postado em 24/03/2010 17:05
O projeto da Usina Hidrelétrica Belo Monte é inviável do ponto de vista técnico e socioambiental, segundo representantes de movimentos sociais que protestaram hoje (24) em frente à sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) contra o financiamento público da usina a ser construída no Rio Xingu, no Pará.A antropóloga Cecília Mello, da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, classificou o projeto de Belo Monte de faraônico. Segundo ela, o projeto vai gerar pouca energia e vai demandar enorme investimento. A antropóloga afirma que os engenheiros das construtoras estão preocupados, pois não há garantias da viabilidade técnica da obra.
;Pesquisadores independentes e renomados de várias universidades brasileiras e internacionais analisaram o projeto e seus impactos ambientais e comprovaram que dos 11.181 megawatts de potência da hidrelétrica, apenas 39% de energia seriam gerados, pois o Rio Xingu tem uma vazão que varia 20 vezes ao longo do ano e a época da cheia dura apenas quatro meses. Estamos falando de cerca de R$ 35 bilhões que poderiam ser investidos em diversas alternativas energéticas.;
Tanto a Eletrobrás quanto o Ministério de Minas e Energia (MME) rechaçaram as afirmações dos ambientalistas, informando que o governo cumpriu todas as etapas legais para a construção da Usina de Belo Monte. Lembram, inclusive, que o leilão da hidrelétrica está marcado para o próximo dia 20 de abril.
A representante do Movimento Xingu Vivo para Sempre, Renata Soares Pinheiro, disse que cerca de 140 quilômetros do leito do rio vão praticamente secar com o desvio das águas do Rio Xingu para gerar energia.
;Nesse trecho existem milhares de famílias ribeirinhas, três terras indígenas. Nos documentos do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], essas populações ribeirinhas que vivem abaixo da barreira não são consideradas como impactadas pelo projeto, então elas não têm direito a nada.a;
Ainda segundo Renata, os pareceres técnicos identificaram riscos de que não haja condições de garantir a navegabilidade do rio e a manutenção da qualidade da água que são a base da vida dessas populações locais. ;Mais de 75% dessas populações vivem dos peixes e há espécies deste trecho do Rio Xingu que tendem a desaparecer.;
Cecília Mello acredita que o projeto só seria lucrativo para os investidores caso fosse construída uma segunda barragem em Altamira para manter uma vazão alta, plano inicial que foi modificado por pressões sociais.
;Do ponto de vista socioambiental seria um desastre sem precedentes, pois estamos falando de um corredor verde no meio da Amazônia que vai receber um contingente populacional atraído pela hidrelétrica e a pressão populacional na região será incontrolável o que pode provocar o desmatamento e a destruição da floresta.;
Para ela, o crescimento econômico defendido pelos governos deve ser questionado pela sociedade brasileira.
;Precisamos pensar para quê e para quem servirá esse desenvolvimento. Essa energia será gerada para quem? O estudo de impacto não define a linha de transmissão, não sabemos para onde vai essa energia. Estamos falando de um ciclo insustentável de desenvolvimento e a sociedade precisa debater se o Brasil precisa realmente desta energia.;