Jornal Correio Braziliense

Brasil

Moradores do bairro do Planalto, na zona Oeste de Natal, temem deslizamentos de terra com as chuvas

Andrielle Mendes

Especial para o Diário de Natal <--# GFO FIM OLHOASSINA GFO #-->

Quem assiste no noticiário nacional as consequências dos deslizamentos de terra e pensa que essas cenas só ocorrem no Rio de Janeiro, está enganado. No bairro do Planalto, na zona Oeste de Natal, moradores temem que as chuvas fortes provoquem novos deslizamentos e aterrem as casas como ocorreu há alguns anos. A moradora Josefa Alves da Silva, 57, relembra o desespero dos vizinhos depois que parte das casas foram aterradas pelo barro e pelo lixo. "As pessoas saíram correndo de casa apenas com a roupa do corpo. As casas ficaram embaixo da terra. Só os telhados ficaram de fora. Hoje, nos locais onde você só vê mato, existiam várias casas", explica.

Diante do perigo iminente e ao mesmo tempo silencioso, Josefa perde as noites de sono. Permanece acordada - vigilante. As chuvas do início da semana foram interpretadas como um sinal de alerta pela mulher, que há 14 anos mora numa casa no Planalto. Segundo ela, poucos minutos de chuva foram o bastante para alagar a ruainteira, invadir casas e provocar pequenos deslizamentos de terra. "A gente até aumentou o batente aqui de casa, mas não teve jeito. Só nessa chuvinha que deu, a água entrou aqui em casa. Fiquei com medo de perder um "caquinho" de geladeira que eu tenho. Tenho medo de dar outro pé d;água como deu anos atrás e acontecer tudo de novo".

O medo de Josefa é o mesmo sentido pela dona de casa Angela Pereira do Nascimento, 27, que vê, aos poucos, a terra do morro aterrar o quintal e se aproximar da sua casa. "Não vejo muito televisão, mas acompanho o que está acontecendo no Rio de Janeiro. Tenho medo de que aqui aconteça a mesma coisa". A mulher, que divide uma casa de poucos cômodos com o marido e o filho de 11 anos, também não dorme quando está chovendo. Atrás da pequena casa de alvenaria, o morro de lixo se ergue ameaçador. Recoberto de areia, metralha e mato, ele esconde em seu interior pneus velhos, garrafas plásticas, vidro e papelão. "Quem vê de longe, pensa que é um morro normal. Mas quem mora perto, sabe que é lixo".

Em cima do morro, a marca da erosão mostra exatamente o caminho traçado pela água da chuva e pela terra que desce sorrateiramente em direção às casas. Cercas improvisadas com tábuas e pneus velhos tentam, em vão, barrar o avanço do morro. O Planalto acaba sendo um retrato da contradição. Antes, eram os moradores que avançavam contra o morro.

Hoje, é ele quem avança contra as residências. O motorista José Vitor Sobrinho, 68, mora no local há 22 anos e confirma que há alguns anos a barreira de lixo "torou" devido à força da água e aterrou várias casas no local. Vitor nem precisa acompanhar a previsão meteorológica para compreender que chuvas mais intensas aumentariam o risco da mesma cena se repetir. "Lembro que muitos moradores sairam daqui naquela noite", narra. O auxiliar de pintura André Luiz, 26, é um dos moradores que só não deixou o local por falta de oportunidade. "Medo a gente tem, mas eu vou fazer o quê? A gente mora aqui, porque não tem outro lugar para morar", justifica-se.