Luiza Seixas
postado em 17/04/2010 11:20
As filas nos postos de saúde do Distrito Federal confirmam a preocupação do Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que nesta semana lamentou ser ainda baixa a adesão de grávidas e doentes crônicos à imunização contra a influenza A (H1N1), a gripe suína. No Centro de Saúde n; 8 da Asa Sul, nos últimos cinco dias, dos 1.855 vacinados, apenas 28 eram gestantes e 189, portadores de doenças crônicas. Um número muito pequeno e inesperado, de acordo com a gerente do centro, a médica Jussara Coelho.Para a especialista, essa parcela da população ainda está receosa. E a razão é simples: os médicos normalmente não recomendam vacinas às mulheres grávidas justamente para não haver qualquer complicação com o bebê ; as únicas vacinas a que estão acostumadas são contra o tétano e a hepatite B.
;No caso da H1N1, não tem nem o que discutir. É preciso vacinar. Elas estão correndo um risco muito grande com a gripe. Eu sei que o medo existe por ser uma coisa nova, mas é desnecessário. Perigoso é ficar sem a vacina;, explica Jussara. Em relação aos portadores de doenças crônicas, a médica acredita que o maior medo deles é em relação a uma resposta alterada. ;Para esses pacientes, eu recomendo uma orientação médica e exames prévios para saber se o sistema imunológico está preparado para receber a vacina. Mas não sabemos de casos com uma resposta alterada;, completou.
Essa baixa procura explica os mais recentes números divulgados pelo ministério. Da meta esperada pelo órgão de vacinar cerca de 3 milhões de gestantes e 3 milhões de crônicos, apenas 51,1% e 48,5%, respectivamente, foram atendidos. Enquanto todos os outros grupos das primeiras etapas, como os das crianças de seis meses a dois anos e o dos profissionais de saúde, já atingiram o esperado, ou seja, 80%.
;Isso nos preocupa muito, pois dos 50 óbitos registrados em 2010, 16 foram de grávidas. Estamos cogitando a hipótese de que elas estão esperando até a última hora, já que podem se vacinar até 21 de maio, mas não recomendamos isso. Estamos vivenciando um inverno antecipado, o que faz com que as pessoas se aglomerem mais e aumente o risco de pegar a gripe;, disse o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Gerson Penna.
Para ele, se a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) está reafirmando as palavras do órgão, não há motivo para receios. ;Quanto mais cedo se proteger, melhor para todos;, completou.
O presidente da Comissão de Obstetrícia da Febrasgo, Coríntio Mariani Neto, lembrou que, se a doença já é vista como grave para toda a população, esse ponto aumenta quando se trata de grávidas, pois elas apresentam, geralmente, imunidade mais baixa. ;Pior será esperar pegar a gripe e apelar para o remédio. Pode ser tarde demais. Nem sempre ele age de forma eficaz. E a vacina a gente sabe que já imuniza;, explicou Coríntio.
Esse receio em relação à imunização está presente em quase todas as gestantes. No começo da campanha, a grávida Deise Glaura de Oliveira, 33 anos, disse que ficou com medo, pois foram vários os e-mails que leu contra a vacina. Mas, para não se prejudicar, pediu a opinião de seu médico. ;Ele deixou claro que todos esses comentários eram feitos por pessoas ignorantes, que deviam ler mais sobre o assunto. Fiquei mais tranquila e decidi me vacinar;, disse.
;Eu sei que tem muita gente com medo, mas é melhor evitar uma doença grave. E, desde que eu descobri, recentemente, que estava grávida, meu obstetra vem recomendando a vacina;, afirmou Amanda de Carvalho, 27 anos, que também está grávida e foi vacinada na última terça-feira.
Tira-dúvidas
O que é influenza A (H1N1)?
É uma doença respiratória aguda, causada pelo vírus pandêmico (H1N1) 2009. Esse novo subtipo do vírus da influenza, do mesmo modo que os demais, é transmitido de pessoa a pessoa, principalmente por meio da tosse ou espirro e do contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas.
Qual a diferença entre a gripe comum e a influenza pandêmica (H1N1) 2009?
Elas são causadas por diferentes subtipos do vírus influenza. Os sintomas são muito parecidos e se confundem: febre repentina, tosse, dor de cabeça, dores musculares, dores nas articulações e coriza.
Se o processo de desenvolvimento de uma vacina costuma ser longo, como foi possível produzir a vacina pandêmica tão rapidamente?
Os laboratórios já tinham experiência com a produção da vacina contra os vírus de influenza sazonal (vacina administrada anualmente nos idosos no Brasil), e investiram em tecnologia para preparar a vacina preventiva do vírus pandêmico. O Brasil, por exemplo, fez investimentos na adequação do processo de produção pelo Instituto Butantan.
A vacina usada no Brasil é segura e efetiva?
Ela já está em uso em outros países e não tem sido observada uma relação o seu uso e a ocorrência de eventos adversos graves. A vacina registra uma efetividade média maior que 95%. A resposta máxima de anticorpos é observada entre o 14; e o 21; dia após a vacinação.
Por que não haverá vacinação de toda a população?
A vacinação em massa para a contenção da pandemia não é o foco da estratégia estabelecida para o enfrentamento da segunda onda pandêmica em todo o mundo. Por um motivo simples, essa contenção não é mais possível em todo o mundo. Além disso, não há disponibilidade do produto em quantidade suficiente para atender toda a população do mundo. Há, também, a limitação da capacidade de produção por parte dos laboratórios produtores para entrega antes do início da segunda onda nos países do Hemisfério Sul.
Por que vacinar a gestante, se não há indicação da vacinação desse grupo com a vacina da gripe comum (sazonal)?
Não há contraindicação à vacinação de gestantes com a vacina usada contra a influenza sazonal (gripe comum), mas ela não é feita nas campanhas anuais por se priorizar um grupo de maior risco ; a população acima de 60 anos. As gestantes, porém, são consideradas grupo de risco para a influenza pandêmica H1N1.
Não há, portanto, risco para a gestante e para o feto?
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e de acordo com os padrões de segurança declarados pelos laboratórios produtores, a vacina é segura para a gestante. Não há evidências de que possa causar dano ao feto ou afetar a capacidade reprodutiva, ou, também, sobre a ocorrência de aborto nos países em que foi administrada.
A vacinação da grávida é feita em qualquer idade da gestação?
Sim. Como será usada a vacina que não contém o adjuvante, ela é indicada para qualquer idade gestacional. A vacina que contém o adjuvante só poderia ser administrada a partir do 2; trimestre da gravidez. O Ministério da Saúde optou, então, por vacinar a gestante somente com a vacina sem adjuvante para não atrapalhar a operacionalização da vacinação e evitar que qualquer intercorrência na gestação de mulher inadvertidamente vacinada antes do 2; trimestre da gravidez com a vacina que contém o adjuvante viesse a ser atribuída à vacina.
Por que vacinar portadores de doenças crônicas?
Na pandemia de 2009, dentre os casos de SRAG pelo vírus influenza H1N1, observou-se um alto percentual de pessoas com doenças crônicas. Os portadores de doenças respiratórias crônicas, por exemplo, foi o de maior frequência, com 24,4% dos registros, seguido das doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas. Essas situações caracterizam pessoas que precisam de proteção por já se encontrarem em situação de vulnerabilidade.
Quem teve a gripe pandêmica e confirmação laboratorial deve tomar a vacina?
Sim. Quando uma pessoa é infectada pelo vírus influenza A, adquire imunidade para aquele subtipo específico de vírus que a infectou. Assim, quem já teve a gripe pandêmica, em princípio, está imune, embora haja registro de alguns casos que desenvolveram uma segunda infecção. A duração da imunidade pode variar de pessoa para pessoa, mas, no caso desse vírus sofrer mutação, um novo contágio poderá ocorrer.
Qual a incidência de efeitos colaterais até agora?
A OMS estima que foram distribuídas cerca de 80 milhões de doses da vacina contra a influenza pandêmica e, até o final de novembro, foram vacinadas aproximadamente 65 milhões de pessoas. A grande maioria do que vem se apresentando se assemelha à vacina sazonal administrada em idosos, que são reações leves: dor local, febre baixa, dores musculares, que se resolvem em torno de 48 horas.
Na hipótese de o vírus persistir durante muitos anos, eu vou precisar me reimunizar?
Se não houver mutação do vírus, não será necessária a revacinação.