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Júri de maior comoção popular dos últimos tempos termina com a condenação de Alexandre e Anna Carolina pelo assassinato de Isabella Nardoni

São Paulo ; Depois de cinco dias e quase 50 horas de julgamento, o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá ; pai e madrasta de Isabella Nardoni ; foram condenados pelo assassinato da menina de 5 anos atirada pela janela do sexto andar do edifício London em 2008. O júri considerou os dois culpados, mas as penas foram diferentes, pelo fato de Isabella ser filha de Alexandre. Ele pegou 31 anos e um mês de cadeia. Anna Jatobá foi condenada a 26 anos e oito meses de reclusão. Os dois ainda foram condenados por fraude processual, por terem alterado a cena do crime, o que rendeu mais oito meses a cada um.

Anna Jatobá e Alexandre Nardoni entraram no plenário, para ouvir a sentença, já algemados, o que levou boa parte dos presentes a desconfiarem que eles não conseguiriam a absolvição. Enquanto o juiz Maurício Fossen estava ainda nos agradecimentos, antes de anunciar o resultado do julgamento, Anna Jatobá começou a chorar copiosamente. Aos pratos, ela chegou a ser amparada por um oficial de Justiça. Alexandre permaneceu o tempo inteiro de cabeça baixa. Quando o magistrado informou a pena aplicada a ele, o advogado de defesa, Podval, foi até o cliente e disse algo ao seu ouvido ; provavelmente sobre alguma estratégia de recurso.

No momento em que o juiz pronunciou, pela primeira vez, as palavras ;condenado; e ;pena;, à 0h30 de hoje, uma gritaria junto com uma queima de fogos foi ouvida de dentro do plenário.

A avó materna de Isabella, Rosa Oliveira, também chorou, muito agitada, ao ter certeza da condenação. Entre a família Nardoni, a cara era de espanto a cada vez que Fossen relatava aumento na pena dos réus, devido a agravantes considerados pelo conselho de sentença. Em seguida, os parentes de Alexandre começaram a se abraçar. Do lado de fora, uma multidão em vigília aguardava o resultado desde as 22h. E vibrou quando foi confirmada a sentença do casal.

Os 26 anos a que foi condenada Anna Carolina Jatobá, no entanto, podem se transformar em pouco mais de 11 anos. Isso porque a progressão de regime, prevista em lei, permite a liberdade com apenas dois quintos do tempo cumprido. Isso sem contar os dias trabalhados durante a pena, que também reduzem o período no cárcere. O mesmo vale para Alexandre, que poderia sair de 31 anos de cadeia para 13.

O debate travado entre o promotor Francisco Cembranelli e o advogado de defesa Roberto Podval foi decisivo para a sentença que condenou Alexandre e Anna Carolina. Foi o momento mais quente do julgamento e o que mais despertou a atenção dos jurados, que olhavam fixamente para os dois. Como em filmes hollywoodianos de tribunal, os dois usavam expressão corporal, ironia, voz impostada e procuravam não só convencer os sete componentes do júri como também emocionar. E, cada um a sua maneira, conseguiram.

Cembranelli começou o debate traçando o perfil do casal de réus e não economizou adjetivos para descrever o trabalho da perícia. Disse que as provas são ;arrasadoras;. Em seguida, olhou diretamente para os jurados e disse que querer ;justiça; e não ;vingança;.

Durante as duas horas que teve para falar, Cembranelli explorou bastante a personalidade de Anna Carolina com o objetivo de ;encaixar; a madrasta na cena do crime.

[SAIBAMAIS]Na primeira réplica, o advogado Roberto Podval chorou. Disse que o casal de réus representava o cotidiano dos brasileiros e que não havia uma prova incontestável contra os dois. Pediu para o jurado não cometer uma injustiça como ocorreu com os pais da menina inglesa Madeleine McCann, que desapareceu em Portugal, em 2003. A opinião pública, segundo ele, começou a acusar os pais, que foram investigados, e até hoje não acharam a menina e nem provaram que os pais mataram a própria filha. ;Colocaram a Anna Carolina como uma megera, um monstro, uma louca. Olhem para ela e me digam se ela seria capaz de matar Isabella, sendo mãe de duas outras crianças?;, perguntou Podval.

Cembranelli voltou e foi mais contundente. Disse que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá mataram Isabella de forma decisiva, a ponto de fazer todos os familiares dos réus chorarem sem parar. Ele chamou de ;mentirosa; a versão da defesa de que o pai entrou no apartamento e pôs a menina na cama para dormir. ;Não houve terceira pessoa;, frisou o promotor, mostrando detalhes da conta de telefone, provando que o casal fez diversas ligações no espaço de tempo em que chegaram ao apartamento e a menina foi jogada pela janela. ;Coube a um vizinho chamar o resgate para retirar Isabella do jardim;, ressaltou.

Na tréplica, Podval pediu que os jurados votassem pela inocência do casal: ;O que vimos aqui? Monstros? Não. Vimos o cotidiano do Brasil: uma família que briga, grita, fala alto, nada de diferente do dia a dia de todos nós;.