Rodrigo Couto
postado em 08/04/2010 09:28
O deficit de médicos no interior do país e as cenas de prontos-socorros lotados em todas as regiões não significam que faltam profissionais no Brasil. Pelo contrário. Dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgados ontem em Brasília relevam que há uma má distribuição dos exatos 330.825 trabalhadores em todo o território nacional. De acordo com a entidade, a média nacional é de um ;doutor; para cada grupo de 578 habitantes, índice próximo ao dos Estados Unidos, que é de um para 411 pessoas. O levantamento, inédito, consolidado com dados coletados entre 2000 e 2009 (leia quadro), também mostra uma tendência de feminilização da profissão. Pelo menos 54% dos graduados inscritos no conselho, nos últimos nove anos, são mulheres.Na tentativa de minimizar os problemas causados pela concentração dos médicos nas regiões Sul e Sudeste, que juntas abrigam 72% (238.400) dos profissionais de todo o país, o primeiro secretário do CFM, Desiré Carlos Callegari, defende a adoção de eficazes políticas de interiorização do trabalho médico. ;O que foi feito até agora nesse sentido foram medidas paliativas para tentar distribuir esses profissionais no interior. É preciso criar uma carreira de Estado aos médicos;, afirma. Enquanto a maioria exerce medicina no Sul e no Sudeste, 17% (55.315) escolheram o Nordeste, 7% (23.528) optaram pelo Centro-Oeste e apenas 4% preferiram atuar no Norte (13.582).
Para o secretário de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Francisco Campos, a má distribuição de profissionais de saúde afeta todo o mundo, tendo um peso maior nas áreas mais pobres e carentes de profissionais. ;Mesmo regiões ricas têm pontos com baixa cobertura de profissionais e de serviços. O Brasil tem um número de profissionais de saúde considerado dentro da média. Temos adotado medidas para incentivar a fixação dos profissionais nas áreas mais remotas;, rebate. Uma das iniciativas citadas pelo secretário é o projeto que prevê a quitação de parte dos valores acumulados pelo Financiamento Estudantil (Fies) aos alunos de medicina que optarem pela inserção no programa Saúde da Família (programa Saúde da Família) em locais de escassez de profissionais.
Feminilização
Apesar de as pessoas de sexo masculino ainda representarem a maioria (61%) entre os médicos em exercício no país, o CFM constata que há uma feminilização da medicina. O reflexo dessa tendência já pode ser percebido entre os recém-formados inscritos no conselho: 54% são do sexo feminino. As evidências de que a área está cada vez mais feminina é visível nas salas de aula dos cursos de medicina. Em 2008, a Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), situada em Brasília, tinha 496 alunos matriculados, sendo 233 mulheres e 263 homens. No vestibular seguinte, naquele mesmo ano, dos 80 aprovados, 39 eram do sexo feminino e 41, do masculino.
Aluna do 5; ano de medicina da ESCS, Daniella Rodrigues, 25 anos, concorda com a tendência. ;É visível não apenas nas salas de aula, mas também entre os profissionais formados;, afirma. Douglas Fonseca, 22, encara com naturalidade o aumento do número de mulheres no mercado. ;Até nas calouradas dá para perceber que elas já são maioria;, confirma. O sexo masculino ainda é maioria na turma, mas no grupo de internos ouvido pela reportagem, quem manda são as mulheres. Tiago Freire, 28, Ana Carina, 24, Kamilla Graciano, 22, Mariana Reis, 22, e Waleska Palhares, 25, também integram o grupo de alunos que participam de aulas em regime de internato em Sobradinho.
Distribuição
A partir de dados coletados de 2000 a 2009, o Conselho Federal de Medicina (CFM) fez um mapeamento dos médicos no país.
A unidade da Federação com maior concentração de profissionais é o Distrito Federal (um para 297 habitantes), enquanto no Maranhão esse número é de um para 1.932 pessoas. Veja, abaixo, o
ranking com os cinco estados que apresentaram os melhores e os cinco com piores resultados.
Número de habitantes por médico
Melhores
Distrito Federal 297
Rio de Janeiro 376
São Paulo 411
Rio Grande do Sul 443
Paraná 538
Piores
Maranhão 1.932
Amapá 1.374
Piauí 1.160
Acre 1.118
Rondônia 1.053
Fonte: Conselho Federal de Medicina (CFM)