Brasil

A partir desta segunda, o país para e acompanha o desfecho do caso Isabella

Crime tem cenas de folhetim, alguns pontos obscuros e uma vítima inocente que perdeu a vida sem ter qualquer chance de se defender

postado em 21/03/2010 10:36
São Paulo ; A história que dura dois anos e tem como protagonistas Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá terá o capítulo final a partir desta semana. Só que o desfecho para o crime que chocou a opinião pública poderá durar de três a cinco dias. Está marcado para começar amanhã, mas, como todo folhetim, pode haver uma reviravolta nos momentos finais: o pedreiro Gabriel dos Santos Neto, 32 anos, principal testemunha da defesa, não foi localizado. Com isso, o juiz poderá adiar o julgamento.

O Brasil inteiro está de olho no destino que sete jurados darão ao casal Nardoni. Não à toa. Trata-se de um drama típico e recheado de histórias de amor, ciúme, traição e assassinato. Tudo começou em 2001, quando Alexandre conheceu Ana Carolina de Oliveira, hoje com 27 anos. Namoraram dois anos e dessa relação nasceu Isabella Nardoni. Quando Ana Carolina estava grávida, Alexandre conheceu na faculdade outra Anna Carolina, a Jatobá, e engatou um romance paralelo. Quando Isabella nasceu em 2004, Nardoni já estava casado com Anna Carolina.

Mesmo morando com a mãe, Isabella se apegou à figura do pai e principalmente aos dois meios irmãos, Pietro e Cauã, ambos filhos de Anna Carolina. Assim, Isabella passava um fim de semana sim, outro não, na casa do pai para brincar com as crianças. Segundo um levantamento sobre o perfil psicológico do casal feito pelo Ministério Público, Anna Carolina ficava incomodada com a presença de Isabella dentro de casa. Sentia-se insegura com o laço que ligava o marido à ex-mulher. ;Anna Carolina é uma mulher fria e ciumenta. Discutia muito com o Alexandre. Numa dessas brigas, chegou a quebrar um vidro da janela;, relata o promotor de acusação, Francisco Cembranelli.

Ciúme
Ainda segundo a acusação, as cenas constantes de violência ficaram cada vez mais frequentes e fortes. Tinham como motivo ciúmes e uma dificuldade financeira enfrentada pelo casal. Tanto Alexandre quanto Anna Carolina não trabalhavam na época do assassinato e a mãe de Isabela ainda exigia um aumento na pensão de R$ 500 que o pai dava mensalmente para ajudar o sustento da família. ;O dinheiro é um fator preponderante, mas não decisivo para o crime;, diz o promotor.

Segundo a promotoria, ao voltar do supermercado, na noite de 29 de março, uma briga travada entre Anna Carolina e Alexandre Nardoni dentro do carro, testemunhada por Isabella e Pietro, foi o começo da sequência de cenas trágicas que selaram o fim da vida da menina e conduziram o pai e a madrasta à cadeia. Enciumada, Anna Carolina teria batido em Isabella até que ela desmaiasse. Já em casa, a menina teria sido esganada e jogada pela janela do sexto andar. ;Essas cenas não saem da nossa cabeça. Até hoje ninguém acredita que isso tenha acontecido aqui neste prédio;, conta a bancária Regina Sarmento, 42 anos, moradora do edifício London, na Villa Mazzei, em São Paulo, bairro que serviu de cenário para o drama de Isabella.

Como toda história que acaba em cenas emocionantes de tribunal, há duas versões para o crime. O casal de réus jura inocência e disse em depoimento que jamais faria mal a Isabella. O advogado dos dois, Roberto Podval, sustenta que uma terceira pessoa entrou no apartamento na noite do crime para assaltar, deu de cara com a criança e, num ataque de fúria, teria jogado a menina pela janela. Para provar essa tese, há uma testemunha, uma vizinha dos Nardoni, que diz ter ouvido a porta da escada de incêndio do prédio bater. ;Não cabe a nós apontar quem matou Isabella. Nossa função no tribunal será mostrar que meus clientes são inocentes;, afirma Podval.

Súplicas
Vizinho por vizinho, a acusação também vai levar ao tribunal uma moradora, Geralda Fernandes, 42 anos. Ela garante ter ouvido de dentro de casa uma discussão acalorada entre Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá momentos antes de Isabella ser jogada pela janela. A testemunha conta ainda que teria ouvido súplicas de uma criança dizendo ;para pai, para pai;. A acusação sustenta que teriam sido palavras do irmão de Isabella pedindo para Alexandre não matar a própria filha. ;O maior problema é que essa história virou um romance policial e a opinião pública precisa de um desfecho grandioso;, diz o jurista Joaquim Catarino.

Assim como toda história de forte apelo popular, o desfecho desse enredo terá celebridades na plateia. A novelista Gloria Perez, que teve a filha assassinada brutalmente em 1992, já garantiu o seu lugar como espectadora. Ela acha que sua simples presença deve ajudar a convencer o júri de sete pessoas comuns a decidir o destino do casal de réus. Considerado o julgamento do ano, o Tribunal do Júri do Fórum de Santana nunca teve tanto pedido de credencial. Só jornalistas foram 100. Porém, apenas 21 poderão ficar no tribunal. Os demais lugares, 56, serão disputados por estudantes de direito e familiares da vítima e dos acusados. Desse mundo de gente, apenas sete vão escrever o último capítulo na novela.

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