postado em 25/03/2010 07:00
São Paulo ; O terceiro dia do julgamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados de matar a menina Isabella, 5 anos, filha de Alexandre, presenciou o depoimento mais contundente até agora, o de Rosangela Monteiro, perita que comandou os trabalhos no apartamento em que Isabella foi assassinada, em 29 de março de 2008. Ao contrário da delegada Renata Pontes, que até gaguejou ao depor na terça-feira, Rosangela foi firme o tempo inteiro e se saiu bem até quando foi confrontada por uma das maiores especialistas em perícia criminal, Roseli Soglio, contratada pela defesa para confrontar Rosangela. ;Alexandre Nardoni jogou Isabella pela janela com requintes de crueldade;, disse a testemunha, de maneira firme.Rosangela usou palavras duras ao descrever o que aconteceu no apartamento dos Nardoni. Disse que a maior prova que incrimina o pai de Isabella são as marcas da tela de proteção encontradas na camisa dele. A defesa rebateu dizendo que essas marcas foram feitas porque ele teria se debruçado sobre a tela para ver a filha caída no chão. Rosângela mostrou em testes que as marcas só ficariam na roupa se a pessoa que se debruçou sobre a tela estivesse segurando aproximadamente 20 quilos. ;Não tenho a menor dúvida que Alexandre jogou a criança pela janela;, ratificou.
A perita assegurou ainda que Isabella chegou ferida ao apartamento e que, apesar de o casal ter tentado modificar a cena do crime, ;o apartamento dos Nardoni foi um dos locais onde ocorreu um dos crimes mais preservados em 20 anos de profissão;. ;As maiores evidências estavam todas lá;, ressaltou a perita.
O advogado de defesa, Roberto Podval usou ironia para tentar desqualificar o depoimento de Rosângela. Perguntou se o modelo usado para fazer os testes na camisa e na tela era parecido com Alexandre Nardoni. A perita olhou firme para o réu e disse com bastante firmeza: ;Agora que eu estou olhando com mais cuidado o réu, estou vendo que ele guarda bastante semelhança com o modelo;, disse a perita. Nesse momento, Nardoni esboçou indignação. ;Acho melhor mudarmos de assunto;, emendou Podval.
[SAIBAMAIS]O depoimento contundente de Rosângela durou quase cinco horas e foi decisivo para que os advogados de defesa dispensassem imediatamente oito testemunhas para acelerar o julgamento. A perita chegou a dizer que Alexandre foi cruel ao defenestrar (atirar violentamente pela janela) a própria filha. Logo depois, a defesa desistiu de ouvir aquele que era uma de suas testemunhas mais importantes: o pedreiro Gabriel Santos.
O testemunho de Gabriel ficou sem importância depois que o jornalista Rogério Pagnan disse no tribunal que o pedreiro havia contestado a informação publicada por ele de que o portão do canteiro de obras havia sido arrombado e, possivelmente, teria entrado a pessoa que supostamente jogou Isabella pela janela. A perita Rosângela sustentou ainda que não há qualquer vestígio de que uma terceira pessoa tenha entrado no apartamento. Em alguns momentos, em que Rosângela era interrogada por Podval, os dois jurados balançaram a cabeça para os lados em sinal de reprovação.
Ao serem dispensadas oito testemunhas de defesa, o veredicto do casal Nardoni deverá sair hoje à noite. A ideia de acelerar o julgamento partiu dos advogados de defesa. Na avaliação de Podval, os sete jurados estão visivelmente cansados e isso pode comprometer a sentença. Até ontem, no terceiro dia do julgamento, cinco testemunhas haviam sido ouvidas. Hoje, o julgamento será aberto com o depoimento dos réus.
Após a dispensa das testemunhas, o juiz Maurício Fossen resolveu encerrar o confinamento da mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, e da delegada Renata Pontes. No entanto, minutos depois de tomar a decisão, o juiz recuou e manteve Ana Carolina incomunicável, já que haverá uma acareação entre ela e Alexandre. O mais provável é que isso ocorra ainda hoje, depois de o tribunal ouvir os réus.
Capítulo 3
Revolta
Os advogados de defesa do casal Nardoni começaram ontem a ser hostilizados por populares na porta do Fórum de Santana, Zona Norte de São Paulo. Assim que chegou ao local do julgamento, Roberto Podval, advogado-titular da defesa, parou na porta e tentou cumprimentar jornalistas e populares, mas, aos poucos, começou uma vaia que foi ganhando adeptos, até que o advogado se irritou e sumiu porta adentro. Na volta do intervalo do almoço, Podval por pouco não foi atingido por um chute de um manifestante. Ao entrar no tribunal, ele foi vaiado por dezenas de pessoas e um tumulto teve de ser contido por policias militares. ;Ele tinha que ser espancado por causa da cara de pau de defender esses assassinos;, disse, exaltada, a dona de casa Maria do Carmo Gotino, 34 anos. A gritaria do lado de fora do fórum chegou a irritar o juiz Maurício Fossen, que preside o julgamento. Ele pediu que a segurança mantivesse os populares calmos, já que o som das vaias chegava até o salão onde é realizado o julgamento. ;Não temos como conter a manifestação popular;, disse o segurança Carlos Moraes.