Luiza Seixas
postado em 11/04/2010 09:14
As redes de ensino público de grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, são as mais afetadas pela superlotação de alunos. Municípios pequenos do Nordeste e Norte também apresentam indicadores problemáticos. No Distrito Federal, a realidade não é diferente. Os dados da educação mostram que a capital federal, junto com as cidades que a circundam, é uma das piores unidades da Federação na proporção entre a quantidade de estudantes e o número de salas de aula ; sempre muito acima do índice nacional. São, em média, 38,3 alunos em cada turma de ensino médio, enquanto a meta aprovada na Conferência Nacional de Educação (Conae) define em 30 a quantidade máxima para essa etapa. Se nada for feito, a situação pode se agravar a partir de 2016, quando o ensino obrigatório passará a ser de 4 a 17 anos. Hoje é de 6 a 14 anos.Tanto a demanda infantil quanto a do ensino médio preocupam os especialistas. Para se ter uma ideia, atualmente, 1,6 milhão de adolescentes, mais de 10% do total de meninos e meninas com idade entre 15 e 17 anos no país, estão fora da escola.
;Temos que nos preparar para receber essa população que agora terá de ser matriculada obrigatoriamente. Não só criando mais escolas, mas também investindo em formação de professores, em planos pedagógicos diferenciados;, destaca Maria do Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do MEC. Para ela, as soluções no setor são multidisciplinares. Subsecretária de Gestão Pedagógica e Inclusão Educacional da Secretaria de Educação do DF, Leila Pavanelli concorda. De acordo com ela, embora o DF tenha trabalhado nos últimos quatro anos para reduzir o número de alunos por turma, não houve uma mudança nos padrões de aprovação e reprovação. ;Uma série de outros pontos têm de ser mudados para melhores resultados;, disse.
Leila destaca, entretanto, a redução de turmas como um dos instrumentos para melhorar a educação. A subsecretária esbarra, porém, em um problema prático. ;De que adianta ter um número menor e não atender à demanda de matrículas? É preferível que tenhamos um número maior de estudantes, acolhendo a necessidade da população;, defende. Ela afirma que, se o DF seguir as metas aprovadas na Conae, muitos alunos vão ficar fora da escola.
Mesmo dilema vive Neilton Nunes, superintendente de Gestão da Educação Básica de Alagoas ; estado com índices bem elevados de alunos por turma. Ele destaca que os problemas são estruturais, como falta de espaço, de profissionais de educação, de equipamentos, mas também briga por verba.
Segundo Neilton, muitos municípios ;seguram; os alunos por conta dos recursos do Fundeb ; calculados com base no número de matrículas. ;Acontece de termos vagas na rede estadual, mas a secretaria municipal não querer encaminhar o estudante;, conta. Segundo o superintendente, no interior alagoano, há situações críticas. ;Você vê turmas de ensino fundamental com 70 alunos. Como um professor pode desenvolver um bom trabalho com um grupo tão grande?;, questiona, lembrando que seu estado tem resoluções delimitando número máximo de alunos por sala de aula, mas não as cumpre. A Secretaria de Educação de São Paulo, outra unidade da Federação com péssimo desempenho no quesito, afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que não iria se pronunciar sobre o assunto.
Outros fatores
Maria do Pilar, do MEC, chama a atenção para a importância de fatores como idade, tamanho do espaço físico e o próprio programa pedagógico adotado com a turma. Tais aspectos, de fato, fazem a diferença na Escola Classe 316 Sul. Embora haja turmas de 4; série com 35 alunos ; enquanto a meta traçada na Conae para essa etapa é de no máximo 20 ;, a sala ampla e os recursos disponíveis, como laboratório de informática e oficinas no contraturno, ajudam a professora Rita Campos.
;O perfil dos estudantes conta muito também. São todos meninos interessados, com nível muito bom de conhecimento e, principalmente, disciplinados;, brinca a docente. A sapeca Giovana Rosa Borges, de 9 anos, não reclama da quantidade excessiva de colegas. ;É ruim porque às vezes eu quero chamar a tia e eles fazem muito barulho. Mas eu gosto de ter vários amigos;, afirma.
Para a professora Márcia Gonçalves de Sousa, a realidade é um pouco diferente. A escola em que leciona, em Ceilândia Norte, é bem cuidada, mas a sala em que dá as aula a 32 alunos do 3; ano do ensino fundamental corresponde a cerca de um quinto do espaço na Escola Classe 316. As carteiras dos alunos ficam bem próximas umas das outras e o vão entre a primeira fileira de estudantes e o quadro é pequeno. Nem por isso Márcia descuida dos enfeites no mural e quadro, sempre bem coloridos.