postado em 30/03/2010 08:36
São Paulo - Os advogados de defesa do casal Nardoni vão se reunir com familiares dos réus para saber se eles querem mesmo que seja protocolado no Tribunal de Justiça de São Paulo recursos pedindo um novo julgamento. Roberto Podval vai também ouvir Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. A ideia é descobrir se eles suportariam ser submetidos a outro júri, já que ambos saíram desgastados dos cinco dias em que durou o processo. Ele foi condenado a 31 anos e ela, a 26.
[SAIBAMAIS]Os defensores dos Nardonis também farão a consulta familiar porque precisam realizar novo acerto para os pagamentos dos honorários, já que o combinado era que os trabalhos da equipe do escritório de Podval terminariam com a sentença do Tribunal do Júri. Parte dos familiares da família Nardoni desaconselha o pedido de um novo julgamento por causa do desgaste emocional e da comoção que o caso desperta na sociedade. "Quando se trata de recursos, os advogados não podem perder nenhum. Têm de ir até o fim", ressalta o criminalista Antônio Gonçalves.
Segundo Podval, o novo julgamento poderá ser pedido com base numa lei que ainda estava em vigor na época em que Isabella foi assassinada e que dava o direito automático a um novo júri aos condenados a mais de 20 de prisão. Como essa lei caiu em agosto de 2008 e Isabella foi morta em março, os advogados preveem uma briga nos bastidores da Justiça de São Paulo. E mais: em outros casos semelhantes, a Justiça vem negando a formação de um novo júri. "Vou me reunir com a família dos Nardoni para ver qual alternativa é boa para eles. Será mesmo que eles querem um novo júri? Será que eles querem passar por isso?", questiona Podval.
Na saída da penitenciária de Tremembé, onde visitou o filho condenado, Antônio Nardoni disse que não desistirá de ver Alexandre solto. Mas deixou em dúvida se o melhor caminho seria mesmo pedir um novo julgamento. "Neste país é difícil acreditar em alguma coisa, mas nós acreditamos", ressaltou. Já os familiares de Anna Jatobá, que nem colaboram com os custos da defesa, já que passam por dificuldades financeiras, não quiseram comentar a possibilidade da realização de um novo julgamento.
É difícil achar um jurista em São Paulo que aposte em um novo julgamento. Para o advogado criminalista Robert Barbieri, desde 2008, quando a legislação foi alterada, nenhum novo julgamento foi realizado, mesmo que o crime tenha sido cometido antes da criação da nova lei. "Há muito tempo, os juízes reclamavam da realização de novos júris só porque a pena imposta é alta. Anular um julgamento como esse por causa desse argumento seria um retrocesso. Principalmente com a repercussão que o caso teve", ressalta.
O promotor Francisco Cembranelli também duvida que a Justiça mande Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá de novo para o banco dos réus. "A lei diz que um julgamento só pode ser anulado por uma instância se a decisão do júri for absurdamente contrária à prova dos autos. Não aconteceu. Temos condições de afirmar que este foi o primeiro e o último julgamento do caso Isabella", disse, convicto.
Dois anos da morte
No dia em que o assassinato de Isabella Nardoni completou dois anos, ontem, dezenas de pessoas foram visitar o túmulo da garota, que morreu assassinada pela madrasta e pelo próprio pai. A administração do Cemitério Parque dos Pinheiros, Zona Norte de São Paulo, onde a menina está sepultada, armou até um esquema de segurança especial para receber os visitantes.
A maioria das pessoas nem conhece os familiares de Isabella, mas deixa flores, cartas e brinquedos em cima da lápide. Alguns até choram a morte trágica da criança. %u201CNão precisa ter conhecido ela pessoalmente. Do jeito que essa menina morreu, com certeza deve ter virado um anjo%u201D, diz a dona de casa Maria José Briard, 38 anos.
Grande parte dos bilhetes deixados no túmulo deseja que Isabella descanse em paz. Na pequena lápide do túmulo, nem cabiam tantos vasos de flores e brinquedos. A administração do cemitério, ao fim do dia, recolhe as bonecas e bichos de pelúcias que são deixados pelos visitantes e doa para abrigos de crianças carentes.
Em volta do túmulo de Isabella, desconhecidos também travavam discussões sobre o julgamento. O vendedor Pedro Rolim, 33 anos, disse que estava em dúvidas. Foi o suficiente para esquentar o debate. "Se eles fossem inocentes, não levariam 26 e 31 anos de cadeia", rebateu Maria José. "Mas poderá haver outro julgamento", insistiu o vendedor. "Nunca", sentenciou a dona de casa.