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Temporal no RJ faz o maior número de mortos em consequência das chuvas nos últimos 44 anos

Joana Tiso
postado em 07/04/2010 08:04
Corpo de  Marcos Vinicius França, 8 anos, é resgatado pelos bombeiros no Morro dos PrazeresO carioca pensou ter vivido o caos durante o apagão e a falta de água em 2009, mas nada que se compare à maior enchente que se tem notícia no Rio de Janeiro, segundo o prefeito da cidade, Eduardo Paes. Entre as 20h de segunda-feira e as 8h de ontem, choveu cerca do dobro do esperado pelos meteorologistas para todo o mês de abril na cidade. Além de tumulto no trânsito, alagamento, pane nos transportes, serviços públicos parados e aulas canceladas, a tragédia maior: até as 21h de ontem, 96 pessoas morreram e 102 ficaram feridas em consequência do temporal, o maior número de vítimas na cidade nos últimos 44 anos.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, informou que os desabamentos em encostas foram a principal causa das tragédias. E aproveitou para criticar os governantes ;que, por demagogia, permitiram, no passado, que áreas de risco fossem ocupadas;. Cabral disse ainda que os transtornos no trânsito e os alagamentos das ruas são um problema menor diante das mortes. ;Você chega atrasado em casa, dorme fora... Tudo isso é horrível, mas nada é tão grave quanto perder vidas;, afirmou o governador, que decretou luto de três dias pelas vítimas.

Na tentativa de evitar mais mortos, uma orientação inusitada: o prefeito Eduardo Paes pediu que a população ficasse em casa ontem, até porque a chuva não deu trégua. E ele justificou, mais tarde: ;Isso ajudou muito a prefeitura;, assegurou Paes. A maior parte do comércio sequer abriu, aulas foram suspensas e o Judiciário fechou as portas. O pedido de Cabral foi contrário para quem mora em área de risco. ;Peço, pelo amor de Deus, que essas pessoas saiam e procurem centros sociais;, disse o governador. De acordo com a Defesa Civil, todas as encostas do Rio corriam ; e ainda correm ; risco de des[SAIBAMAIS]abamento.

Previsão de mais água


Se a situação no Rio, durante a noite de segunda e todo o dia de ontem já foi caótica, há uma chance de piorar hoje. ;Não vamos poupar esforços para resolver a situação, que ainda é muito crítica. É um risco enorme para qualquer pessoa tentar atravessar esses alagamentos. Vou trabalhar com a hipótese de ficar pior;, admitiu o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Isso porque o Instituto Nacional de Meteorologia divulgou que a previsão é de mais chuva para hoje.

Ontem, os rios e a Lagoa Rodrigo de Freitas (Zona Sul) transbordaram, a água chegou à cintura de quem se arriscava a pé e o trânsito deu nó na noite de segunda e na madrugada de ontem. Os mais precavidos preferiram dormir no trabalho. Outros, como o técnico em segurança Afonso de Andrade, demoraram quase dez horas para chegar em casa. Ontem, ele não conseguiu ônibus para trabalhar. ;Nunca vi um temporal desse. Na saída do trabalho, me avisaram para não pegar o trem. Tentei o ônibus. O trânsito parou e esperei mais duas horas por outro. Depois, tive que andar com a água no joelho em busca de um terceiro ônibus. Demorei oito horas e meia para chegar em casa;, contou Afonso, que deixou o trabalho às 17h, na segunda, e chegou em Copacabana (Zona Sul) à 1h30 da madrugada.

Muitos carros enguiçaram e complicaram ainda mais o tráfego. A economista Mariana Kusaka ficou uma hora e meia dentro do Túnel Rebouças por causa disso. O engenheiro químico Aristóteles Larios chegou em casa apenas ao meio-dia de ontem. Preso no engarrafamento desde as 20h de segunda, ele só conseguiu uma vaga para estacionar o carro às 6h da manhã e sair em busca de um ônibus ou táxi para completar o trajeto. A irmã, Michele, passou a noite procurando na internet o melhor caminho. ;Fiquei muito preocupada;, lamentou.

Até as 18h de ontem, a Secretaria Especial da Ordem Pública do Rio informou que já havia removido 113 carros deixados na rua. Ninguém será multado. A tempestade também afetou o abastecimento de luz. Além de ilhados, 13 bairros ficaram no escuro durante parte do dia, de acordo com a Light, concessionária de energia elétrica. No Humaitá (Zona Sul), algumas ruas viraram ;rios;, como a Viúva Lacerda. Foram 288 milímetros de chuva nas 24 horas mais pesadas do dilúvio. Até o início da noite de ontem, havia 1.410 desalojados.

Reféns da chuva
Conexão aquática


Após a recomendação do prefeito do Rio, Eduardo Paes, para que os cariocas não saíssem de casa, os moradores da cidade, entre eles personalidades, passaram o dia conectados à rede social Twitter para passar informações sobre os pontos alagados, comentar sobre o caos que inundou vários pontos da cidade e reclamar das autoridades. O apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, aproveitou o espaço para fazer um alerta: ;Se você mora no Rio: fique em casa. Escolas cancelaram aulas.

A defesa civil precisa que as ruas estejam livres de carros;. Os moradores também foram solidários. A artesã e moradora de Bonsucesso, Flávia Ferreira, por exemplo, além de registrar imagens do alagamento, passou informações para os colegas por meio do microblog.

Resgate 24 horas

Em meio ao caos, o resgate de vítimas pelos bombeiros serviu de alento. Durante todo o dia o trabalho foi árduo para tentar tirar dos escombros pessoas com vida. O iatista Torben Grael foi um dos heróis. Uma barreira caiu e arrastou um carro para dentro da casa do atleta, no bairro de São Francisco, em Niterói, na madrugada de ontem. Torben conseguiu resgatar a criança e a mãe com vida, mas o pai, que dirigia o veículo, morreu. Na tarde de ontem, a prefeitura de Niterói atualizou os números: pelo menos 48 mortos e 1.100 desabrigados.

Transporte zero

Na capital, segundo o prefeito Eduardo Paes, o Morro dos Prazeres, em Santa Teresa (Centro), foi uma das regiões mais afetadas pelo temporal, com casas destruídas e ao menos 14 mortes. Os cariocas que tentaram trabalhar sofreram para encontrar um ônibus, que praticamente sumiram da cidade. Segundo a Viação São Silvestre, que opera linhas circulares na Zona Sul, apenas 30% da frota operaram na manhã de ontem, já que motoristas e cobradores não conseguiram chegar às garagens.

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