Luiza Seixas
postado em 08/04/2010 09:31
Baseado nos resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2007 e de avaliação feita por uma comissão de especialistas, o Ministério da Educação (MEC) divulgou ontem a abertura de processo para suspender a oferta de 570 vagas em nove cursos de medicina pelo país. Com a decisão, a Universidade Iguaçu (RJ) não poderá mais oferecer a graduação, e outras oito instituições - situadas no Distrito Federal, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Rondônia - terão que diminuir o número de vagas no vestibular. Isso porque, de acordo com o órgão, não apresentaram as melhorias exigidas pelo MEC ou as cumpriram parcialmente. Elas terão agora um prazo de 15 dias para apresentar defesa.
A medida, de acordo com o ministro da Educação, Fernando Haddad, foi tomada porque os cursos não estavam oferecendo as condições necessárias para a boa formação dos futuros profissionais. Ele descartou a ideia de que a decisão tenha sido tomada por causa da grande oferta de cadeiras no país. Atualmente, existem 181 cursos de medicina, nos quais são oferecidos anualmente 17 mil vagas. "A taxa de sucesso do curso de medicina é a mais alta. Dos que entram, 90% concluem a graduação. Formamos, em média, 12 mil (profissionais) por ano. E, mesmo assim, temos apenas um médico para cada mil habitantes. Precisamos de mais. Então, isso mostra que o nosso único objetivo é zelar pela qualidade do ensino", disse. No entanto, o ministro ressaltou que os alunos já matriculados não serão prejudicados.
Presidente da Comissão de Supervisão do MEC, o médico Adib Jatene argumentou que, do modo como a medicina estava sendo ensinada, seria impossível esperar qualidade. "Não dá para ter uma escola onde o número de alunos é maior que a possibilidade de treiná-los. Encontramos, por exemplo, os médicos sem acesso aos doentes e um corpo docente despreparado", disse.
O Correio tentou entrar em contato com todas as instituições atingidas pela decisão do MEC. A Universidade Iguaçu, que se encontra na pior situação, não se manifestou sobre as punições. O diretor geral da Faculdade de Medicina do Planalto Central (DF), Aparecido dos Santos, afirma que não recebeu nota técnica do ministério e garante que a instituição tomou as providências para melhorar a qualidade do curso. A Universidade de Ribeirão Preto alega que recebeu recentemente a visita dos especialistas, motivada pelo boicote dos alunos ao Enade em 2007. E que o relatório técnico comprovaria as boas condições de oferta do curso. A instituição salienta a confiança de que o resultado final da avaliação do MEC será positivo.
Já a vice-diretora da Faculdade São Lucas (RO), Eloá Gazola, se diz "surpresa", uma vez que o processo de reconhecimento do curso está em andamento e, segundo ela, a visita técnica do MEC ainda não tenha sido feita. A vice-diretora adianta que procurará a Secretaria de Educação Superior (Sesu) para esclarecimentos e possível reanálise do mérito da decisão do despacho.
Na mira do MEC
Confira quais instituições deverão ser penalizadas pelo não cumprimento ou cumprimento parcial de medidas de saneamento determinadas pelo ministério em cursos de medicina.
Curso a ser desativado e com suspensão de novos ingressos
Universidade Iguaçu, câmpus Nova Iguaçu (RJ):
oferecia 200 vagas anuais
Cursos com redução de vagas
Faculdade de Medicina do Planalto Central (Gama, DF): redução não definida %u2014 Centro Universitário de Volta Redonda (RJ):
redução não definida
Universidade de Ribeirão Preto (SP): redução não definida
Universidade Iguaçu, câmpus Itaperuna (RJ): deverá reduzir de 200
para 60 vagas anuais
Universidade de Marília (SP): deverá reduzir de 100
para 50 vagas anuais
Universidade Severino Sombra (Vassouras, RJ): deverá reduzir de 160 para 80 vagas anuais
Faculdades Integradas Aparício Carvalho (Porto Velho, RO): deverá reduzir de 80 para 40 vagas anuais
Faculdade São Lucas (Porto Velho, RO): deverá reduzir de 100 para 40 vagas anuais