto pediu desculpas às requerentes em nome do Estado e comunicou o arbitramento da indenização que, em alguns casos, depende de cálculos do tempo de prejuízo alegado.Os demais requerimentos seriam julgados agora à tarde.