Brasil

Belo Horizonte tem 3,8 mil casas em áreas de alto risco

Ernesto Braga, Estado de Minas
postado em 19/04/2010 16:23
Com 37,6 quilômetros de canal, o Ribeirão Arrudas atravessa Belo Horizonte (MG), onde cerca de 471 mil pessoas moram em áreas de risco geológico. Mais de 15 mil ocupam 3.789 edificações construídas em locais considerados de risco alto ou muito alto. A maior concentração dessas residências fica na margem direita do Arrudas, parte da capital em que quase a totalidade do solo é formada de filito. Em contato com a água, esse tipo de rocha se decompõe e vira argila, o que agrava a possibilidade de movimentações de terra, desmoronamentos de encostas e inundações no período chuvoso. Com 798 imóveis, a Região Leste é a mais perigosa, seguida da Oeste (765), Centro-Sul (627) e Barreiro (652).

O último diagnóstico da situação de risco geológico das vilas e favelas feito pela Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), finalizado no ano passado, apontou o Bairro Taquaril, na Região Leste, como o mais problemático: são 342 moradias em local de risco alto ou muito alto, barracos sem reboco construídos uns sobre os outros e que ficam dependurados nas encostas de filito. O Aglomerado da Serra, na Centro-Sul, tem 339 residências nesta situação. ;A decomposição do filito obedece ao tempo geológico, ou seja, estamos falando de milhões de anos. A rocha sofre intemperismo, que é a degradação e enfraquecimento com a ação da água, e se transforma em terra, o que deixa as áreas íngremes sujeitas a deslizamentos. É uma característica de todos os bairros que surgiram próximo a encostas;, explica o geólogo Friedrich Ewald Render, que durante 15 anos trabalhou no Instituto de Geociências (IGC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Bairros nobres da capital também ficam na margem direita do Ribeirão Arrudas, com edificações luxuosas erguidas ao pé da Serra do Curral, na Região Centro-Sul, paredão com 11 quilômetros de extensão formado de filito. O engenheiro civil Sidney Barradas, consultor em geotecnia e professor da PUC Minas, ressalta que, diferentemente do que ocorre nas vilas e favelas, a instabilidade geológica não compromete a estrutura dos imóveis construídos na cidade formal, uma vez que são respeitados todos os fatores de segurança apontados nas sondagens do solo. ;São feitas inspeções que apontam a estrutura necessária para erguer o prédio. O que ocorre nas favelas são ocupações generalizadas, com cada um construindo do seu jeito, recortando as encostas da sua forma;, disse.

Margem esquerda

O engenheiro civil e geotécnico Claudius Vinícius Leite Pereira, presidente da Urbel, destaca que a parte da cidade que fica na margem esquerda do Arrudas tem solo composto de granito gnaisse. Esse tipo de rocha também se decompõe com a ação da água, mas o solo apresenta menor risco de movimentação e deslizamentos. Pelo diagnóstico da companhia, a Região da Pampulha tem a menor quantidade de moradias em áreas de risco geológico alto e muito alto, com apenas 27 imóveis. Com 278 edificações, a Noroeste é uma das mais problemáticas neste lado da capital. ;Temos uma atenção especial com o Jardim Alvorada, o Coqueiral e a Vila da Paz;, disse Claudius Vinícius.

Ele ressalta que o número de residências em áreas de risco geológico alto e muito alto se reduziu 64% em relação ao levantamento feito pela Urbel em 2004, quando foram contabilizados 10.650 imóveis nesta situação, sendo 1.446 no Taquaril e 1.327 no Aglomerado da Serra. ;Uma das ações para reduzir esse problema é o Bolsa-Moradia e atualmente temos 1.400 famílias (5,6 mil pessoas) atendidas pelo benefício;, afirmou Claudius Vinícius. Segundo ele, a cidade tem 211 comunidades carentes, sendo 163 com risco geológico ; 111 alto e muito alto.

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