Brasil

Prefeito de Niquelândia pretende fatiar o município por causa da grande extensão territorial

postado em 18/04/2010 07:00
; Edson Luiz
Enviado especial

Niquelândia (GO) ; Quem chega a Niquelândia, a 228km de Brasília, se espanta com a qualidade de vida de seus moradores. Não há mendigos, o comércio é grande e variado. Os hotéis estão sempre lotados por turistas ou negociantes. Um dos motivos é o Lago Serra da Mesa, um dos mais belos do país. Mas a cidade não é só isso. Existe, fora da sede, uma outra Niquelândia, difícil de se administrar por causa da extensão e dos problemas. Por isso, o maior município de Goiás quer diminuir de tamanho e repartir com cidades vizinhas um pedaço de seus 10 mil km;.

Quando o prefeito de Niquelândia, Ronan Rosa Batista (PTB), quer visitar o distrito de Buriti Alto, ele faz uma maratona. ;Para se chegar na localidade, que faz parte de meu município, tenho que chegar antes a outras três cidades;, comenta Ronan. De Niquelândia, ele segue para Padre Bernardo, depois para Mimoso e, em seguida, para Água Fria. Cerca de 260km depois, chega ao distrito. ;Eu tenho que ir até perto do Entorno de Brasília e sem contar que, no caminho, existem cerca de 100km de serra;, observa o prefeito.

Esse é um dos motivos pelos quais Ronan pretende fazer uma revisão nos limites de Niquelândia, cuja extensão só perde para algumas cidades brasileiras e é superior a alguns países ; mesmo que se juntasse a extensão territorial de Andorra, Mônaco, Liechtenstein e Malta (países da Europa), Antígua e Barbuda, Barbados e Grenada (todos no Caribe), Ilhas Maldivas (Oceano Índico) e Palau (Pacífico), a área de Niquelândia ainda seria três vezes maior. Além disso, na região caberiam seis cidades de São Paulo, que tem pouco mais de 1,5 mil km;.

Com uma arrecadação mensal de R$ 6,5 milhões, o prefeito afirma que muitas localidades ficam muito distantes da sede, o que dificulta a chegada do Estado, principalmente nas áreas de educação e saúde. ;Sem uma revisão dos limites fica inviável administrar;, afirma Ronan. O assunto, segundo ele, deverá ser discutido com o governo estadual, mas o prefeito ainda não definiu de que forma isso pode ocorrer.

Crise financeira

Niquelândia vive da Bolsa de Valores de Londres, que define o preço do minério no mercado internacional, já que o município tem a maior produção de níquel (por isso o nome) do país. E esse também foi um dos motivos que causou um dos maiores problemas sofridos pela cidade em seus 275 anos de existência. A crise financeira internacional que atingiu o mundo no ano passado também chegou a Niquelândia. ;Quando houve a crise, as duas empresas que operam na cidade pararam;, afirma o prefeito. Com isso, quatro mil pessoas foram demitidas e as vagas ainda estão sendo preenchidas cautelosamente.

O tamanho da cidade fica evidente no número de veículos escolares: 114 ônibus. A maior parte é utilizada na zona rural, levando crianças para as escolas dos 10 distritos espalhados pelos 10 mil km; de Niquelândia, e onde está uma população de 12 mil pessoas. Ao final do dia, eles percorreram 21 mil km de estradas. ;É a única frota no Brasil que faz um percurso desses;, observa o prefeito. ;Não temos um município normal. Existe, por exemplo, uma distância muito grande entre nossas escolas e isso tem que ser revisto.; Além da precariedade das estradas vicinais, a prefeitura terá que refazer pelo menos 270 pontes para melhorar o acesso aos locais mais distantes.

Com uma população de 40 mil pessoas, Niquelândia nasceu por meio do bandeirante Manoel Rodrigues Tomás, em 1735, mas só ganhou o nome na década de 1930, quando houve a descoberta de grandes fontes de níquel na região. Além do mineral, existe a perspectiva da existência de ouro, o que levou a Vale do Rio Doce a iniciar um processo de pesquisa em serras próximas ao município. Com isso, antes da crise financeira mundial, Niquelândia chegou a receber mais de seis mil novos moradores, trazidos pelas empresas mineradoras. Dessa forma, os aluguéis dobraram. Muitas pessoas locavam suas propriedades e mudavam para residências de parentes, por causa dos altos valores. Mas isso é passado e, hoje, a prefeitura quer redirecionar o desenvolvimento para o turismo no Lago Serra da Mesa e em eventos religiosos, como em Muquém, para onde se destina uma peregrinação anual de 45 km, saindo de Niquelândia.

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